Entrevista com a autora Juvi E. Anne

 

A pernambucana Eloisa Maria, usando o pseudônimo Juvi E. Anne, iniciou a carreira de escritora na plataforma de histórias online Wattpad, onde ganhou o seu primeiro prêmio literário: o TheWattys2019, na categoria “Fantasia”. Obras como as de J. R. R. Tolkien, cheias de magia e aventuras épicas, são a grande inspiração da autora. Durante sete anos, desenvolveu seu primeiro universo literário de Alta Fantasia, o “Världen”, ao qual vem se dedicando desde Dezembro de 2017. Atualmente, mora com a mãe e os avós maternos em um “apertamento”, dividindo o tempo entre ler, escrever e pensar sobre árvores brilhantes.

Agora que o plano é da fantasia, já me sinto em casa. Tolkien é uma das suas maiores inspirações, mas vejo que a cultura japonesa também está muito presente no seu gosto. Você tira alguma ideia também de mangás e/ou animes? Quais, por exemplo?

Fica até meio óbvio (para quem está habituado) falar que os mangás e animes possuem uma linguagem diferente da forma ocidental na hora de contar histórias. Se você pega um enredo bem trabalhado para consumir, percebe como os autores japoneses tomam cuidado na hora de expressar os sentimentos de cada personagem importante, sejam eles os protagonistas ou aqueles que o acompanham na jornada. Tento seguir essa mesma linha nas minhas obras, dando destaque para todos aqueles que merecem amor. E para os que merecem ódio também (alô, vilões). Disso surgiram vários projetos de livros e séries spin-off, com o intuito de complementar os universos. Vermelho, por exemplo, foi um deles. Dentre as minhas principais inspirações estão Monster, Jojo’s Bizarre Adventure, Bleach — embora eu finja que o final do mangá foi um delírio coletivo —, One Piece e um anime bem recente, o Violet Evergarden.

“Aspectos” foi sua última obra solo lançada. Conte-nos como foi o processo de criação desse livro. Tempo, desenvolvimento, revisão, quero saber de tudo!

Cara, primeiramente, “Aspectos” foi idealizado como o Projeto de Conclusão de Semestre do meu curso de ilustração (2018). Resumindo o processo inicial: peguei todas as ideias descartadas do Världen, joguei em um caldeirão, misturei e usei o resultado no projeto. Assim nasceu a primeira versão de “Aspectos”, que foi apresentada em palco, minha nossa… Gelei demais. Porém, de lá para cá, a obra mudou bastante. Adicionei novos elementos, conceitos e mais personagens. Inclusive, “Aspectos: O Lírio e o Carneiro” nasceu quando li um poema de William Blake. Segue o verso abaixo:

A Rosa frágil tem o espinho por defesa,
A humilde Ovelha exibe o chifre ameaçador;
Porém ao branco Lírio é suficiente o Amor –
Não há espinho ou ameaça a turvar-lhe a beleza.

Por ser uma obra curta, um prólogo do que está por vir, foi um livro que demorou cerca de dois meses para ser concluído. O processo de revisão foi feito em tempo real, via chamada no Discord, ao lado de mais duas pessoas.

Criar um universo inteiro não é fácil. Quanto tempo levou para “Världen” sair do papel e ser compartilhada na internet? Todos os seus livros são desse universo?

Olha, te contar… Mais difícil do que criar um universo inteiro é tentar desenvolver os idiomas falados por lá.
“Världen” é o meu primogênito e foi idealizado entre o final de 2011 e o início de 2012. Desde então, fui moldando o terreno, adicionando e deletando, mudando e polindo, até finalmente me sentir satisfeita com o resultado alcançado e, exatamente no dia 24 de Dezembro de 2017, postar o prólogo no Wattpad. Foi um presente de Natal de mim para mim, hahaha! Dizem que mãe não tem filho favorito, mas o meu certamente é o “Världen”.

E, não! Nem todos os meus livros fazem parte do mesmo universo, ainda que uns tenham referências a outros em diálogos ou algum elemento da narrativa (é crossover que chama?). Como uma pessoa megalomaníaca, possuo cinco universos literários. Porém, “Världen” é quem segue na liderança quando falamos de projetos finalizados.

Okay, agora é tenso! Você ganhou o prêmio The Wattys! Como foi a sensação?

Foi a primeira vez que VENCI algo de importância com a minha escrita, meus personagens e meu universo mais amado. Na hora, estava revendo “Os Cavaleiros do Zodíaco: A Lenda do Santuário”, o filme CGI que os “mancheteiros” odeiam e eu amo de paixão. Meu celular vibrou de repente, peguei o aparelho e gritei ao ler o preview da notificação. Quase chorei, de verdade.

A fantasia é um tiro certo, mas será que você se aventuraria por outros gêneros literários?

