Battle Royale (1999) de Koushun Takami

Geralmente faço uma pequena introdução sobre a obra, mas neste seremos um pouco diferente.
Comentários iniciais:
1. Suzanne Collins certamente copiou Battle Royale. Normalmente, eu diria “inspirou-se”, entretanto, como ela mesma afirmou que desconhecia a obra de Takami… Bem… Se negou, é porque tem culpa no cartório, né não? Então, copiou. E sim: você vai encontrar diversas semelhanças, das explícitas às mais sutis, espalhadas pelas centenas de páginas.
2. Vou contrariar a nota desse livro. Battle Royale é bom? É. Próximo da perfeição dos 5.0? Eu não chegaria a tanto, pois tive um grande problema com essa obra e que foi difícil de contornar.
Temos um Japão distópico, mergulhado num governo ditatorial que é do mal, mas que já vimos piores. Tipo, você pode ter uma vida decente e ser levemente rebelde sem morrer, porém, estamos te observando, então, te cuida.
Nesse Japão diferenciado, o governo tem uma espécie de controle que é aplicado, de tempos em tempos, em turmas do nono ano de escolas aleatórias. Consiste no seguinte: essa turma é capturada, jogada num lugar, os alunos ganham armas e tem que matar uns aos outros até que sobre um.
Os aluninhos da vez achavam que estavam indo para uma viagem de estudos quando o ônibus deles é pego por agentes do governo. Todos são colocados numa ilha, onde recebem as regras básicas:
1. Matem-se
2. De seis em seis horas vamos dar a lista de quem já morreu e anunciar qual quadrante da ilha tornou-se proibido
3. Não há escapatória
4. Bom jogo! Beijos

Relaxe quando for necessário. Mas também esteja preparado para quando for preciso. Ou seja, não erre em seu julgamento.

Com o acréscimo de que cada estudante tem uma coleirinha do pescoço, que monitora a posição e explode caso eles fiquem num quadrante proibido ou façam bobagens fora das regras. Como o governo é simpático às dores da adolescência, cada um deles ganha também uma mochila com artigos básicos (como uma garrafa de água), como também, uma arma (que pode ser qualquer coisa).
E que os jogos comecem.
Já no início, somos premiados com emoção e uma boa dose de sangue. No entanto, essa parte é meio entediante – principalmente porque eu não fui com a cara de um personagem em especial… O protagonista.
Shuya. O perfeito.
Acho que em metade das resenhas que eu faço, tem uma revolta do tipo “tenho NOJO desses personagens perfeitos demais” – mas vou ter que repetir isso com o Shuya. Ele é bonito, atleta, simpático, roqueiro (e rebeldezinho por causa disso), metade das meninas da turma o idolatram… E é a criatura mais chata do livro inteiro.
O cara está no meio de uma matança com seus colegas de escola e passa praticamente o livro inteiro pensando que nããão, meus coleguinhas não são capazes de matar, vamos nos unir e fugir, porque juntos podemos mais e vai se fud####! Guri chato! Vai ser ingênuo assim no inferno! ( – pra se ter uma ideia do quanto odiei o pequeno Shuya -).
Odiar o protagonista já é prejudicial, afinal, mesmo com os outros muitos personagens, é ele quem acaba aparecendo mais. Contudo, é pior ainda quando a gente odeia também a protagonista n.2: Noriko. A menina é delicada, gentil, frágil, uma pentelha. É a típica personagem feminina que eu não aguento, principalmente com tantas gurias fod#s na literatura atual – cito, inclusive, a própria Katniss. Pode até ser plágio e Katniss teve seus momentos de chatice, porém, dá 209320832983 a zero em Noriko, que tudo o que faz é esperar por Shuya, ficar doente, ser salva, ser protegida. No final, ela até tem uma atuação melhorada, mas foi tão diferente do que ela foi no livro inteiro que, para mim, ficou completamente fora de contexto.
Para completar o trio principal, temos o n.3, o salvador da pátria: Shogo, um cara com aparência de marginal, misterioso e extremamente conhecedor das manhas do jogo. Ele praticamente carrega Shuya e Noriko nas costas, sempre tentando fazer Shuya entender que não, nós não vamos dar as mãozinhas para os colegas e cantar kumbaya.

