Se você acompanha o instagram aqui do blog, deve ter visto que a primeira curiosidade sobre mim é que eu ADORO o Stephen King (se não nos segue, corre lá no @beladistopia, não custa nadinha). Bem, a resenha de hoje é sobre o meu livro favorito do reizinho do terror, “O Cemitério”, cujo nome original é “Pet Sematary”, ou o ‘Simitério’ de pets.
Antes de começar a resenha propriamente dita, uma curiosidade: após finalizada, a obra levou 4 anos para ser publicada. O autor considerou a história macabra demais para ser comercializada, até que resolveu, finalmente, presentear o mundo com uma de suas obras mais fantásticas.
O livro conta a história da família Creed, formada pelos pais, Louis e Rachel, e pelos pequenos, Ellie e Gage, com seis e dois anos, respectivamente. Não podemos esquecer também de Church, o gato da família, que pelo próprio título da obra, merece atenção.
Médico, Louis se muda com a família de Chicago para uma mansão nos arredores da cidade de Ludlow, próxima à Universidade do Maine, seu novo trabalho. Já no primeiro dia no emprego, o doutor se depara com uma experiência um tanto sobrenatural após assistir ao paciente de acidente de carro. Victor Pascow, o atropelado, tem um papel importante no desenrolar da trama. Leiam para conferir.
Apenas a profissão do pai da família é abordada no livro. Sua esposa, Rachel, quase não tem voz até as últimas partes da história. Quanto aos filhos, Ellie está naquela frase de descobrir o mundo e de fazer perguntas, inclusive sobre um assunto cujos pais discordam: a morte.
Gage, por sua vez, é apenas uma criança que mal consegue falar frases direito. O menino basicamente só anda pela propriedade e persegue o gatinho de Ellie, Church, que é um felino amoroso e extremamente dócil, pelo menos até o livro começar a ficar macabro muahahahahaha.
O trabalho dos sonhos, uma família feliz e perfeita, uma mansão enorme. Tudo parece sem defeitos, num primeiro momento (exceto pela estrada movimentadíssima que passa em frente ao lar dos Creeds). Parte importante de rotas comerciais, a rodovia é repleta de caminhões que circulam numa velocidade altíssima, oferecendo riscos de atropelamento.
Dono de um latifúndio quilométrico, Louis só possui três coisas ao redor além da vegetação arbórea: os vizinhos Jud e Norma Crandall, um cemitério de pets e um “solo mais duro” que vamos falar sobre daqui a pouco.
Jud e Norma são um amoroso casal de idosos e, para Louis, caipiras. Embora Norma apareça poucas vezes até um determinado momento do livro, seu esposo é de extrema relevância para trama. Jud ficou com a tarefa de apresentar os cemitérios – e os segredos – presentes na propriedade de Louis.
Primeiro, o conhecido “Simitério” de Pets, que só existe por conta da rodovia, cujos caminhões provocam a morte de bichinhos de estimação a anos. O nome errado se dá pelo fato das crianças que cuidam do lugar, onde enterram os seus animais desfalecidos.
Mas, e se ao invés de “descansar em paz”, os animais pudessem voltar vivos – embora diferentes – para os seus pequenos donos? E se a morte pudesse finalmente ser vencida, e juntos, criança e pet, pudessem novamente brincar?
Atrás do inocente cemitério de bichos, alcançado por um caminho um tanto tortuoso, um outro cemitério indígena e abandonado espera por corpos. Criado pela tribo dos Micmac, o solo “sagrado” guarda segredos que desafiam as mais fortes convicções dos Creed.
Church, atropelado, é posto por Louis no solo mágico dos Micmac (calma, não é um spoiler, está na orelha do livro) e volta à vida. Vendo esse milagre, o que nosso médico poderia fazer se visse um de seus próprios filhos ser levado da família, por algum acaso inconveniente? Será que a morte, apenas um evento natural e corriqueiro na vida de um médico, continuaria sendo tão inevitável assim?
É isso que torna o livro de King mais incrível. Você já pega o livro sabendo do enredo básico. Mortos voltam à vida, pronto, nada demais. Até que você lê.
A obra começa retratando a imagem da família perfeita, onde cada uma dos integrantes exerce sua “responsabilidade” de forma feliz. Conforme o livro se aproxima de seu clímax e desfecho, é possível identificar que o ceticismo e o medo são formas de lidar com o fato de que não controlamos a morte. Além disso, mesmo que pudéssemos dar um fim a essa impotência, estaríamos certos?
King também acerta na escrita e nos detalhes. Confesso que passei uma semana sem dormir direito após a leitura, imaginando as cenas incrivelmente ilustradas de Louis se dirigindo ao terreno dos Micmac, que inclusive perceberam por si só que o lugar era maldito.
Outra coisa interessante, é que a visão do “mal” pode ser incorporada em qualquer crença que possua um ser “antagônico”. Desde a divindade profana indígena a um mega diabo cristão, todo mundo sente medo do sobrenatural, cujas manifestações tornam-se cada vez mais marcantes no decorrer da trama.
A King também cabe a incrível capacidade de dar vida ao inanimado. Como o carro Christine ou o Hotel Overlook (confira aqui a resenha de “O Iluminado”), o terreno sagrado da história parece ser o próprio vilão. O demônio não está em um ponto específico do lugar, mas parece ser onipresente, ali.
Antes do meu biscoito final ao reizinho, uma última curiosidade: a história é quase real. Calma, estou exagerando. O fato é que o autor resolveu criar “Pet Sematary” após o gato de sua filha morrer e ser enterrado em um terreno parecido com o cemitério de bichos da obra. É interessante pensar que o livro surgiu justamente dessa preocupação com a morte e sua chegada inevitável. A obra tem influência no conto de Terror, “The Monkey’s Paw” (em português, “A pata do macaco”), escrito por W. W. Jacobs em 1902.
Quanto ao biscoito, vamos lá: este livro é sem dúvidas o meu terror favorito, embora os dois filmes existentes passem longe do terror, o que é comum com a maioria das adaptações das obras de King para a telona. O assustador é justamente imaginar a história, sentí-la, ser imerso no medo que os personagens vivenciam. O primeiro “Cemitério Maldito” é mais fidedigno, diferente do mais recente, cuja resenha você encontra aqui.
Que não controlamos a morte ainda, é óbvio. Mas podemos, por hora, evitar o aumento das chances de lotar o sistema de saúde e a morte quase iminente dos grupos de risco pelo COVID-19. Então, que tal ficar em casa e ler sobre morte, ao invés de se expor a esta?
Fiquem bem, leiam muito, vejam série, hidratem-se e sigam nosso instagram @beladistopia. Até a próxima resenha!