Na verdade, já me aventuro! Meu livro “Kindred: O Pequeno Favor”, que está sendo postado no Wattpad, é uma obra do gênero Sobrenatural. É sobre vampiros e lobisomens em um cenário de faroeste. Também há um projeto chamado “Sýstina”, com ambientação baseada nos filmes de Ópera Espacial, tipo Star Wars. Acho que ele pode ser considerado como uma mistura de Alta Fantasia e Ficção Científica. Entretanto, permanece engavetado, pois precisará de atenção e cuidado dobrados. Seres celestiais, planetas, civilizações, sistemas solares e organizações políticas… Vish, vai dar um trabalhão.

Um questionamento: você mudaria algo médio/grande do seu texto para se adequar ao perfil de alguma editora grande?

Pergunta difícil… Sou extremamente chata com isso, admito. Aliás, sendo bem sincera agora, sou parcialmente contra essa coisa de fazer mudanças nas histórias dos outros. Editoras deveriam publicar “gêneros” e não “perfis”. Só sou a favor de mudanças em casos onde um elemento ou outro, de fato, precisa ser alterado, tipo quem escreve romance como uma trama secundária e acaba não percebendo que o casal principal não interagiu por tempo suficiente para se amarem perdidamente no final do livro, ou quando, na inocência, fazemos citações que podem ser interpretadas de maneira errada.

Uma coisa é alguém sugerir uma mudança que tornará a história melhor do que já é. Ou seja: mudanças que, na opinião do autor, se adéquam aos objetivo e essência da obra. Outra coisa é querer coisas equivalentes a tirar personagens do ponto A e colocá-los no ponto %#$$%$@#. Se, para mim, mudanças médias ou grandes alterassem o objetivo da minha obra de alguma forma, eu não aceitaria. Minhas obras são meus filhos e, como mãe, sei o que é melhor para elas.

Você acredita que tem facilidade de desenvolver uma história? Existe algum horário do dia que separa para escrever?

Rapaz, acredito que até tenho. Se eu estiver bem inspirada, consigo bater 3 mil palavras em um único dia (meu recorde é de 7.426). Meu horário de escrita é à tarde, depois do almoço. Termino lá pelas 17h e 18h. Faço isso de Segunda a Sexta, fim de semana é para descansar a mente.

Como funciona o seu processo criativo? Você tem algum ritual?

Como escritora de Alta Fantasia, antes de saber quem são os meus protagonistas, preparo o meu terreno (o universo). Pensar nos conceitos por trás de cada coisa me ajuda bastante na hora de desenvolver o enredo. E, para evitar qualquer tipo de distração com os sons de casa ou da rua, ignoro as redes sociais e ouço músicas instrumentais que combinem com o ambiente trabalhado naquele momento. Por exemplo: para escrever “Världen” e “Aspectos”, ouço instrumentais épicos, para escrever “Kindred”, ouço as trilhas sonoras dos jogos Red Dead Redemption.

Somos, muitas vezes, influenciados também por pessoas dentro de casa. Existe alguém na sua família que te dá suporte como escritora? Como funciona o relacionamento entre escrita e profissão segundo Juvi?

Incrivelmente, na família inteira, sou a única pessoa inclinada à escrita e leitura. Ninguém aqui tem o costume de ler, muito menos de escrever. Ainda assim, meu maior apoio vem da minha mãe. Ela adora me panfletar para todos os conhecidos dela e só posso agradecer por isso!

Justamente por reconhecer a escrita como uma profissão (a profissão mais gostosa de todas), defini horários e dias da semana para me dedicar a isso, exatamente como funcionaria um emprego formal. Escrever, de certa forma, é uma coisa bem “solitária”. Mas, quando você gosta da companhia de seus personagens, tudo se torna mais brilhante. Gosto até de dizer que um escritor é uma alguém que nunca se desfez dos amigos imaginários que tinha na infância.

Além da escrita, Juvi é uma artista amadora. Posta seus desenhos nas redes sociais, seja a arte feita no papel, seja no computador. Você tem vontade de seguir carreira nessa área também? Quais artistas te inspiram? Compartilha o ig deles!

Olha, se a oportunidade aparecer um dia, não sou eu quem vai dar as costas para ela! Desenhar é algo que gosto tanto quanto escrever, por isso estudo ilustração. Inclusive, “Aspectos: O Lírio e o Carneiro” é uma obra totalmente ilustrada por mim!

Dentre minhas maiores inspirações para a arte ilustrada estão Thony Silas (@thonysilas), Bárbara Machado (@barbaramachadoart), Joe Madureira (@joemadx), Stanley Artgerm Lau (@artgerm) e Tite Kubo, o autor de Bleach que, infelizmente, abomina a existência das redes sociais e só tem conta no Twitter (@tite_official).

Obrigada pela entrevista!

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