Calm (2020) de 5 Seconds of Summer

“Calm”, lançado no dia 27 de março de 2020, é o quarto álbum de estúdio da banda australiana de pop rock 5 Seconds of Summer (5SOS). O projeto foi produzido com o selo da gravadora Interscope. O título é um acrônimo para os nomes de cada um dos membros da banda (C.A.L.M. – Calum, Ashton, Luke e Michael). Ah, é legal ressaltar que também é uma dedicação aos fãs, que criaram esse acrônimo desde o começo da carreira do grupo. Porém, deixo logo um spoiler: a partir do nome “Calm”, você pode deduzir que o resultado seria calmo, e isso seria um erro.

Sonoramente, o projeto conta, em sua maior parte, com influências no hard rock, new wave, electro. Uma vibe bem “headbanger” em algumas músicas – e com um som um pouco dark -, mas com vocais mais relacionáveis a música pop. Ainda, há faixas que saem do rock e entram no hip hop e R&B com algumas batidas de trap music aqui e ali.

Apesar do período de quarentena não ter impedido, o lançamento do “Calm”, a promoção do projeto foi afetada negativamente pela pandemia: houve cancelamento de shows e de aparições promocionais públicas. Ainda assim, considerando que vários programas de TV e rádio conseguiram se ajustar para funcionar “à distância”, nem toda divulgação foi afetada.

Em relação aos singles, a primeira música lançada do projeto foi “Easier” em maio de 2019 – quase um ano antes da estreia do álbum. O segundo single foi “Teeth”, em agosto. Em seguida, “No Shame” foi lançada em 5 de fevereiro de 2020. Depois, “Old Me” foi escolhida para ser o quarto single em 21 de fevereiro de 2020. Por fim, “Wildflower” se tornou o quinto, e atual, single do projeto em 25 de março de 2020.

“Calm” tem 12 faixas em sua tracklist:

1 – Red Desert
2 – No Shame
3 – Old Me
4 – Easier
5 – Teeth
6 – Wildflower
7 – Best Years
8 – Not in the Same Way
9 – Lover of Mine
10 – Thin White Lies
11 – Lonely Heart
12 – High

O álbum inicia com vocais acappella bem fortes e harmonizados, parecendo um coro gospel. Essa é a introdução da primeira faixa, “Red Desert”. Com sua sonoridade antêmica, que dá até para imaginar uma multidão em um show cantando junto, fala sobre amar e ser amado tão profundamente que você se sente abençoado por isso. Pode ser tanto sobre um amor romântico, como também pelo amor que os membros do grupo sentem um pelos outros. Musicalmente, a faixa tem uma mistura de rock com gospel (por causa dos vocais).

Um fato curioso: “Red Desert”, ou “Deserto Vermelho” em português, é um nome utilizado para se referir a Austrália, que é o território de origem da banda.

Pulando para a faixa “Wildflower”, nota-se uma inspiração em sonoridades dos anos 1980 com uma vibe romântica e dançante similar ao disco music. Essa é a faixa mais leve e feliz do álbum, tanto sonora como liricamente. Amo as harmonias em coro (que são algo bem presentes em Calm) e os vocais fortes. Similar a “Red Desert”, “Wildflower” tem uma melodia antêmica em que é possível imaginar a galera cantando junto em um show.

Há uma brincadeirinha no refrão da faixa nos seguintes versos:

You’re the only one who makes me…
Every time we…

Em português:

Você é a única que me faz…
Toda vez que nós…

As palavras que “faltam” para fechar as frases podem ser várias – e podem vir em mente até umas +18 -, e essa é a ideia da faixa. Calum, baixista da banda e cantor da faixa, afirma que a intenção foi de deixar a interpretação livre. Cada um pode julgar e escolher quais seriam as palavras mais adequadas na situação. Mas olha, nem precisa se preocupar com isso quando estiver escutando essa música, pois mesmo tendo frases incompletas a melodia e a vibe é maravilhosa. Por isso, “Wildflower” é um destaque para mim.

Na canção “No Shame”, encontramos mais outra produção inspirada na vibe retrô dos anos 1980, só que voltada para o rock, relembrando um pouco do estilo emo também. A letra fala sobre a paixão que a sociedade atual vem construindo a respeito da busca pela fama e atenção nas redes sociais – e consequentemente no cotidiano.

A banda faz questão de dizer que não é uma canção que aponta os dedos para as pessoas, como se eles mesmos não estivessem incluídos nessa cultura de busca por atenção nas redes sociais. Para eles, todo mundo faz parte desse fenômeno.

