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A possibilidade de viajar no tempo sempre fascinou o homem. A literatura se encarregou de imaginar as diversas possibilidades de nos transportarmos para o passado ou o futuro. Mas e se essa volta no tempo fosse algo fora do nosso controle? Uma ação sem momento certo para ocorrer e que colocasse nossa vida em risco seria tão fascinante assim? Um cenário como esse compõe a temática excepcional de “Kindred”, da consagrada Octavia E. Butler, considerada uma das damas da ficção científica norte-americana.
O próprio início de “Kindred” é bem peculiar, já que a autora opta por narrar a sua trama justamente do final, quando Dana precisa justificar à polícia o estrago que ocorrera em sua última volta, tendo perdido o braço esquerdo. Aqui o toque da ficção especulativa começa a tingir as páginas, enquanto Octavia amarra seus leitores à sua narrativa, habilidosamente envolvente. Há no ar certo tom de mistério, que tende a desabrochar na medida em que os capítulos prosseguem.
Tudo começou em seu aniversário de vinte e seis anos.
Nesse dia, Dana e o marido estavam organizando livros em seu novo apartamento quando uma tontura a faz cair de joelhos e de súbito; tudo desaparece.
De repente ela se encontra ajoelhada à beira de uma mata, a sua frente há um rio e, mais para o meio dele, uma criança está se debatendo, possivelmente se afogando.
Dana corre para ajudá-la, mas, assim que arrasta, o menino para a margem do rio, vê-se diante da mira de uma arma. Em um instante, o cenário muda novamente e ela está de volta a sua sala de estar, completamente encharcada e aterrorizada.
Antes de ter a chance de assimilar o acontecido, Dana é levada para lá de novo.
Uma das coisas mais interessantes da ficção especulativa, como a fantasia. Neste caso, a ficção científica, é poder abordar, tratar de temas passados, que precisam se manter vivos na mente humana, extremamente atuais com o recurso de poder construir personagens e ambientes espetaculares, cativantes e surpreendentemente realistas.
Dependendo da forma narrativa escolhida, em primeira ou terceira pessoa, diferentes visões e sensações são transmitidas aos leitores sob alternadas óticas. Em “Kindred”, Octavia discorre em primeira, o que permite que aos seus leitores que escolham vestir a pele da personagem, que, neste caso, segue Dana, uma jovem mulher, negra, que sem qualquer controle sobre o que a rodeia. Ela aterrissa em uma Maryland do início do século XIX, em pré-Guerra Civil, configurando um dos piores ambientes para uma mulher negra viver, em pleno regime de escravidão.
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Eu era a pior guardiã possível para ele ter, uma negra para cuidar dele em uma sociedade que via os negros como sub-humanos, uma mulher para cuidar dele em uma sociedade que via as mulheres como eternas incapazes.
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Muitas vezes, ao longo da leitura, eu tive vontade de gritar ao ver a forma fria e lógica com que Dana lidava com tudo. Além de suas viagens, do seu relacionamento conturbado com Ruffus, da sua submissão à escravidão sem ao menos surtar, gritar e chorar que nem louca. Sei que se fosse comigo seria a primeira coisa que faria. Mas é essa sua atitude que, muitas vezes, evitou com que Dana fosse castigada duramente a chicotadas.
Se você procura algo voltado para a ficção científica, pode se decepcionar. A ficção entra somente para justificar as viagens no tempo (mesmo que não explicada). A premissa é totalmente outra: é maior e é incrivelmente substancial.
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Octavia E. Butler fez história no gênero dominado por homens brancos passando por cima da pobreza, do racismo e dos comentários de gente que não acreditava em seu potencial. Hoje ela sonhava se tornar uma autora best-seller aclamada pela crítica, capaz de ajudar outros a expandir os horizontes, e conseguiu. Inspirou as bases afrofuturismo. Foi coroada Dama da Ficção Científica. Escreveu sobre heroínas fortes, reais, questionadoras e exclusivamente negras.
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Kindred
Autor: Octavia E. Butler
Ano de Publicação no Brasil: 2017
Gênero: Sci-Fi e Ficção Histórica
Editora: Morro Branco
Nº de páginas: 432
País de origem: EUA
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Na mini resenha do insta tinha entendido que se passava no Brasil ( e já tinha me decidido em ler), mas lendo aqui a resenha completa me apaixonei ainda mais e a vontade de ler só aumentou!! Bela distopia vai acabar falindo minha conta bancária quando eu for comprar todos os livros que vocês recomendaram e eu me interessei!
a equipe fica muito feliz quando voces gostam do nosso trampo, espero que tenha uma otima leitura da obra mas ele n passa no Brasil nao, e sim nos EUA.
Fiquei realmente em dúvida se gostaria de ler ou não, pois a parte de viagem no tempo e ficção científica de início chama a atenção, mas se não é nem explicada e a premissa é outra… talvez dê uma chance pois curti a história. Vou dar uma olhada em outras da autora, já que ela é “considerada uma das damas da ficção científica norte-americana” (e feminista!) e eu gostei disso!