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Homenagem
Como todos sabem Zafon é meu autor favorito, tendo falecido sexta dia 19/06/2020, gostaria de deixar aqui para que todos que ainda não o conhecem: se aventurem, e nunca vão se arrepender.
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Se você gostou de “A Sombra do Vento”, do mesmo autor, certamente irá adorar este romance que é o segundo da série sobre o Cemitério dos Livros Esquecidos, uma espécie de santuário que cada livro guarda a alma de quem o escreveu e a alma daqueles que viveram e sonharam com ele.
Um lugar mágico que protege os livros abandonados onde ninguém mais lembra, livros que se perderam no tempo e aguardam para chegar às mãos de um novo leitor.
Apesar de “O Jogo do Anjo” ser o segundo volume de uma tetralogia, pode ser lido de forma totalmente independente com alguns personagens em comum, como a família de livreiros, Sempere, e as referências aos bairros e ruas da linda cidade de Barcelona. Além, é claro, da própria literatura que volta a ser um dos elementos centrais de toda a trama.
Talvez, devido ao grande sucesso do primeiro volume da série, Carlos Ruiz Zafón tenha decidido manter a mesma atmosfera de aventura e mistério de “A Sombra do Vento” se permitindo, entretanto, avançar ainda mais no clima de fantasia por meio de uma trama original, violenta e cheia de reviravoltas.
Poderíamos arriscar uma definição do estilo como sendo um policial Noir com toques de literatura fantástica ou sobrenatural. Na verdade, o autor foi tão ambicioso no argumento deste romance que ficamos imaginando todo o tempo.
Durante a leitura, como ele conseguiria resolver a sequência de enigmas, crimes e enrascadas em que envolve o seu pobre protagonista, impondo ao leitor um ritmo de ação cinematográfica, e chega até o final do livro com um mínimo de coerência.
David Martín é o infeliz protagonista e o próprio narrador de sua triste história que tem início quando presencia, ainda menino, o assassinato do pai, vigia noturno de um jornal, um homem atormentado pela pobreza e vícios, um ignorante que desdenhava do interesse do filho pela leitura — espancando-o por ler escondido “Grandes Esperanças” de Dickens — e que havia sido abandonado pela mulher.
“A boa sorte que meu pai tanto desejava nunca chegou. A única cortesia que a vida se dignou a ter com ele foi não fazê-lo esperar demais. Uma noite, quando chegávamos às portas do jornal para começar o plantão, três pistoleiros saíram das sombras e crivaram-no de balas diante de meus olhos. Lembro do cheiro de enxofre e do halo esfumaçado dos buracos que as balas tinham abrasado em seu casaco. (…) Naquela noite, os assassinos deixaram meu pai sangrando em meus braços e me deixaram sozinho no mundo. Passei quase duas semanas dormindo nas oficinas da gráfica do jornal, escondido entre máquinas de linotipo que pareciam gigantescas aranhas de aço, tentando abafar aquele silvo enlouquecedor que perfurava meus tímpanos ao anoitecer. Quando me descobriram, ainda tinha as mãos e a roupa manchadas de sangue seco. No começo, ninguém me reconheceu, pois não falei durante quase uma semana e quando o fiz foi para gritar o nome de meu pai até perder a voz. Quando perguntaram por minha mãe, disse que tinha morrido e que não tinha ninguém no mundo. Minha história chegou aos ouvidos de Pedro Vidal, a grande estrela do jornal e amigo íntimo do editor que, a seu pedido, ordenou que me dessem um emprego de contínuo na casa e que permitissem que eu ocupasse as modestas dependências do porteiro no porão, até nova ordem.” (Pág. 41)
Não resta outra opção para o pequeno David Martín, tão cedo sozinho no mundo, do que sobreviver às custas do seu próprio talento. Coisa que ele consegue subindo aos poucos na redação do jornal com a ajuda da sua paixão pelos livros até conquistar a oportunidade de escrever uma coluna semanal, uma espécie de folhetim policial de gosto duvidoso, mas que consegue obter extremo sucesso de público.
Devido a intrigas de colegas invejosos do jornal pelo seu rápido progresso, ele é demitido injustamente e, antes de completar 20 anos, é contratado por uma editora sensacionalista para escrever “melodramas baratos”. Com o pseudônimo de Ignatius B. Samson, em episódios mensais, ele descreve o submundo do crime em Barcelona nos anos vinte com “retorcidas sagas familiares que escondessem meandros mais escabrosos e turvos do que as águas do porto”.
