Começo esta resenha com uma pergunta um tanto perturbadora: do que – ou de quem – você tem medo? E Se existisse uma criatura que é, basicamente, o próprio pavor? Pois bem, você já deve conhecer das telonas um palhaço nada agradável, que costuma aparecer com uns balões vermelhos. Sim, a resenha de hoje é do livro “It” (em português, “a coisa”), de Stephen King.
A obra do reizinho do terror teve duas adaptações para a sétima arte, um filme de 1990 e a duologia mais recente, cuja resenha do primeiro filme você encontra aqui.
A morte aparentemente sem explicação de Georgie Denbrough, irmão caçula de Bill Denbrough (Bill “o Gago”, para os mais íntimos) num dia chuvoso em Derry foi apenas uma das várias fatalidades ocorridas com crianças entre 1957 e 1958. Embora ninguém fale sobre isso, a pequena cidade do Maine é palco de tragédias – e muita carnificina – a cada 27 anos.
Apesar desse detalhe um tanto importante, Derry é uma cidade normal. Nela, as crianças diferentes são perseguidas pelos valentões, como em qualquer obra estadunidense. As dificuldades são responsáveis por juntar os “perdedores”, Bill, Richie, Stan, Mike, Eddie, Ben e Beverly, cada um com seus próprios problemas – e um monstro comedor de criancinhas à solta, para dificultar um pouquinho.
Os “perdedores” têm Bill como seu líder, sendo o pequeno herói citado como corajoso, principalmente, uma boa pessoa. Eddie, é um exemplo de hipocondríaco por causa da superproteção da mãe. Stan é judeu e apaixonado por aves – que TALVEZ seja um de seus medos haha. Richie é o típico piadista sem graça, tendo o apelido de “boca de lixo”, que pode colocá-lo em perigo às vezes. Mike sofre com o racismo dos garotos da escola, assim como seu pai sofreu, e seu avô… Ben é um garoto acima do peso, o alvo do grupo de valentões da escola. E Beverly é uma menina que aparenta ser “mais experiente” que a maioria das outras crianças.
Todos os perdedores são “assustados” pela Coisa, alguns antes da morte de Georgie, bem antes do grupo se reunir. Diferente de outras crianças, que viraram comidinha de palhaço, eles tiveram a sorte de escapar e correr o risco de morrer em combates mais diretos.
Quanto à Coisa, vamos chamá-la pelo nome que se apresenta: Pennywise. O palhaço, que para a maioria das crianças – pelo menos as que não tem medo, como eu – aparece como um amiguinho em potencial. O palhaço que chega com doces, balões, e promete que todos podem flutuar.
Pennywise, que se transforma em nossos piores medos assim que é impossível fugir, com seus olhos amarelados e seu odor de morte e podridão. Não só aterroriza as crianças, mas deixa Derry letárgica enquanto sacrifica seus moradores. O palhaço, além de agir sozinho, é capaz de inspirar outras crianças para seus planos macabros, como fez com Henry Bowers, uma criança problemática com o tratamento extremamente violento do pai, que se reflete em sua violência com todas as outras crianças.
Os primeiros anos são contados como lembrança no livro de King, e termina com os garotos vencendo a Coisa. Vencer, todavia, não significa matar. Pennywise voltaria 27 anos após para atualizar a carnificina em Derry? As crianças prometeram que, caso voltasse, elas estariam lá. Você já sabe que sim, a Coisa está de volta, as aventuras também.
Chamados por Mike, o único dos sete que continuou na pequena cidade, o grupo precisa se reunir novamente. Todavia, algo está diferente entre os “perdedores”. Os integrantes, em sua maioria, são pessoas bem sucedidas, que não lembram de nada da infância, e não sabem o porquê. Só que precisam voltar para Derry e cumprir uma promessa distante.
Como grande parte das obras de Stephen King, os acontecimentos da infância vão sendo lembrados pelos “perdedores” já adultos, enquanto precisam lutar com a Coisa. Tudo que disser a mais aqui, é spoiler haha.
“It – A Coisa” é um livro incrível, o único “problema”, que particularmente não me importo é a extensão da obra, que em algumas edições, conta com mais de mil páginas. A narração da Coisa é assustadora, desde o início, quando ainda está no imaginário do pequeno Georgie, pronta para emergir do porão da casa. King consegue nos deixar imersos na história, até que sintamos o pavor da criança amedrontada.
Outro fator importante para a crítica é a romantização desnecessária do ato sexual que acontece na trama. Apesar das críticas, o autor diz que não se arrepende de, na época, ter inserido essa ação em sua história.
Adaptado para o cinema, em filmes que gostei bastante, o livro perde muita coisa de suas mil páginas. A principal delas é que a produção nos dá a ideia de que a entidade só se apresenta na forma do palhaço, Pennywise. Na obra original, a Coisa também se transforma no maior medo do indivíduo, sendo o palhaço apenas uma “assinatura”.
Um ponto positivo do segundo filme em relação à obra original é que, apesar do final ser meio confuso, ele faz mais sentido que o desfecho do livro. Você quase não sabe o que está lendo. “Sigam a voz da tartaruga”, é isto.
Se Pennywise aparecesse para você, neste momento, qual forma ele teria? Acho que a de um presidente mandando romper o isolamento seria algo aterrorizante, agora. Então, que tal enfrentar “A Coisa”, e cuidar da saúde se mantendo em casa? A dica de leitura desta semana está dada.
Cuidado com palhaços, e até a próxima resenha!