Especial Halloween

 

Nem só de filme vive o homem! Fizemos, então, uma pequena seleção do que há de melhor em livros que combinem com o halloween.

 

Obviamente que tentamos ser o mais atual possível para prender a literatura ao que tem rolado de novidade na narrativa do susto.
Confissões do crematório de Caitlin Doughty (2014)
O livro nos faz refletir sobre a vida e a morte de uma forma racional – exatamente como deve ser. A forma real e crua que a autora conta suas experiências como agente funerária nos surpreende, não é uma obra para corações fracos. Ela reúne histórias reais de um crematório, casos curiosos que aconteceram em sua presença, fatos filosóficos, históricos e mitológicos, mas também faz reflexões profundas a respeito da forma como vemos a morte. Ela critica o fato de que tentamos evitar a todo custo o contato com qualquer coisa que remeta ao nosso ?destino final?, desde os caixões até a forma de preparar os corpos das pessoas. Tudo, é claro, com uma boa dose de humor. Ao longo do livro, ela conta de forma didática como a morte é vista em diversas culturas ao longo dos milhares de anos. Até a história dos índios Wari do Brasil é contada em um dos capítulos. Achei incrível a referência!!
Ao passar a última página e fechar o livro, me senti uma pessoa diferente, mais rica de pensamento, de cultura. Confissões do crematório virou um dos meus favoritos não só do ano, mas de todos os que eu li. Sempre digo que livro bom é aquele que diverte, que te tira do seu mundo e te leva para outro lugar. Quando um livro acrescenta de tal forma que você se sente mais rica sem ter feito nada além de correr os olhos por algumas palavras? É um tesouro para se guardar no cantinho mais especial da estante.

Embora você nunca possa ter ido a um enterro, dois humanos do planeta morrem por segundo. Oito no tempo que você levou para ler essa frase, agora estamos em quatorze.

Lady Killer de Joëlle Jones & Jamie S. Rich (2015)
Na trama acompanhamos a história de Josie Schuller, uma dona-de-casa dos anos 1950 que é também uma matadora de aluguel das mais competentes. Josie precisa equilibrar os deveres domésticos e criar suas filhas pequenas enquanto convive com um marido compreensivo e passivo e uma sogra não tão amigável assim. O roteiro traz inúmeras críticas ao sexismo daquela década (em que alguns aspectos ainda seguem valendo para o nosso tempo, infelizmente), sendo que o ponto de virada da HQ se dá por uma questão que deriva disso. O texto traz também uma mensagem clara de empoderamento e independência feminina.
O ritmo é atordoante com um texto enxuto e muito bem escrito. A dinâmica me lembrou a pegada extremamente dinâmica da adaptação cinematográfica de Atômica (também publicada no Brasil pela Darkside), com Charlize Theron no papel principal. As ilustrações de Jones são expressivas e marcantes com um traço que conversa com a cultura pop e que ganham ainda mais expressividade através do trabalho de cor exemplar de Allred. Apesar de contar uma história repleta de violência, a HQ expõe esse aspecto de sua narrativa sem apelar para quadros gratuitos e expositivos. As lutas, o sangue, como também, as mortes surgem como elementos que compõe quadros ilustrativos repletos de vivacidade. O trabalho de Joëlle e Allred faz toda essa explosão conversar com o inconsciente do leitor de uma forma harmônica, assim como, traz lembranças de experiências que ele vivenciou ao consumir outros livros, filmes e artes, o que contrasta com a forma crua, chocante e gratuita que vemos em títulos como Preacher, por exemplo.

