Sabe quando você vê aqueles hamburguers na propaganda e quando pede eles, vê que a realidade é outra. Então…
Projeto Gemini é um filme que teve sua estreia nos cinemas brasileiros dia 10/10 (infelizmente, não é a nota que o filme merece) e tinha todo um hype para ser um grande filme blockbuster, mas que ficou confuso em ser um filme de ação com teor meio “cientifico militar”, resultando no que eu chamo de “filme pato” (anda, voa, nada, mas não faz nada direito).
O filme possui um elenco forte: temos Will Smith (precisa de maiores explicações?), Benedict Wong (que, ironicamente, faz papel de Wong no UCM), Clive Owen (O Crime Perfeito), Mary Elizabeth (sim, a lindíssima Ramona de Scott Pilgrim contra o mundo <3) e um Will Smith vindo dos anos 2000 (Um maluco no pedaço). Adicionado ao elenco, temos cenas intensas de ação com muitas lutas, tiroteio, perseguição de moto, altas explosões. “Asan, mas isso é tudo que se tem em blockbuster hoje em dia. Então todo blockbuster é a mesma coisa, logo todos eles são ruins!”, acalme-se jovem. O grande defeito do filme está na roteirização.
O longa tem pouco menos de 2 horas, e durante os minutos iniciais somos apresentados a um sniper (interpretado pelo Will Smith mais velho) digno da precisão do Gavião Arqueiro, conseguindo atingir um alvo há 2km de distância dentro de um trem. Mas depois de anos de profissão sendo assassino do governo, ele resolve se aposentar e entra com o pedido.
Aparentemente o governo tem outros planos e resolve dar fim ao super agente. Um grupo de soldados é enviado para assassiná-lo, entretanto, usando suas perícias consegue fugir do lugar, começa a ser perseguido por alguém que consegue estar sempre no mesmo ritmo que ele. O agente, velho já, tem que combater o que seria não só uma versão mais nova dele (sim, um clone). Isso é um enredo ruim? Não, porém, vamos abrir um pouco o micro agora para explicar o porquê desse filme ser um fisco (provavelmente a Paramount conta o saldo negativo agora).
Todo o elenco é ótimo. Will Smith como sempre se entrega ao papel. Chora, grita, sorri, diverte o espectador. Mas estamos falando do ator. Em momento algum da resenha, eu cheguei a tocar em nome de personagens. Resolvi por assim, justamente porque eu não lembro de nenhum deles. São todos rasos e mal definidos.
O personagem do Will Smith começa mostrando uma super capacidade com armas, um prologo muito bom, o que parou ali. Durante o resto do filme ele parecia uma pessoa qualquer, não souberam aproveitar a característica do personagem. Também temos o Will Smith mais novo. Talvez seja um pouco mais bem trabalhado, posto sob um dilema existencial, um conflito interno em deixar de acreditar no que seu “pai” diz… mas ainda sim, o filme apresenta tudo de forma muito seca. E nesse ponto, eu acredito que o maior culpado seja o diretor Ang Lee.
Deus me livre falar mal de Ang Lee, quem sou eu perto de um ganhador de Oscar com filmes como “As Aventuras de Pi”. Nem sou um super entendedor de filmes, mas acho que a direção que ele tentou dar à produção acabou atropelando a evolução dos personagens ao passo que ele talvez tenha se preocupado mais em entregar um espetáculo tecnológico. Do que eu estou falando? De uma coisa que foi pouco avisado nos materiais de propaganda, contudo, uma tecnologia que começa a caminhar nos cinemas: a fonte da juventude.
Depois do falecimento do ator Paul Walker, Velozes e Furiosos precisavam terminar um filme que já havia sido começado, e, para isso, fizeram utilização de tecnologias que fizeram com que o espectador não percebesse a ausência real do ator. Em Projeto Gemini, temos algo um pouco parecido, porém vemos o Will Smith de talvez 20 anos de idade lutando contra ele mesmo aos 50. Sim, não estamos falando de maquiagens, estamos falando de todo um rosto novo igual ao dele em Um Maluco no Pedaço. Fora isso, o filme inteiro é em 4k.
É arriscado alguém por aí baixar o torrent gravado em câmera no cinema e mesmo assim a qualidade do filme estar alta, mas nunca façam isso crianças (risos). É justamente a junção dessas duas tecnologias, a alta definição com o rejuvenescimento de um ator que faz a cabeça estourar. O normal seria, em um filme gravado em 4k, o espectador olhar tudo, inclusive se muito próximo ver a maquiagem. O que acontece é que o Will mais novo não apresenta isso, pelo contrário, realmente parece outro ator naquele lugar. Como se ele tivesse um irmão gêmeo mais novo.
Por mais que envolva toda uma parafernália tecnológica nova, não recomendo ir ao cinema ver o filme. Por mais que tenha recursos a exibir, pode ser que você saia de lá com um sentimento de enganação. Se você quiser, depois pode assistir o filme em uma das muitas mídias atuais de streaming ou esperar passar na Tela Quente, pode ser até que a sensação de desanimo no fim do filme seja menor. Eu sou um grande fã de filmes “povão”, mas esse foi um filme que me deixou extremamente frustrado.
Senhores, o cinema pode estar dando um novo passo no entretenimento. Só peço que novos passos, não esqueçam os antigos, e que roteiros não se tornem descartáveis. Por favor, agradar com um blockbuster não é difícil.
Eu sou o valente Asan e a mim foi dada essa missão. Liberte-se!