Purpose (2020) de Taeyeon

Depois de 2 anos e meio sem lançar um álbum solo, Taeyeon – vocalista principal do famoso grupo de K-pop, Girls’ Generation – está de volta. Purpose é o segundo álbum solo de estúdio da cantora sul-coreana, e foi lançado através da SM Entertainment no dia 28 de outubro de 2019. Contudo, essa resenha tem seu foco na versão digital do relançamento do álbum, que aconteceu no dia 15 de janeiro de 2020, incluindo 3 novas canções. O título “Purpose”, que significa “propósito” em português, foi escolhido pois o álbum nos apresenta objetivos para a vida de Taeyeon, também nos mostra como a música se tornou o maior propósito da vida da cantora.

E olha, para mostrar tudo isso, a artista trouxe gogó e produções bem diferentes do que vem sendo feito no cenário do K-pop – e até mesmo do pop geral – atual. Com uma sonoridade que mistura pop, balada, R&B, blues, jazz e um pouco de pop-rock e de gospel, Taeyeon nos entrega versatilidade e profundidade.

O álbum, infelizmente, só conta com 2 singles. “Spark”, lançado na primeira versão do álbum, e “Dear Me”, single da versão de relançamento. Parece que a promoção vai acabar por aí, a cantora não pretende aparecer em nenhum show (exceto eventos para autógrafos), porque decidiu prestar respeito ao falecimento de Sulli, cantora do grupo sul-coreano f(x). Como também por optar focar em sua própria saúde mental, a artista revelou aos fãs que sofre de depressão.

Contudo, o álbum possui um viés de esperança e de positividade no decorrer de suas 13 faixas:

1 – Dear Me
2 – My Tragedy
3 – Here I Am
4 – Spark
5 – Find Me
6 – Love You Like Crazy
7 – LOL
8 – Better Babe
9 – Wine
10 – Do You Love Me?
11 – City Love
12 – Gravity
13 – Drawing Our Moments

Dear Me

A primeira faixa, “Dear Me”, nos mostra, por meio da letra da canção, a vontade da cantora de dizer para o seu reflexo – com veracidade – que se ama e que tem confiança em si mesma. Em vez de focar na negatividade ou no que aconteceu de ruim em seu cotidiano, a canção nos aconselha refletir sobre como suportamos e superamos várias coisas. Considerando que Taeyeon tem sofrido de depressão, essa música soa terapêutica. “Dear Me” é uma balada forte e emotiva, tanto nos instrumentais como nos vocais, que traz um ar de positividade.

Em contramão, temos a faixa seguinte na tracklist, “My Tragedy”. É outra balada forte, mas essa tem um ar mais negativo e agressivo – tanto nos vocais bem presentes, como em um instrumental que puxa mais para o rock. Aqui, a cantora fala sobre se sentir sozinha e apagada, de ter que botar um sorriso falso para esconder o quão ferida está. Os motivos para esses sentimentos negativos podem ser tanto por causa de um fim de relacionamento como também sobre a depressão.

O ar pessimista da balada pode ser bem visto nesses versos traduzidos:

Eu não preciso de ninguém, ninguém, ninguém
Minha tragédia é irreversível
Nenhuma palavra significa nada agora
Minha tragédia nas sombras
Eu não preciso de ninguém
Entre um sorriso cansado
Minhas costas machucadas que foram escondidas no fim

Pulando para a faixa seguinte, “Here I Am”, encontramos um estilo sonoro semelhante nas faixas anteriores – outra balada forte e com letra introspectiva. Essa canção fala sobre se ver no espelho com todas as suas falhas e os seus problemas. Dizer “aqui estou eu”, pronto para seguir em frente e para enfrentar os meus problemas.

É interessante ressaltar que essa música foi a que abriu o álbum na sua primeira versão, anterior ao do relançamento. Realmente, ela possui uma letra e uma sonoridade que combina com introdução.

“Do You Love Me?” é outra balada, mas essa tem influências no jazz e tem um ar bem nostálgico. Por meio de vocais e instrumentais leves – e uma composição meio melosa haha. Taeyeon canta sobre estar bem apaixonada, querer ouvir a pessoa amada dizer “eu te amo”. Muito parecida com música para trilha sonora de doramas românticos coreanos. Então, se você gosta de música de dorama, provavelmente vai adorar essa.

“LOL” – não é sobre League of Legends, gente – é uma faixa que mistura blues com batidas R&B mais modernas. Os vocais bem sussurrados e graves em alguns momentos, somados ao instrumental, dão uma sensualidade da p**** para essa música.

A letra é bem sensual mesmo, condizente com todo o resto. É sobre querer muito pegar alguém, e deixar o papo e as risadas – por isso que o título é “LOL” – de lado. Olha só esses versos traduzidos:

Hahaha, eu rio
Mais uma vez, uma risada forçada
Eu sorrio
Ar sufocante
O tempo está passando
Desperdiçando tempo
Chegue mais perto de mim

Sinceramente, os vocais fortes e agudos de Taeyeon – e o final com uma guitarra top -, fazem da faixa uma das melhores do álbum. É perceptível um amadurecimento vocal da cantora.

