A Maldição da Mansão Bly (2020-) da Netflix

“A Maldição da Mansão Bly” é uma nova série da Netflix criada por Mike Flanagan, o mesmo responsável pela série “A Maldição da Residência Hill” e pelos filmes “Doutor Sono” e “Jogo Perigoso”. Antes rumores diziam que se trataria de uma segunda temporada desta, mas aquela acabou por trazer uma história completamente única e diferente de Residência Hill.

A expectativa é que isso seja o início de antologias de casas mal-assombradas no estilo que Mike Flanagan parece estar criando, cujo principal objetivo é contar uma história com foco nos personagens e em suas experiências únicas, em que os fantasmas ganham uma dimensão que vai além da assombração. É um prato cheio para os amantes de histórias sombrias e casas mal-assombradas essa antologia não seria…

Para os desavisados que viram Residência Hill e esperavam algo tão assustador quanto, Mansão Bly pode ter decepcionado. Felizmente conferi a série encarando-a como única, como ela é proposta a ser. A experiência de ter assistido Residência Hill, ver o mesmo estilo sendo empregado para contar uma história diferente e poder rever alguns dos atores que participaram da primeira casa assombrada apenas contribuíram para tornar Bly uma das melhores experiências com shows de televisão nesse famigerado ano de 2020.

Essa nova maldição se passa em 1987, quando uma professora, Dani Clayton (Victoria Pedretti) decide fugir de seus problemas nos Estados Unidos e acaba por ocupar o cargo de Au Pair (trabalho que consiste em morar numa residência enquanto fica responsável por cuidar das crianças do lugar) na Mansão Bly, onde os órfãos Miles (Benjamin Evan Ainsworth) e Flora Wingrave (Amelie Bea Smith) vivem. Logo ela percebe que há algo de errado com as crianças.

Bly é uma adaptação de alguns contos de Henry James, em especial do “A Volta do Parafuso” (The Turn of The Screw), de 1898, que já serviu de base para muitas adaptações – dentre elas, a incrível “Os Outros” (2001) e a terrível “Os Órfãos” (2020). Flanagan decidiu por adaptar essa história, porque viu a possibilidade de utilizar outros contos de Henry que não são tão lembrados e decidiu por concatená-los numa só série de televisão. O criador também expôs, em vídeo promocional da Netflix, que sua intenção era a de apresentar algo diferente de Hill, e foi aí que surgiu a Mansão Bly, não apenas como uma simples história de fantasmas, pois, para Flanagan, uma história de fantasmas também é uma história de amor.

Amar verdadeiramente outra pessoa é aceitar que o trabalho de amá-la vale a dor da sua perda.

Victoria Pedretti, que já havia interpretado a Nell Crain em Residência Hill, volta para dar vida à Dani. De início pode até ser estranho ver esses atores interpretando novos personagens, mas a essa sensação passa rápido, pois o roteiro e direção sabem apresentar os personagens e suas dores. Até mesmo a já batida tática de se contar uma história por um narrador. No caso uma contadora de história, interpretada por Carla Gugino, ganha relevância no decorrer da história.

A mansão também possui outros empregados, como a jardineira Jamie (Amelia Eve), o cozinheiro (Rahul Kholi) e a governanta Sra. Grose (T’Nia Miller). Junto da Dani e das crianças, eles formam uma verdadeira família. Cada um ganha sua oportunidade para contar sua história em diálogos e monólogos incríveis.

Junto à atuação, a ambientação e a iluminação também auxiliam na imersão do espectador. Não há como não ficar com uma expectativa macabra em toda cena em que o lago e um certo quarto aparecem. Sem falar do figurino da Sra. Grose, pois até ele ajuda a contar a história.

As crianças ganham especial atenção por suas interpretações. Miles e Flora têm o nível perfeito de esquisitice. Às vezes são meigos e educados; outras são confusos e tenebrosos. A tensão sempre está presente quando estão em cena, pois parecem ter conhecimento de algo muito sombrio que acontece na mansão.

Os fantasmas escondidos voltaram em Mansão Bly, assim como havia em Residência Hill. Mas os “jump scares” diminuíram muito, e o clima de terror foi reduzido, pois, em Bly, o espectador pode percorrer alguns bons episódios sem necessariamente “ter medo”. Em Bly, Flanagan pareceu dedicar-se à arte de contar sua história. Isso se confirma no quinto episódio (nossa, que episódio!).

“A Maldição da Mansão Bly” estreou em outubro de 2020 na Netflix sob o legado deixado por “A Maldição da Residência Hill”. Apesar de não ser assustadora como Hill, Bly pode deixar seus espectadores de boca aberta, pois, quando seus fantasmas aparecem, eles são também muito perigosos.