Rede de Ódio (2020) da Netflix

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Atenção!

Esse filme contém uma cena violenta que pode ser um gatilho.

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Rede de ódio, ou Hejter no original, é um filme polonês do cineasta Jan Komasa, que já trazia certa fama do Óscar através de “Corpus Christi” (Boże Ciało, 2019), produção que deu as caras como um dos indicados da categoria de melhor filme internacional na edição de 2020. Confesso que já estou curioso em assistir esse primeiro, considerando a premissa e principalmente o que vi agora no novo trabalho do diretor.

Somos apresentados a Tomasz Giemza, um jovem estudante de direito, que depois de ser expulso da faculdade, consegue um emprego no “ramo publicitário”, podemos dizer assim. Utilizando-se de meios não muito éticos dentro das redes sociais para conseguir subir na vida, Tomasz se envolve numa trama arriscada e trágica que contempla fake news, perfis falsos e discursos de ódio na internet.

O filme, a princípio, pode demorar  a se desenvolver. Os 40 ou 50 minutos iniciais nos introduzem numa narrativa não muito clara sobre o que vai falar de fato, mas que consegue entreter. Mas a medida em que acompanhamos as atitudes do protagonista e o esgoto moral que ele mergulha aos poucos, seus passos, incompreensíveis em um primeiro olhar, são explicados de forma sútil, cena a cena. Assim vamos entendendo para onde o filme está nos levando. Somos praticamente detetives colados em um sujeito de caráter duvidoso.

A ótima direção e, em especial, a montagem dão muito sentimento e ritmo a história. Em algumas cenas, ouvimos o áudio da cena seguinte, em uma maneira do filme informar o que vai acontecer a seguir. Ou quando não, as cenas são intercaladas, nos mostrando, ao mesmo tempo, como a mente de Tomasz funciona e depois como executa suas ações, além de mostrar como o mundo exterior reage diante dos consequentes resultados delas.

Em alguns momentos-chave, “Rede de ódio” se utilizou do recurso de instituir longos silêncios entre os personagens, que, em geral, eles se encaravam. Nessas cenas, o protagonista está próximo de dar seu próximo passo. A partir daí a comunicação dos personagens se utiliza de gestos e de olhares, aumentando a imprevisibilidade e a nossa tensão do outro lado da tela, pois sabemos que as intenções de Tomasz não são lá muito boas.

A todo momento nos perguntamos “que merda vai acontecer agora?!” ou “será que ele vai conseguir?”. Aliás, Maciej Musiałowski entregou ao protagonista todas as sutilezas de um personagem dúbio, frio e imprevisível, não deixando de mencionar também o mérito do roteiro em dar múltiplas dimensões não só ao protagonista, mas aos demais personagens.

Todos, sem exceção, têm suas fraquezas, maldades, ambições e isso é mostrado de forma competente pelo elenco que consegue fazer com que essas pessoas pareçam ainda mais reais e não meras caricaturas.

Esse filme me lembrou algo de Parasita (2019) pelos outros aspectos técnicos que pontuei, mas também por se tratar com sensibilidade das temáticas que propõe. No caso são os discursos de ódios nas redes sociais, que têm como plano de fundo uma questão política. As críticas são cirúrgicas para dois lados; desde a militância progressista, que não escapa de agir com hipocrisia ao invés da empatia e do humanismo que pregam apenas na frente das câmeras, até o nacionalismo radical e todos os ideais fascistas que excluem e matam minorias.

Não dando muito spoiler, mas é importante mencionar que acontecem eventos trágicos ao final que podem ativar gatilhos em pessoas mais sensíveis. O filme teve o cuidado de chocar de forma respeitosa, não fantasiando ou romantizando a cena, mas o contexto em que ela se deu particularmente me deixou mais tenso do que os efeitos especiais. Apesar de desagradável de se ver, foi a cereja do bolo ao final.

Se você gosta de uma boa dose de suspense e tensão, “Rede de ódio” vai te impactar. Com um domínio narrativo que apresenta uma ideia simples no início, que se expande e surpreende, o filme nos entrega as consequências negativas no mundo real por conta de ações tomadas no virtual.

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