Como nada é fácil para o nosso protagonista, ele logo se torna profundamente infeliz com a atividade tão abaixo do seu talento e sofre uma desilusão amorosa, quando Cristina, o seu grande amor, se casa com Pedro Vidal, herdeiro do jornal e que o ajudou no início da carreira.
Profundamente estafado e gravemente doente, vivendo em um antigo casarão abandonado, recebe um estranho convite de Andreas Corelli, um editor desconhecido, O estranho lhe oferece uma quantia irrecusável, cem mil francos por um ano de trabalho, para escrever um livro que deveria criar uma nova religião, não do ponto de vista teológico formal, mas sim uma narrativa tão forte que transformasse a ficção em “verdade revelada”.
A aceitação desta tarefa, de objetivos nebulosos, irá iniciar uma sequência de crimes e assassinatos que envolverão David Martín como principal suspeito.
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“Poesia à parte, uma religião vem a ser um código moral que se expressa através de lendas, mitos ou qualquer tipo de objeto literário, com o objetivo de estabelecer um sistema de crenças, valores e normas que sirvam para regular uma cultura ou uma sociedade (…) Tudo é um conto, Martín. O que cremos, o que conhecemos, o que recordamos e até o que sonhamos. Tudo é um conto, uma narração, uma sequência de acontecimentos e personagens que comunicam um conteúdo emocional. Um ato de fé é um ato de aceitação, aceitação de uma história que não foi contada. Só aceitamos como verdadeiro aquilo que pode ser narrado (…) Não o tenta a ideia de escrever uma história pela qual os homens sejam capazes de viver e morrer, pela qual sejam capazes de matar e deixar-se matar, de sacrificar-se e de enfrentar a condenação, de entregar sua alma? Que desafio poderia ser maior para seu ofício do que criar uma história tão poderosa que transcenda a ficção e se converta em verdade revelada?” (Pág. 117)
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Carlos Ruiz Zafón soube mais uma vez criar uma história muito bem contada e que prende a atenção do leitor do início até o final, sem maiores pretensões do que o puro divertimento. É ainda superior ao primeiro romance da série, “A Sombra do Vento”, tanto do ponto de vista de originalidade da trama quanto da técnica narrativa. De qualquer forma, como citei na introdução, ambos podem ser lidos em qualquer ordem, sem prejuízo do entendimento, sendo este segundo volume cronologicamente anterior ao primeiro e terminando na Guerra Civil Espanhola. Uma grande homenagem a Barcelona e aos livros, muito recomendado para leitores compulsivos.
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Nascido em Barcelona, em 1964, Ruiz Zafón estudou em um colégio religioso e se formou em Ciências da Informação. Apesar de sua paixão pela literatura desde a infância, Zafón publicou o primeiro livro somente aos 30 anos, depois de abandonar a carreira que tinha na publicidade.
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Título: O Jogo do Anjo
Autor: Carlos Ruiz Záfon
Ano de Publicação: 2008
Gênero: Drama & Romance
Editora: Summa de Letras
Nº de páginas: 410
País de origem: Espanha
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Não cheguei a ler obras dele ainda, mas é muito triste perder um artista! Meus pêsames para todos os fãs do autor ❤️ Com certeza lerei essa e outras obras quando tiver a oportunidade.
É Incrível os livros desse autor, não atoa que é no selo grandes autores da Summa, foi uma perda sim e espero que consiga ler em breve
Nunca li nenhum livro do autor. É uma pena só tê-lo conhecido agora após a sua morte. Uma amiga me falou muito sobre ele em um grupo de leitura coletiva do Zap. Era muito fã dele. Vou anotar as indições e até o fim do ano já quero ter terminado o Jogo do anjo. Nunca tive contato com a Literatura espanhola. amei a resenha <3
a obra dele é bem diferente ate das leituras espanholas que conheço kk é super poético e tocante, espero que goste da leitura.
Eu li uma “Marina” dele que peguei na biblioteca pública. Achei um pouco estranho, a leitura demorou um pouquinho, mas lembro que no final gostei muito! Em casa eu tenho “As Luzes de Setembro” e “O Príncipe da Névoa” que acabei de me dar conta que fazem parte de uma trilogia! Falta-me “O Palácio da Meia-Noite”. Eu ainda não li eles, ainda bem! Detestaria começar, gostar e não ter o livro do meio hehehe Bom saber que o “O Jogo do Anjo” pode ser lido de forma independente. Coitado desse protagonista! Quanta tragédia em uma vida só, né? Será que no fim da obra melhora? “Cemitério dos Livros Esquecidos, uma espécie de santuário que cada livro guarda a alma de quem o escreveu e a alma daqueles que viveram e sonharam com ele”. Qual seria esse livro nesta obra lindamente resenhada? Me conta 😀