Começamos
Estávamos juntos sempre
Seus olhos me desejavam
Com aquela sede
Sentia isso na sua intensidade
Mas aos poucos
Os seus olhos
Mudavam de cor
Tornavam-se vermelhos
Como o sangue que escorria
Pelos meus olhos
Aos poucos
As chamas negras do ciúme
Corroíam o tecido fino da nossa relação
E deixam marcas negras
Na minha pele e no meu coração
Era todo dia
Perder um pedaço de mim
Para um romance que não tinha fim
A alma
Não aguenta
As algemas do medo
Quero me libertar
Dessa censura humana
Tão cívica, tão social
O banheiro em sua simplicidade
Abriu suas portas brancas
E aceitou minha lealdade
Para sempre voltar chorando aos
Seus braços fortes
As noites corriam
Como as lágrimas do meu rosto
Se perdiam no lamento silencioso do mundo
Mas tristemente
O meu último amante
Foram as escadas de amianto
Os degraus seguravam o meu corpo
Com a piedade de um anjo
Minha alma subia ao céu
E se tornava mais uma estrela brilhante
Do céu das estatísticas
Que incrustam o céu azul
Da bandeira verde e amarela
Que seguravam a faixa escrita “Desordem e Regresso”.
Bem forte, principalmente para quem já viveu um relacionamento abusivo!
E parabéns pelo trabalho, pois está muito bem escrito.
Muito obrigado, Mel! É sempre importar lembrar disso e as artes tem esse poder de dizer tudo e mais um pouco.
Olha só que genial, esse poema tem muitas interpretações. Comecei pensando em um relacionamento abusivo e acabei dando de cara com a atual política escrota do Brasil (pelo menos do meu ponto de vista hehe). Gostei bastante! Não é apenas para ler, é para pensar <3
É uma ótima perspectiva na qual pegou o poema, a ideia era essa mesma criar um jogo de palavras e sentidos. Obrigado pelo elogio!
Que poema, nossa imaginei um relacionamento abusivo que no fim mostrou o retrato do atual estado do nosso país com esse desgoverno. Arte com poderamento crítico é afrodisíaco
Obrigado, Litera_amor1.0, fico feliz que meu texto trouxe essa reviravolta.
Seus poemas sempre trazem uma crítica e retratam bem a nossa realidade! No começo achei que só falava de um romance e no final me surpreendi com uma crítica ao governo! Sensacional!
Agradeço ao comentário, Estampado. Sim, uma crítica presa no meio de uma história de tantas “Marias” do Brasil