As bruxas: Intriga, traição e histeria em Salem
de Stacy Schiff (1692)
As Bruxas nos traz um trabalho de pesquisa impecável de Stacy Schiff. O livro revive o absurdo episódio ocorrido em Salem, em 1682. Então, foram condenados à morte por bruxaria 14 mulheres, 5 homens e 2 cachorros, além de inúmeras prisões. Ao longo da leitura, percebemos que a onda de acusações – marido acusava esposa, filhos acusavam pais, pais acusavam filhos – teve origem em interesses políticos e pessoais. Também percebemos uma possível manifestação de histeria coletiva e fica claro o que fanatismo religioso pode desencadear tudo isso. Os colonos de Salem viviam com a vida por um fio por conta dos ataques indígenas e assédios franceses. A mistificação é produto de ignorância e de fanatismo dos protestantes calvinistas que saíram da Inglaterra e colonizaram uma terra desconhecida. Falsos testemunhos, tortura, assassinatos brutais, parcialidade da justiça e muito mais preenchem as páginas de As Bruxas.
Confesso que a escrita da autora não me prendeu, apesar de seu conteúdo extremamente interessante e relevante. Achei a escrita pesada, intrincada em alguns momentos, não fluiu da forma esperada. Demorei bastante para concluir a leitura por causa disso.
Porém, a história de Salém sem mistificação merece ser lida e o resultado da leitura é enriquecedor e esclarecedor. No fim, valeu a pena a experiência com esse livro.

Ann Foster morreu na prisão em 9 de dezembro de 1692. Seu filho pagou dez libras e seis xelins – o preço de uma vaca – para recuperar seu corpo.

BÔNUS 5 ESTRELAS
Coraline de Neil Gaiman (2002)
A história de Coraline começa naturalmente com uma família se mudando e recomeçando a vida num outro local. Só que Coraline não está gostando nada disso. Ela vive numa casa nova, sem nada para fazer. Os pais parecem não darem atenção à ela e, para piorar, os vizinhos fazem competição para quem é mais louco! Tudo parecia afundar num imenso tédio até que (como uma boa exploradora) Coraline encontra uma portinha que liga sua casa a do vizinho, que por sinal, esta desabitada. Mesmo sabendo que do outro lado apenas há uma parede de tijolos, Coraline resolve investigar. Porém, o que encontra do outro lado não é nada disso, sendo na verdade um novo mundo, lindo, perfeito e cheio de cores. E também mortal.
Bem, devo dizer que a princípio, esse livro é fabuloso! Nada menos do que digno de Neil Gaiman, as imagens dão um medinho interessante. Coraline é uma menina esperta e fascinante. Parece exatamente o tipo de criança que víamos antigamente: curiosa e sem tanto apetrechos tecnológicos. Me identifiquei muito com ela e suas falas. A garotinha nunca nos deixa decepcionados! Adorei também os pais dela, pois também lembrava muito os meus: trabalhadores e desesperados para trabalhar, parecendo às vezes me deixar de lado, mas ao mesmo tempo fazendo tudo por mim.
Tem como não amar a Sra. Forcible e a Sra. Spink? E o Sr. Bobo (a gente só descobre o nome dele no final, poxa!)? Amava a forma que o autor os colocava. Um pé na realidade e um pé na fantasia. Havia momentos que eu realmente me perguntava até que ponto aquele povo era doido ou, na verdade, eram mais são que todos nós. O que seria ‘ser louco’? Ver o que há além?
Se bem que tinha momentos que eles desandavam na loucura mesmo…
Quanto ao outro mundo, diferente do filme, a pegada da história foi bem mais escura e pesadinha. Desde o começo você fica com arrepios da ‘outra mãe’. Nunca tive tanto medo de botões e combinado as imagens, eu realmente ficava um tanto medrosa.

— Mas como é possível afastar-se de alguma coisa e ainda assim retornar a ela?
— Fácil — disse o gato. — Pense em alguém dando a volta ao mundo. Você começa afastando-se de alguma coisa e termina voltando para ela.
— Mundo pequeno — disse Coraline.
— É grande o bastante para ela — disse o gato. — Teias de aranha só precisam ser grandes o bastante para apanhar moscas.

E eu vou parando por aqui, porque, se deixarem, eu dou sugestões de livros que nos fazem tremer de medo ou agonia até a próxima década. É sério isso…
Vocês não deixem de conferir nossas indicações, e se já leu algum desses livros que comentamos aqui! Contem pra gente o que achou da história e se sentiram medo de verdade!

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