Coringa (2019)

Senhoras e senhores… o assunto hoje é pesado, sobre um filme escuro que lida com muitas emoções. Hoje é sem piada, porque não tem palhaço nenhum aqui. exceto o do filme, mas aí vocês entenderam o que quero dizer.

Sendo bem sério agora, acho justo que essa resenha não seja feita apenas por uma pessoa, eu pelo menos não acho justo uma única cabeça tentar explicar a complexidade de um personagem como o Coringa, que não só está enraizado no meio popular como um vilão da DC, como também uma pessoa de muitas peculiaridades. Eu, Asan, e a Carolina, da equipe do Resenhas do Mundo Pop resolvemos juntos tentar passar um pouco do que é Coringa e porque todo essa comoção pelo filme.

Coringa não é um filme sobre alguém se quebrando, é sobre alguém que já é quebrado, entretanto, vai se esfarelando durante o filme. É muito importante falarmos que o cenário do filme é a caótica Gotham. Então, você vê crimes serem costumeiros, violência em cada canto, uma “pobreza” intelectual das pessoas que contribui para que tudo permaneça como está.

Justamente nesse meio temos Arthur Fleck, um adulto com problemas mentais que trabalha em uma empresa como palhaço, almejando um dia ser um grande comediante. Aos poucos no filme você cria empatia pelo Arthur e sua situação. As ruas violentam o rapaz. E quando eu digo isso, não digo apenas fisicamente, mas, para alguém que já demonstra ter problemas psicológicos, lá só acentuam sua situação, jogando-o de um lado para o outro.

Arthur é portador de uma doença, (não me arrisco a dar um laudo baseado em uma simples busca na internet) que ironicamente faz o maior símbolo de felicidade, o sorriso, ser lidado no filme como um momento de fraqueza. Pior ainda, é rindo e vestido de palhaço que ele faz a sua primeira grande atrocidade.

 

{C} A transformação de Arthur no Coringa é o que consagra o roteiro, que poderia ser só mais uma história batida sobre um homem que se vê como vítima das circunstâncias. O público se pega sentindo pena de alguém tão miserável. Contudo, quanto mais infelicidades na vida dele, mais bizarra fica sua risada involuntária, menos confiável é seu ponto de vista sobre os acontecimentos, assim como, mais errático e perigoso é seu comportamento – o que, talvez, comprometa a interpretação dada ao longa.

A partir de um certo ponto do filme, você vê que não só o falho tratamento psiquiátrico do personagem. Todos os cenários onde ele se envolve durante o filme trazem a tona um monstro espetacular.

{C} Falando em espetáculo, resta enaltecer três pilares que dão sustentação para toda a obra: fotografia, direção e trilha sonora. Primeiro que este é provavelmente o primeiro retrato mais ousado de Gotham durante o período diurno. Por não precisar focar no Batman, o filme não necessita criar situações que obriguem a execução no período noturno. 

Minhas críticas ao filme são quase todas positivas… quase.

Há um plot no filme que ao meu ver, é totalmente descartável e o filme se sustenta sem ele. Sem dar spoilers maiores, Arthur vive sob uma trama envolvendo os Wayne… pois é, eu achei um pouco forçado demais, como se quisessem encaixar o Batman (não, ele não aparece e nem é citado) de alguma forma, mesmo que indiretamente.

Fazer uma resenha desse filme é extremamente complicado. Falar da atuação, direção ou enredo é relativamente simples, mas tentar analisar o personagem talvez ainda esteja fora dos meus domínios. Principalmente só havendo 1 chance de assistir. Por isso, a Carolina bolou algumas perguntas que vamos responder ao fim falando um pouco do filme.

5 questões:

01. Vilão, anti-herói ou coitado?
Asan: Talvez eu esteja sendo muito radical falando isso. Posso até mudar de opinião depois, porém, ao meu ver, durante o filme, Arthur Fleck caminha para se tornar um vilão. “Ha, mas ele passa por muita coisa”, concordo. Ele aprende a revidar, a se defender. Mais do que isso, no meio do processo existem pessoas inocentes que são atropeladas pela ira do personagem. Melhor ainda, ele começa como coitado, passa para um anti-herói e “ou você morre como  herói, ou vive tempo suficiente para virar vilão”.


