Songs for You (2019) de Tinashe

Depois de sair da RCA Records – famosa gravadora musical -, Tinashe lançou, no dia 21 de Novembro de 2019, o seu quarto álbum de estúdio: “Songs For You”. Esse é o primeiro projeto da cantora produzido de forma independente pela sua própria marca, Tinashe Music Inc.

A artista foi desligada da gravadora depois de terem cancelado o seu projeto de verão em 2018, uma mixtape intitulada “Nashe”. O motivo deste cancelamento foi a falha comercial dos dois singles lançados previamente – ou seja, os singles não venderam como o esperado pela empresa. Contudo, ao sair da RCA Records, Tinashe adquiriu maior liberdade artística. A própria cantora comentou que seus últimos projetos eram mais do interesse da gravadora do que dela mesma.

Por isso, considerando que as gravações do Songs For You aconteceram no estúdio caseiro da cantora, o material produzido de forma independente é tido como o mais íntimo, cru e emotivo dela. Além disso, ela afirma que esse álbum é o mais vulnerável que já fez em sua vida. É bem legal o que o total controle sobre o desenvolvimento de um projeto pode fazer, né?

Capa do Álbum

A cantora também quis se mostrar “fora do sistema” ao lançar o seu álbum numa quinta-feira. Daí você pode pensar, o que tem de revolucionário nisso? Bem, para quem não sabe, os lançamentos de álbum na indústria musical acontecem praticamente sempre nas sextas-feiras.

Pelo menos, mesmo sem o apoio de gravadoras, o Songs For You chegou ao topo do iTunes de diversos países – incluindo os EUA – em sua noite de lançamento, fazendo de Tinashe a primeira artista independente a fazer tal feito desde o álbum “Blonde” de Frank Ocean em 2016.

Até o momento, a promoção de Songs For You conta com 5 singles. O primeiro, “Die A Little Bit”, e o segundo, “Touch & Go”, foram lançados antes da estreia do álbum. Já o terceiro single, “So Much Better”, foi lançado simultaneamente ao projeto completo. Em sequência, temos o single “Stormy Weather” e, por fim, o single atual: “Save Room for Us”.

O álbum conta com 15 faixas em sua tracklist:

1 – Feelings
2 – Life’s Too Short
3 – Hopscotch
4 – Stormy Weather
5 – Save Room for Us (feat. MAKJ)
6 – Story of Us
7 – Die A Little Bit (feat. Ms Banks)
8 – Perfect Crime
9 – Cash Race
10 – Link Up
11 – Touch & Go (feat. 6LACK)
12 – Know Better
13 – You
14 – So Much Better (feat. G-Eazy)
15 – Remember When

Ao traduzir o título do álbum “Songs For You” para o português, temos “Músicas para Você”. Mas pra quem seria? A faixa “You” nos dá a resposta. Nessa faixa não há instrumentais nem cantoria, Tinashe literalmente só fala:

All these songs for you baby. You know who you are

Em português:

Todas essas músicas são para você, baby. Você sabe quem você é

Eita, por essa faixa, que está quase no final do álbum, você já pode perceber que o álbum todo foi dedicado a uma pessoa específica – de um relacionamento que marcou a vida da cantora de maneira bem forte. Provavelmente, Tinashe dedica tudo para o australiano Ben Simmons, um jogador de basquete que ela teve um relacionamento de 2 meses, mas a afetou profundamente. Contudo, a gente também pode dizer que as canções são para os fãs, que finalmente vão poder ouvir um projeto de sua ídola em sua forma mais crua e vulnerável.

O álbum conta com 3 faixas descartadas de “Nashe”, o projeto cancelado de Tinashe: “Feelings”, “Cash Race” e “Link Up”. Todas as 3 faixas são recheadas de R&B e trap – misturando vocais cantados e falados (rap) -, estilos base para todo o álbum.