Todos na turma evitavam Shogo, seja pela diferença de idade ou pelos rumores que corriam a respeito dele. Shuya, porém, odiava que as pessoas fossem julgadas apenas por boatos. Alguém disse certa vez que, se for possível constatar com os próprios olhos, não há razão para dar ouvido ao que os outros falam.

Além das reclamações com dois dos personagens do trio, houve outra coisa me irritou no livro: a repetição da frase “temos que matar uns aos outros” e “porém”. Até a metade da obra, “porém” aparecia uma 8 vezes por página… Detalhes que me deram nos nervos. Ah, e quase me esquecendo dessa obsessão terrível com romances que Takami explorou na história: por que? Por que todo mundo tinha que gostar de alguém? Tem gente tentando te matar e tu vai ficar se perguntando “será que ele gosta de mim também?”? Não, né! Achei bem forçado e descabido os romances espalhados pelo livro – e que foram muitos.
Agora, vamos falar de coisa boa. Porque, sim, apesar das minhas diversas reclamações, achei vários elementos maravilhosos nessas 664 páginas. A começar por alguns dos outros estudantes dessa turminha do barulho: Shinji, Takako, Hiroki, Mistuko e Kazuo são, definitivamente, os destaques. Também gostei da menina que era a representante de classe, mas esqueci o nome dela… Yukie? Não sei, algo assim. Achei ela muito simpática.
Shinji deveria ter sido o protagonista: era inteligente, simpático e desejado por todas, entretanto, sem aquela aura de perfeição forçada do Shuya. Hiroki, mesmo sem muitas palavras, era extremamente realista. Takako deveria estar no lugar de Noriko – era forte, destemida, uma verdadeira final girl. E Kazuo e Mitsuko… Deveriam entrar para o hall da fama do mal. Personagens incríveis, os melhores do livro – especialmente Mitsuko.
Esses personagens valeram todas as páginas em que eu tive que aguentar a chatice de Shuya e Noriko. O que me deixa triste é que pouco tempo foi dedicado a uma exploração mais profunda desse grupo, ainda mais no que diz respeito a Mitsuko. Sério, faz cerca de duas semanas que finalizei a leitura e permaneço com essa guria na cabeça… Merecia um livro só dela!

Nada pode ser mais aterrorizante que já nasce sem opções.

Acrescento ainda que a violência e descrições de mortes estão muito boas e detalhadas. E se até a metade o livro é meio chato, da metade pro final ele ganha um ritmo que te faz ficar vidrado. É muita ação, além de uma escolha acertada do escritor: não trabalhar com tanto destaque em cima dos “protagonistas” e abrir algum espaço para os outros estudantes. As mortes costumam pegar de surpresa e um detalhe – no final de cada capítulo, sempre aparece a quantidade de estudantes que ainda estão vivos. Eu tinha que me controlar para não avançar e me fazer um auto-spoiler, checando quantas mortes iriam acontecer.
Para finalizar, uma última crítica: senti falta de algumas explicações. O universo distópico desse Japão ficou meio aleatório e os motivos para a realização desses jogos com estudantes não convencem, sendo bem rasos… Por que o Japão ficou desse modo? Quem realmente é o líder? Onde estão os outros vencedores? Collins pode até ter plagiado, mas a construção de mundo dela é mais eficiente do que aquilo que aparece em B. Royale.
Enfim, resenha gigante para um livro gigante. Não foi perfeito, mas valeu pelos personagens memoráveis.
Ah, um adendo: não esperem demais pelo final. Comparado com o restante da história, ele chega a ser broxante (e quando eu falo “final”, não estou me referindo às 50 ou 10 últimas páginas… Nessas, até acontece uma reviravolta empolgante. Eu estou me referindo, literalmente, ao final – a última página. Ou duas últimas páginas. De qualquer jeito: não gostei. Acontece.)
É um livro que pode ser indicado sem medo de errar para os fãs de terror, suspense, romance (os que não sejam tão impressionáveis) e outros gêneros. Mesmo para o público que não se interessou ou não gostou da franquia “Jogos Vorazes”, vale a pena dar a esse livro a chance de lhe surpreender, sendo, na pior das hipóteses, um belo clássico que você, leitor, terá na sua estante.

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