Em “Not in the Same Way”, 5SOS canta sobre estar em um relacionamento, curtindo a companhia do outro pra caramba, mas acreditar que o outro não gosta de você como você gosta dele. Sonoramente, a faixa tem influências no R&B e hip hop com algumas batidinhas de trap music. Essa mesma sonoridade se encontra em faixas como “Thin White Lies” e “Old Me”.

Em “Thin White Lies”, temos uma letra com a famosa – e um pouco clichê – história sobre uma pessoa que pede para a outra dizer que a ama, mesmo que seja mentira – minta que me ama, por favor kkk. Ainda, o eu-lírico está viciado num falso afeto como se fosse uma droga, o que pode ser dito já que a palavra “Thin White Lies” tem uma pronúncia muito semelhante a “Thin White Lines”, que é uma gíria para o uso da cocaína na língua inglesa.

Em “Old Me”, a letra fala sobre reconhecer os próprios erros e seguir em frente com a sua vida, tendo plena noção que apesar de você não ser a pessoa que era antes, deve ser grato à ela. Graças aos nossos erros, conseguimos aprender a ser pessoas melhores.

Curto muito os versos e o pré-refrão de “Old Me”, mas não sou muito fã do refrão, pois o acho monótono em comparação ao resto da música.

 

“Easier” é um hard rock misturado com eletrônico – com um baixo bem pesado e forte. Acho essa faixa bem diferente do que vem sendo tocado na rádio ou no mundo pop atualmente. Além disso, o instrumental tem uns momentos diferentes e não tão óbvios, o que faz com que eu considere “Easier” uma faixa experimental. Ela deu certo! Amo as harmonias e também a forma que foram utilizados os efeitos nos vocais. É um destaque.

Liricamente, a faixa fala sobre viver em um relacionamento tóxico e não saber decidir se quer ou não continuar nessa situação.

Com uma letra que fala sobre estar em um relacionamento com uma pessoa que é linda e amável, mas que muitas vezes também mostra um lado escuro, a faixa “Teeth” aborda os altos e baixos numa relação amorosa. Lirica e sonoramente é bem semelhante a “Easier”, mas “Teeth” tem uma influência mais pesada do hard rock (ao meu ver), o que faz com que a faixa mostre muita atitude e mais agressividade. Para Calum, a faixa mostra vulnerabilidade com agressão. Os vocais são maravilhosos! Com certeza é um destaque.

A parte final do álbum é recheado de músicas numa pegada mais balada (“Best Years”, “Lover of Mine”, “Lonely Heart” e “High”), faz com que o projeto termine com uma sonoridade calma. Além disso, as faixas possuem a mesma história sobre um cara que acaba ferrando o seu relacionamento por causa de vários deslizes, mas que agora quer um nova chance para agir melhor e compensar todos os erros.

Dessas faixas, destaco “Lover of Mine”, uma balada co-escrita por Luke, vocalista principal da banda, e sua namorada Sierra Deaton. Sim! É a Sierra do finado duo “Alex & Sierra” – quem assistiu The XFactor deve conhecer bem esse duo.

“Lover of Mine” é a faixa favorita de Luke em “Calm”. A canção começa com instrumentais mais leves – só o pianinho e o violão – e com foco no vocal. Na segunda parte da música entram mais instrumentos que dão uma pegada mais dark pra faixa (característica comum em diversas faixas de “Calm”), mas sem perder o ar emotivo da balada.

Sobre o álbum no geral, fico surpreso com a produção cuidadosa e talentosa, que mistura uma sonoridade mais agressiva do rock em diversas faixas com elementos do pop. Cria produções bem diferentes do que vem sendo feito na indústria da música, sem soar algo datado.

Claro que em alguns momentos o grupo também nos entrega músicas dentro das tendências mais procuradas no pop atualmente: a sonoridade dos anos 1980 e o trap music. Por isso, não é em sua totalidade uma produção única, diferente ou super original.

O álbum é curto, o que facilita a coesão. De fato, mesmo com influências diversas, é possível notar que é um projeto só com uma sonoridade – e composição lírica – bem conectada. O ponto negativo se encontra em algumas faixas no meio do projeto que parecem menos trabalhadas e mais genéricas, não chegando ao nível dos destaques. Ou seja, existem faixas que brilham muito e outras que são tão genéricas que somem e se tornam esquecíveis. Olha, não acho que existe uma faixa ruim de fato aqui, só algumas ofuscadas e fillers (só pra preencher o álbum).

Outros pontos de destaque para mim no projeto são os vocais fantásticos, as harmonias lindas, os momentos de coral e o foco no baixo.

As minhas faixas favoritas do “Calm” são: “No Shame”, “Easier”, “Teeth”, “Wildflower” e “Lover of Mine”.

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