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Atenção
Caso se reconheça em alguma parte da resenha PROCURE AJUDA de um profissional ou clicando aqui (SETEMBRO AMARELO).
A resenha a seguir falará sobre depressão e suicídio.
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Toda resenha que vi e li sobre o título diziam a mesma coisa: “é uma história pesada, leia em um momento bom da sua vida para não se deixar levar” e coisas do tipo. Então, quando peguei o livro e sentei para ler, me decepcionei porque não achei nada pesado, nada muito surpreendente. A escrita é de fato muito boa; flui, é um livro que pode ser lido em dois ou três dias muito tranquilamente. Mas… vamos lá, deixa eu explicar um pouco da obra.
O livro é todo escrito em primeira pessoa e através dele conhecemos Esther Greenwood, uma estudante universitária brilhante, capaz de sair do subúrbio para uma prestigiada universidade e conseguir um concorrido estágio em uma revista em Nova York. Esther tem tudo para ser um simbolo de ascensão social, exceto talvez pelo fato de que a moça não está nada bem. As hipocrisias cotidianas, violências simbólicas, mascaras sociais, pressões culturais impostas as mulheres, angústias cotidianas, medos, solidão e cobranças batem na estrutura psicológica dela dia após dia, além de consumirem as bases de sustentação do prédio todo.
A protagonista se sente como uma criança solitária olhando um desfile luxuoso encabeçado por um Rei nu. A multidão percebe a nudez dele, mas o aclama como se ali houvesse sedas e fios de ouro, vivem a festa da insignificância, convidam Esther a fazer o mesmo. Ela não consegue e definha… definha… definha… Vai se desconectando da multidão, da visão do “Rei nu”, de todos que sentem o mesmo que ela… Esther Greenwood sofre de uma feroz depressão.
Vejam só do que esse país é capaz, elas diriam. Uma garota vive em uma cidade no meio do nada por dezenove anos, tão pobre que mal pode comprar uma revista, e então recebe uma bolsa para a universidade e ganha um prêmio aqui e outro ali e acaba em Nova York, conduzindo a cidade como se fosse seu próprio carro.Acontece que eu não estava conduzindo nada, nem a mim mesma.
De página em página acompanhamos o definhar dela, o passo a passo de como ela se desconecta de tudo e todos, como vai se perdendo de si, como a falta de sentido vai cercando ela de ponta a ponta, como uma redoma de vidro pousa sobre ela. De repente, o próximo fica distante e tudo e nada viram a mesma coisa para ela.
O livro angustiante, poético, sem rodeios ou subterfúgios, mas não é dramático, Plath não apela para nada além da verdade de seus sentimentos. Este é um relato autobiográfico da vida e dos sentimentos da própria Sylvia Plath. Após a leitura descobri que ela é uma importante poetiza americana, que também habitou o doloroso mundo da redoma de vidro. No verão de 1952, tentou o suicídio e foi internada em uma clínica psiquiátrica.
É doloroso ver como a família não compreende e acha que Esther está naquela situação por que quer. É revoltante como existia (desconfio que ainda existam) uma gama de profissionais mal preparados para cuidar das pessoas, é desconfortável a intervenção dos religiosos, é de da vergonha é duro/desconfortável está dentro da cabeça de alguém terrivelmente deprimido.
[…] odeio gente que pergunta como você está e, mesmo sabendo que você está na pior, espera que você responda ‘tudo bem’. – Estou péssima.
Esse é o tipo de livro que marca e informa. É um relato sem frescuras de uma pessoa que esteve na redoma de vidro e foi tragada por ela até não sobrar nada. Como a Sylvia Plath se suicidou pouco depois de ter escrito esse livro, considero ele como um presente a todos nós. Ler esse texto nos da a oportunidade de ter uma ideia de como é sofrível está deprimido.
Com sua escrita precisa Sylvia Plath diz que as pessoas não ficam deprimidas por desejo ou necessidade de chamar atenção. Depressão é uma DOENÇA, é REAL, MATA.