Carolina: O que Coringa traz para a mesa — assim como outros cautionary tales antes desse — é que, no nível mais básico, coisas ruins acontecem quando o governo negligencia uma parcela da população. Sim, é catártico observar um grupo de pessoas se revoltando violentamente contra um sistema que não faz nada além de rechaçá-los, mas isso só funciona no ambiente controlado de uma sala escura com um projetor.

02. Afinal, será que Arthur Fleck teria se tornado Coringa se tivesse sido bem tratado no emprego, no programa de televisão ou pelo seu pai?
Asan: Como diria Aslam “Nunca saberemos o que teria acontecido”. De fato, essa seja a melhor resposta. Além do mais, essa pergunta é muito mais profunda do que pareça, tratando-se de que ele se tornou o Coringa por várias questões, entre elas essas da pergunta, acredito que possivelmente ele não fosse o Coringa (mas talvez outra pessoa?).

Carolina: Ainda que todos tenhamos uma parcela de culpa sobre determinados psicopatas que saem por aí causando o caos, isso não significa que eles sejam menos culpados por atos terríveis que cometem e, sem dúvida, devem pagar o preço por isso.

03. O que poderia vir depois desse filme do coringa, referindo-se a filmes da DC?
Asan: Com base no universo da DC nos cinemas, não espero nada. Talvez a DC aprenda a fazer filmes diferentes agora. Tenha achado um produto característico dela. Uma fórmula de cinema, a qual ela possa replicar em outros filmes solos. Enxergando o atual, por exemplo, não consigo ver Shazam, Mulher Maravilha e esse Coringa no mesmo cenário. O filme é magnífico, contudo, tentar replicar o personagem no universo da DC produzido pela Warner seja um tiro no pé.

Carolina: Prefiro não criar expectativas com os filmes da DC, assim como havia uma alta em esquadrão suicida e surpreendeu para mal, porém talvez a DC tenha achado a fórmula para seus filmes e de fato seguir uma nova linhagem de vilões e heróis mais obscuros não só pelas próprias histórias pessoais como também pela sociedade que o colocou naquele ponto.

04. Dos filmes da DC, esse é o melhor já feito?
Asan: Complicado. Acredito que ele esteja em um conjunto separado de filmes. Dizer que algo é melhor ou pior vai muito da questão de gosto. Claro, requisitos técnicos a se avaliar: atuação, direção, etc. Fora que, ele foi um filme preparado para um público específico. Não tem como comparar o Coringa, por exemplo, com o filme do Aquaman. Por mais que sejam o mesmo “universo” de histórias, são cenários diferentes, direções diferentes, propostas diferentes.

Carolina: Na minha mente sim, além de ser um personagem complexo foi desconstruído na nossa frente aos poucos nos afeiçoamos ao Coringa e vemos que a sociedade ajudou sim a corrompê-lo e fugiu da temática tão fantasiosa que o trouxe para o mundo real. Entretanto, concordo com Asan que são temáticas diferentes.

05. Phoenix fez o melhor coringa?
Asan: De novo, pergunta com cunho “gosto pessoal”. Se fomos pegar os coringas já feitos, cada um na sua época teve sua representação para o que foi pedido. Para ficar claro, vamos pegar o Coringa do Phoenix e outro aclamado coringa: Ledger. Ambos são o mesmo personagem, mas estão não só em tempos de vida diferentes, como em filmes um pouco diferentes. Particularmente, eu ainda prefiro o do Ledger, porém é mais por uma questão de ambientação de filme, onde “Cavaleiro das Trevas” remete muito mais ao heroísmo (por mais que não seja um filme de super herói), enquanto que o Coringa traz mais o “humano”.

Carolina: Coringa é o filme que Jared Leto queria ter estrelado. Sem vergonha em deixar claro que bebe na fonte de obras de Martin Scorsese, o filme de Todd Phillips se orgulha de ser um “filho bastardo” dos filmes independentes que questionam o status quo. Numa época em que governos autoritários agem com descaso para a saúde mental de seus cidadãos, ter um blockbuster que coloca o dedo nessa ferida e expõe como as notícias do dia a dia podem levar qualquer um à insanidade é um respiro de alívio que mostra que a Arte sempre vai dar um jeito de se fazer ouvir. Então, para o atual cenário esse se tornou sim O melhor.

Assistiram ao filme? Fiquem à vontade de responder as perguntas nos comentários também!

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