A Sombra do Vento (2001) de Carlos Ruiz Zafón

 
Esse é o primeiro livro de Zafón que li e que o fez se consolidar como um dos meus autores favoritos dada a sua forma única de contar histórias. Isto porque nunca temos apenas uma história, mas um emaranhado de tramas o qual se convergem num costurado de enredo tão bem amarrado que nos arremata da realidade de uma maneira na qual poucas obras literárias são capazes. Mergulhamos na vida desses personagens de modo gradual e tão completo que é como se lêssemos vários livros dentro de uma mesma história.
Sendo a primeira obra de grande sucesso A Sombra do Vento faz parte da série O Cemitério dos Livros Esquecidos que conta com mais duas obras (O Jogo do Anjo, 2008, e O Prisioneiro do Céu, 2012).
Tudo começa quando, no final da infância, Daniel Sempere é levado pelo pai para conhecer o Cemitério dos Livros Esquecidos, como uma forma de ajudá-lo a superar a perda da mãe. É nesse lugar cercado de livros e mistérios que Daniel encontra A Sombra do Vento, livro de um autor desconhecido chamado Julian Carax. Imerso nas páginas fascinantes da narrativa do escritor, Daniel se vê intrigado e interessado em descobrir o homem por trás das palavras.
É aí que imerge no mistério envolvendo Julian de quem pouco se sabe e muito se especula. A sua descoberta pelo romance, instinto de todas as livrarias e bibliotecas do mundo, leva-o a conhecer Clara Barceló ― cujo tio quer comprar o livro a todo custo e a qualquer preço ― por quem o jovem Daniel de quinze anos se apaixona. Fermín Romero, um homem de passado nublado que vive nas ruas, o qual acaba se tornando um amigo fiel quando Daniel e seu pai o empregam em sua livraria.

“Numa ocasião ouvi um cliente habitual comentar na livraria do meu pai que poucas coisas marcam tanto um leitor como o primeiro livro que realmente abre caminho até ao seu coração.”

O mais mágico em Zafón é que a gente nunca lê uma história só. Geralmente, o passado das personagens em livros que habituamos ler se mescla de forma fragmentada na trama, de modo que sabemos aquilo que precisamos para entender seu contexto presente.
Mas, com Zafón, isso não acontece. Ele nos mostra a história de cada personagem de maneira total e no momento certo para nos inteirarmos, nos apegarmos e sofrermos suas lutas e seus infortúnios, de forma que a empatia que sua narrativa, por vezes poética e por vezes crua, nos desperta é tal que submergimos no mundo daquele personagem e nos desprendemos do nosso próprio mundo.
Além disso, o universo apresentado é de tamanha verossimilhança, tal como, suas personagens imperfeitas e impecavelmente construídas. É muito fácil esquecer que os acontecimentos não são reais ou mesmo não imaginar todo o filme do que vamos lendo na nossa mente.
A trama, costurada de maneira a nos deixar ávidos e cheios de adrenalina, mescla o drama e a tragédia de Shakespeare e Sêneca com elementos de aventura, ação, mistério e um toque de horror. Zafón nos cativa com uma história sobre amor, sacrifício, obsessão e ódio que nos leva a refletir sobre a brevidade da vida e o poder das nossas escolhas.
Esta é uma das poucas obras que precisa de um público em específico, todos que apreciam a arte de ler deviam lê-la.

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