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“Para uma pessoa dentro da redoma de vidro, vazia e imóvel como um bebê morto, o mundo inteiro é um sonho ruim.Um sonho ruim.Eu lembrava de tudo.(…)Talvez o esquecimento, como uma nevasca suave, pudesse entorpecer e esconder aquilo tudo.Mas aquilo tudo era parte de mim. Era minha paisagem.”
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Particularmente nunca sei o que fazer em relação a depressão, mas sei que as pessoas só podem ser o que são e talvez encarar a realidade do que elas são. A sua paisagem interior como verdadeira, por mais árida que seja, possa ajudar. A gente só pode ser o que é, nada mais ou menos. Aceitar, ser aceito faz bem, ajuda a enfrentar a vida e encontrar soluções para a solidão.
É interessante, para não dizer desesperador, como alguns dilemas e dificuldades (questões como contracepção, estupro, descoberta da sexualidade) enfrentadas por uma jovem-mulher-branca-de-classe-média, nos EUA dos anos 60, se assemelham tanto a situações vividas por qualquer mulher, de qualquer cor e qualquer poder aquisitivo, em qualquer lugar do mundo em pleno século XXI. Sim, estou sendo muito reducionista, falo do alto dos meus privilégios partilhados com a protagonista, a situação de muitas mulheres é ainda pior. Tudo isso para dizer que o romance de formação é, sim, uma grande ferramenta de aprendizagem do que é “ser” e de como fazê-lo, mas não sem representatividade.
Precisamos de mais romances de formação escritos por mulheres cis, por mulheres trans, por mulheres lésbicas, por mulheres negras, por mulheres indígenas, por mulheres que reúnam todos os adjetivos ou não. Precisamos de mais mulheres escrevendo, mais mulheres lendo mulheres, mais mulheres conversando com mulheres e sobre mulheres, sobre o que é e como ser mulher. Precisamos demais. Enquanto isso, recomendo que vocês, mulheres – homens também -, leiam A Redoma de Vidro, mas só de você ter lido até aqui eu já fico grata, afinal eu sou. “Eu sou, eu sou, eu sou”, parafraseando Esther.
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Sylvia Plath nasceu em Boston, EUA, em 1932. Teve uma passagem melancólica por Nova York, tentou o suicídio por mais de uma vez, casou, em 1956, com o poeta inglês Ted Hughes, e foi com ele para Cambridge, Inglaterra. Teve dois filhos. Escreveu seus poemas capitais, publicados postumamente em Ariel (1965), uma de suas obras mais importantes.
A autora sempre escreveu sobre seu universo íntimo, sem esforços para disfarçá-lo. Em seu único romance, A redoma de vidro (1963), escreve sobre o período em que sofreu um surto depressivo, transformando as pessoas de sua vida em personagens. Já os poemas de Ariel, evocam o desespero dos últimos meses de vida, em meio à pobreza e ao isolamento que sucedeu sua separação do marido infiel. Impossível lê-los sem procurar entender a sua morte.
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A Redoma de Vidro
Autor: Sylvia Plath
Ano de Publicação no Brasil: 2014
Gênero: Não ficção
Editora: Bibliteca Azul
Nº de páginas: 280
País de origem: EUA
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De cara no começo da resenha já me lembrei do livro “O Cemitério” do King, pois todo mundo fala que tem um momento certo para ler ele, que até hoje não chegou pra mim, pois o assunto retratado me impacta muito e acho que com A Redoma de Vidro vai ser a mesma coisa, ultimamente estou filtrando meu conteúdo pada bem leve, pois eu sou muito sensível para esse conteúdo e fico dias traumatizada e afetada! Parabéns pela resenha, como sempre com muita qualidade e informação, mas sem spoilers! ❤️
Ahhhhh, eu não li esse livro ainda (não sei bem se lerei por causa do conteúdo, dependendo da leitura ela me afeta um pouco), mas lembro dele porque está na lista de livros lidos da Rory (Gilmore Girls) e eu adoro essa série. Eu não sabia da história da Sylvia Plath. É muito triste! Eu fico muito p.. da vida quando acham que ter depressão é “falta do que fazer”. Gente, é uma doença muito séria! Adorei sua resenha, achei clara e impactante. Espero ter a chance de ler esse livro um dia.