Um fato interessante sobre “Cash Race” e “Link Up”: ambas são músicas que contém uma outra música. Confuso, né? Vou tentar explicar melhor. Na metade da faixa “Cash Race”, a melodia e o tom da música mudam e a faixa fica bem diferente, ela se torna a música “All Eyes on Me”. No caso de “Link Up” acontece a mesma coisa, a faixa se torna “Naked”. Isso pode ser um ponto negativo para alguns ouvintes do álbum, até porque as músicas transitam para algo inesperado, o que é fora do comum em produções pop.

Algo mais inesperado acontece na faixa “Know Better”, inclusive é um destaque para o álbum. A canção é um pop eletrônico bem animado (que me lembra algumas produções de Ariana Grande), mas se transforma em uma balada bem calma e introspectiva na metade, nomeada “Did You Notice?”. Isso que é mudança forte! Você se joga na pista de dança e depois chora no seu quarto. Por ter duas faixas em uma só, essa aqui tem quase 7 minutos de duração, mas que valem a pena para mim porque ambas as partes são H-I-N-O-S.

Ainda, a letra de ambas são sobre a mesma coisa. Tinashe lutou para um relacionamento funcionar, mas a outra pessoa só desistiu. Ela quer amar, beijar e ter a pessoa colada ao lado dela, mas, ao mesmo tempo, a cantora tem noção que isso não é legal nem saudável, pois não é recíproco. Por isso, tenta fugir dessa vontade de ir atrás de um relacionamento que já acabou.

Alguns versos de “Know Better” são bem fortes – os vocais também -, e a vulnerabilidade e emoção da artista é bem notável. Acredito que várias pessoas vão se relacionar com os eventos sofridos pela cantora. Apesar de ter noção que é ruim ir atrás desse macho, Tinashe também não nega a vontade que ela tem de transar com ele. Por causa disso, tem umas canções beeeem sensuais. Amo.

“So Much Better” é um R&B com uma pegada meio reggaeton, e uns vocais e harmonias lindas no refrão. A letra é bem sensual e sexual também. A cantora é bem direta sobre a vontade de transar – e como ela transa bem melhor que a pessoa que o ex dela está atualmente. O ponto negativo da faixa é o artista convidado, “G-Eazy”. Acho o rap dele invasivo e nada sensual, mas pelo menos ele não estraga a faixa. Ainda assim, podia ser um solo da Tinashe.

Em “Life’s Too Short”, a cantora busca novamente transar com o seu ex porque a vida é curta demais, porque não podemos aproveitar? Sonoramente é um R&B bem sexy, com uns vocais bem leves, uma das minhas favoritas.

Com inspiração nos contos de fadas, “Story of Us” tem uma letra com referências a castelos e realezas, mas se torna uma faixa sóbria em alguns momentos por notar que não há “felizes para sempre”.

Em outros momentos do álbum, os vocais de Tinashe são voltados para algo parecido com o rap. Em “Hopscotch”, a cantora basicamente canta de forma falada a música inteira com batidas de música trap ao fundo. Já em “Die A Little Bit”, além dos vocais mais falados, há a adição de frases e algumas partes faladas, o que ao meu ver tira a continuidade da música e corta a curtição.

Contudo, o conteúdo de “Die A Little Bit” é bem interessante. A música mostra a cantora em uma situação problemática da vida, usando o álcool e as drogas para anestesiar toda a dor. Tinashe fez questão de afirmar que essa música não promove o uso de drogas, mas mostra como o abuso das substâncias é negativo, ainda mais quando se está com a cabeça cheia de problemas. Isso é notado pelo próprio título, festejar de forma exagerada e irresponsável te fazem “morrer um pouco”.

Sonoramente, é uma canção pra rebolar a raba, um batidão. E considero bem experimental, a estrutura musical é diferente. Não soa muuuito boa pros meus ouvidos, acho que é experimental demais, mas dá pra rebolar mesmo.

Outra canção experimental é “Stormy Weather”, mas essa deu certo pra mim. É um R&B com uma pegada eletrônica/house que tem um instrumental não convencional. É diferente, mas é um destaque. E olha, a guitarrinha linda no final é outro destaque. O clipe ainda mostra a Tinashe dançando pra caramba.