Seguindo, temos “Spark”, que não é uma balada hahaha. Aqui vemos uma Taeyeon empoderada e confiante que sabe que tem uma faísca dentro de si, que ela quer liberar para o mundo. Diferente das outras do álbum que já mencionamos, essa daqui é mais dançante e, inclusive, tem clipe e coreografia. A vibe de “Spark” se assemelha a de “Rolling in the Deep” de Adele ou “Counting Stars” de OneRepublic.

“Better Babe” é uma faixa R&B com versos leves e sensuais e um refrão que estoura com vocais fortes. A letra nos mostra problemas em relacionamento, mas também como esses problemas também servem para nos fazer melhor. Taeyeon fala que o seu par romântico a faz uma pessoa melhor através dos problemas que eles lidam, mesmo que não fiquem juntos no final.

Depois de “Better Babe”, temos “Wine” na sequência da tracklist, o que é bem interessante. Na letra de “Wine”, Taeyeon canta sobre um relacionamento que se torna melhor e melhor com o tempo – assim como o vinho. Podemos dizer que depois de todos os aprendizados de “Better Babe”, esse relacionamento vem se tornando melhor, o que liga essas duas faixas na sequência do álbum. Sinceramente, considerando que em nenhum momento da música “Wine” (que significa “vinho”) a cantora fala sobre vinhos, a escolha do título uma metáfora bem inteligente. Sonoramente, a faixa é uma baladinha R&B com vocais bem leves – ao contrário de “Better Babe” -, e tem uma vibe bem massa para viajar.

Um destaque para o álbum é a balada R&B/Soul – e bem gospel – “Gravity”. Taeyeon canta, com vocais lindos demais, sobre achar um motivo para viver e encontrar a força que te faz estar no chão – que te faz estar vivo. Saca só esses versos:

Você é a gravidade pra mim, que estava em perigo
Uma força que me leva fortemente a vaguear
Passando um tempo solitário
Finalmente encontrando meu lugar
Abrace-me mais
Você é a gravidade pra mim, que estava em perigo
Sempre no mesmo lugar, ao meu lado
É, o calor que você me deu
A única pessoa que me protegeu
É, o motivo é você

Numa análise simplista, podemos deduzir que a música é endereçada para um amante, mas acredito ser mais interessante dizer que a faixa “Gravity” fala sobre encontrar o tão sonhado amor-próprio. Ainda, ao considerar que o título do álbum “Purpose” tem relação com a música como o maior propósito de vida da cantora, essa faixa pode se referir exatamente a paixão de Taeyeon pela música.

É, “Gravity” parece ser a faixa mais importante para o conceito do álbum. Ela encerrou toda a produção de “Purpose” na sua primeira versão, antes do relançamento, agindo como um fechamento para todo esse conceitinho de achar o motivo para viver.

Contudo, na versão de relançamento temos outra faixa que encerra, “Drawing Our Moments”. É mais uma baladazona poderosa. Essa começa leve nos vocais e nos instrumentos, mas ganha mais e mais corpo com o tempo. É o destaque para mim.

A letra é praticamente uma história sendo contada. Fala sobre olhar para alguém, que você ama, dormir profundamente, e como isso pode dar um nervosismo. Aquele medo que vem quando a gente percebe que todos vamos morrer um dia. Porém, para lidar com esse medo, a cantora tenta trazer a sua cabeça para o agora, focando em capturar o lindo momento atual. A música também fala sobre a beleza deslumbrante de todas as memórias da vida e de tudo que ainda se tem para viver. Em meio a diversos acontecimentos que podem ser ruins, a faixa foca na esperança, na paixão e na vida como resposta para os medos.

Apesar de achar que “Gravity” tem um conceito mais amarrado e fechado para finalizar o álbum, “Drawing Our Memories” faz um belo trabalho encerrando tudo de maneira grandiosa – e que vocais, meu pai – e inspiradora.

Capa do Álbum

O que posso dizer sobre esse álbum? É do c***lho. Taeyeon já fez um projeto fantástico em seu primeiro álbum, “My Voice”, em 2017, mas é como se em “Purpose” ela tivesse evoluído sonoramente. Amo os dois álbuns, cada um do seu jeito, mas é como se o som da cantora tivesse alcançado um tom maior de originalidade e de sofisticação.

O que ela vem fazendo no cenário do K-Pop é algo bem diferente. Além dos vocais maravilhosos, as mensagens que as canções trazem são importantes e reais, muitas vezes são passadas de forma bem poética.

O único ponto negativo no álbum para algumas pessoas seria o excesso de baladas – ou seja, muita música calma. Isso já é um ponto positivo, amo balada. A inspiração no jazz, no blues e no R&B geram músicas bem emotivas, fortes e muito boas para serem uma trilha sonora pro cotidiano, ou para cantar bem forte, tentando acompanhar os vocais da rainha.

Todas as faixas são muito boas, mas deixo aqui as minhas favoritas: “Spark”, “LOL”, “Better Babe”, “Wine”, “Gravity” e “Drawing Our Moments”.

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