Hernán (2019-) da Amazon Prime

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Ainda que você não seja historiador ou nem sempre assista séries históricas, certamente já ouviu falar de Cortés, o impiedoso conquistador espanhol, descrito pelos astecas como a própria personificação do furioso e temido Deus Quetzálcoatl. Eu confesso: era somente isso, também, que conhecia sobre ele. Aliás, temos uma tendência muito fantasiosa de classificar tudo e todos à nossa volta sob a ótica da dualidade, como se a vida fosse assim tão simples. Acontece que não existe nada nesse mundo que não seja feito de luz e sombras, principalmente, nós humanos. A verdade incômoda para quem é fã incondicional do clichê “mocinho e bandido”, é que somos os dois, sem exceção e dependendo de que forma a situação se apresenta, no exato momento dos acontecimentos, aliado ao que podemos oferecer, pendemos mais para luz ou mais para sombras.

É justamente por esse foco que a série Hernán, desmitifica a verdadeira história não apenas do capeta em forma de gente, Cortés, como igualmente de suas “vítimas” que da mesma maneira eram verdadeiros demônios caçando seus inimigos — tribos rivais — além de, posteriormente, os invasores espanhóis. E que maravilha poder conhecer a história mundial sem esse falso estereótipo do vitimismo! Outras séries memoráveis como Medici seguem idêntico caminho, apresentando seres humanos reais, os quais fazem mais sentido até mesmo historicamente falando.

Hernán foi produzida com a pretensão de ser uma GOT hispânica, digamos assim, e na minha opinião, conquistou esse objetivo magistralmente! Produção impecável, roteiro TOP, figurinos incríveis atores em perfeita sintonia e cenários impressionantes, contam a saga do conquistador espanhol logo que ele pisa em solo mexicano acompanhado de uma tripulação que só tem uma coisa na cabeça: muito ouro!

A partir daí temos uma temporada de 8 episódios contada através do olhar pessoal de cada personagem histórico: o próprio Hernán, seus principais capitães, a interprete e amante, a indígena Marinche, rebatizada de Marina e dos indígenos.

Incluindo o lendário imperador asteca, Montezuma, tão famoso quanto o conquistador espanhol. Uma verdadeira aula de história, repleta de ação, aventura, guerras sanguinárias, tendo como cenário principal a lendária cidade asteca Tenochtitlán. Réplica fiel construída em escala menor sobre um terreno de 22 mil metros quadrados próxima a Xochimilco, ao sul da Cidade do México — distante apenas alguns quilômetros do sítio original.

Cada detalhe da trama exigiu uma consultoria apurada. Necessitando a escalação de atores multinacionais, já que em muitos episódios os índios falam o dialeto original — náhuatl. Não falta nem mesmo curiosidades como a interrupção das batalhas ao pôr do sol — os indígenas não lutavam após o crepúsculo, em homenagem ao Deus Sol. Os sangrentos rituais de sacrifícios astecas e a escravidão que as tribos, igualmente aos europeus, praticavam entre si. Perfeita humanização de ambos os lados, mostrando que cada um, independente de sua etnia possuía seus demônios para exorcizar.

Por outro lado, conhecemos um Cortés que tentava evitar a matança, curioso sobre a cultura indígena e até certo ponto, admirador do imperador Montezuma, ainda que o final não seja diferente do que sabemos. Porque, uma vez que Hernán se via encurralado, de fato, nem o próprio diabo era capaz de enfrenta-lo!

Esta é uma série primorosa e especialmente reveladora para o espectador que procura algo mais do que simples entretenimento. A segunda temporada está confirmadíssima e eu mal posso esperar.

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