Quem não gosta de um drama, hein? Tinashe em “Perfect Crime”, através de um pop sintetizado bem gostoso, diz que o seu ex-namorado cometeu um crime perfeito. Ele a matou quando o relacionamento acabou, deixando uma faca enfiada no peito dela. Ainda assim, ela se considera masoquista, porque o ama e quer mais. Dói, mas é bom. Esse sentimento ambíguo não é novidade, pelas faixas anteriores já notamos como a cantora sabe que tudo isso faz mal, mas isso não a impede de querer mais.

Seguindo em frente, vamos para “Touch & Go”. Com uma vibe leve e sensual, e vocais tops, a faixa fala sobre a artista tentar consertar um relacionamento quebrado mesmo que a outra pessoa não queira tentar. Semelhante a história de “Know Better”. Porém, essas intenções diferentes das duas pessoas resultou em um relacionamento “Touch & Go”, que seria transar/ou só ter contato físico e depois ir embora. Em outras palavras, um relacionamento sem conversa. Essa situação deve ter sido desgastante para Tinashe.

Já em “Save Room For Us”, a cantora tem certeza que eles vão voltar a ficar juntos no final da história, e que eles vão se amar profundamente, mas admite que dói vê-lo com outra pessoa. Provavelmente, Tinashe fala sobre o relacionamento de Ben Simmons, seu ex-namorado, com Kendall Jenner.

Mesmo sabendo que ele está namorando, Tinashe pede para que ele guarde espaço para ela, que o ama mais que ninguém. É bem sofrido, né? Mas essa faixa não é uma balada emotiva, é uma música dançante! Chorando na pista de dança, com certeza. Sonoramente é uma mistura de disco music com house, que é a especialidade do DJ, MAKJ, que produziu a faixa. Eu recomendo essa, é outro destaque.

Por fim, temos “Remember When”. Através de um acústico (só voz e violão), Tinashe relembra os bons momentos que ela teve no relacionamento que acabou. Apesar de todo o sentimento que ainda existe, essa faixa soa mais como um adeus. Ela sabe que amou, e quer deixar isso bem claro, mas opta por deixar toda essa história de lado, que infelizmente não aconteceu como o esperado, e seguir em frente. É algo bem massa para finalizar o álbum, não só pela vibe da música, como também pela mensagem.

Bem, depois de ver faixa-a-faixa, o que acho desse projeto como um todo? É um ótimo álbum para quem gosta de R&B, trap e hip-hop. Tinashe consegue nos entregar de maneira equilibrada faixas com diversos humores, transitando entre a sensualidade, a vulnerabilidade e a rebolada de raba.

Apesar da base estar no trap e no R&B, há influências de disco, house e eletrônico em algumas faixas, o que torna o álbum mais diverso, mas ainda coeso, sem se distanciar muito da sonoridade base.

O ponto negativo se encontra nos momentos de experimentação, que podem gerar faixas com coisas estranhas ou diferentes demais. Ainda, às vezes a experimentação e o “pensar fora da caixa” podem resultar em umas produções bem interessantes, o que é algo para ser valorizado. É legal quando um artista arrisca. Tinashe frequentemente brinca com as estruturas das músicas, tirando do clichê “Verso 1- Refrão – Verso 2 – Refrão – Ponte – Refrão”.

Também acredito que sair da RCA Records foi uma coisa positiva, pois a artista agora tem maior poder sobre suas produções, só espero que ela consiga lidar com a distribuição e a promoção para ter mais reconhecimento. Inclusive, considero Tinashe uma artista injustiçada. Compôs tudo – muitas vezes, sozinha – e produziu. Além disso, dança, canta pra caramba e tem plena noção de quem é e do que quer na indústria musical.

Sinto que “Songs For You” teve influências beeem semelhantes às de “Thank u, next” de Ariana Grande (resenha aqui), que é uma ótima comparação, mas que Tinashe conseguiu nos presentear com um projeto sonoramente mais maduro.

Finalizando, mostro aqui para vocês as minhas favoritas do álbum: “Life’s Too Short”, “Stormy Weather”, “Save Room for Us”, “Perfect Crime”, “Touch & Go”, “Know Better”, “So Much Better” e “Remember When”.

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