Conto de Fadas (2015) de Ed. Zahar

Estava com saudades desse meu canto… As últimas semanas foram enlouquecidas por uma nova casa, novo curso e outras coisas que eventualmente vou querer desabafar por aqui. Então, não vai demorar para descobrirem o que é. Também não tem muitos segredos, mas anyway, foi por causa disso que atrasei  vários posts. Para voltar à rotina, que tal uma resenha de livro? 😉
Acho que muitos já viram esse livro aqui ou ali. O nome já é chamativo para qualquer criança que um dia gostou de ler ou ouvir histórias. A edição em capa dura feita pela Zahar tornou o livro um item na minha wishlist de extremo desejo. Acho mais, este é um livro que deve estar presente em várias estantes por aí. Homem, mulher, criança ou adolescente, não importa, quem pensa que o livro só fala de fadas, sapatos de cristais e lobos malvados está enganado. Talvez, assim como eu, até ficaria perplexo com as barbaridades lidas, ou com o pensamento assustador de quão fundo a Disney mexeu com nossa memória.
Os contos são separados por autores:
✶ Charles Perrault (1628-1703): “Cinderela”, “Pele de Asno”, “O Gato de Botas”, “O Pequeno Polegar”, “Chapeuzinho Vermelho” e “Barba Azul”;
✶ Jeanne-Marie Leprince de Beaumont (1711-1780): “A Bela e a Fera”;
✶ Jacob Grimm (1785-1863) e Wilhelm Grimm (1786-1859): “A Bela Adormecida”, “Branca de Neve”, “Chapeuzinho Vermelho”, “Rapunzel” e “João e Maria”;
✶ Hans Christian Andersen (1805-1875): “A roupa nova do imperador”, “O Patinho Feio”, “A pequena vendedora de fósforos”, “A Pequena Sereia” e “A princesa e a ervilha”;
✶ Joseph Jacobs (1854-1916): “João e o pé de feijão” e “A história dos três porquinhos”;
✶ Anônimo: “A história dos três ursos”.
Sim, existe um conto repetido. Chapeuzinho Vermelho aparece duas vezes no livro, contada de duas formas diferentes, sendo que a segunda vez ela apresenta ainda um “final alternativo”. Pela data de nascimento dos autores, podemos ver que Perrault é tido como o autor original do conto, mas os irmãos Grimm dedicaram suas vidas aos estudos de história e linguística, recolhendo diretamente da memória popular as antigas narrativas, lendas ou sagas que foram conservadas pela tradição oral.
Enquanto a versão de Perrault apresenta o final trágico da morte da Chapeuzinho (revelando a moral de “mocinhas lindas, elegantes e finas não devem a qualquer um escutar”), a versão dos irmãos Grimm apresenta o caçador salvando a Vovó e a Chapeuzinho de dentro da barriga do lobo. Ainda “uma outra vez que Chapeuzinho encontrou um lobo“, as duas espertinhas não abriram a porta e ao tentar escalar pelo telhado o lobo morreu afogado dentro do cozido de salsichas da Vovó. Por que quem não gosta de finais “felizes” (não pra quem torce pelo lobo)?
Essas contradições e outras mais me surpreenderam. Só então percebi o quanto acreditei nas histórias da Disney que, como todos sabem, coloca sempre muita cor e felicidade onde nem sempre existe (não falaremos de Bambi, porque não consigo tocar nesse assunto ainda). Vocês sabiam que a Branca de Neve veste sapatos de ferro quente na madrasta e a faz dançar em público até morrer? Ou que as irmãs da Pequena Sereia ficam carecas para ajudá-la à voltar pro mar?
E não para por aí! Claro que o livro contém certos contos que não sabia nem da existência ou conhecia somente o personagem sem saber ao certo de onde veio como o Barba Azul.
Para finalizar, cito Neil Gaiman no livro Coisas Frágeis 2, que li simultaneamente a este e, para minha surpresa apresentava um poema inspirado no conto Barba Azul (“A Câmara Secreta”) e outro inspirado no conto A História dos Três Ursos (“Cachinhos”), ambos contidos nesta seleção… Segundo Gaiman:

Devemos isto uns aos outros: contar histórias.

Como o livro possui tantos contos diferentes e sem ligação um com o outro, recomendo ler sem pressa entre outras leituras, mantendo ele como uma “leitura secundária”. Não atrapalha os afazeres do dia-a-dia, pode ser lido para crianças e entretém da mesma maneira um jovem adulto e nada melhor que passar para frente as versões originais das histórias que tanto nos marcaram!

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