O Tradutor (2019)

Seja bem-vindx a mais uma resenha do blog! Hoje, iremos falar sobre um filme estrangeiro notório desse ano: O Tradutor.

Estrelado por Rodrigo Santoro, intérprete de Malin, Maricel Álvarez como Galdys e Yoandra Suárez como Isona, “O Tradutor” foi dirigido pelos irmãos cubanos Rodrigo e Sebástian Barriuso, com enredo da canadense Lindsay Gossling.

Como contexto histórico, social e político, temos Cuba entre os anos de 1990 e 1991, quatro anos depois do acidente catastrófico em Chernobyl, localizada na, ainda existente, União Soviética.

Malin é um dos professores de Literatura Russa na Universidade de Havana que, após o acordo entre os presidentes de Cuba e da União Soviética, no qual crianças vítimas do acidente seriam levadas para realizar seu tratamento na ilha, vê sua rotina mudar totalmente.

Abruptamente e sem nenhum preparo ou orientação, ele e mais três professores são dirigidos a alas específicas do hospital a fim de mediar o diálogo entre a equipe médica e os pacientes, traduzindo o espanhol para o russo e vice-versa.

Indicado para o setor infantil, Malin se vê em uma realidade muito distante da sua até então: casado, possuindo um filho e uma boa condição financeira, agora está imerso em um mundo onde crianças, longe de casa, têm que lidar com a dor do câncer e dos tratamentos de quimioterapia.

Confuso e assustado, tudo o que o professor quer é ter sua vida anterior de volta, porém, isso já não é possível. Ao seu lado, a enfermeira argentina, Gladys, além de cuidar dos pacientes, o ajuda a equilibrar-se na corda bamba que separa sua vida pessoal de seu difícil trabalho.

Após se encontrar com Alexi, um menino que está na área de isolamento devido ao seu frágil estado de saúde, o tradutor começa a entender que pode fazer muito mais por aquelas crianças do que simplesmente traduzir suas palavras: ele pode dar vida à elas. Através da leitura, escrita, de desenhos e canções, o professor universitário passa a viver a realidade dos pacientes e criando laços com os mesmos.

O filme mostra, de forma muito realista, alguns dilemas humanos e como lidamos com eles. Se, por um lado, Malin passa a se envolve mais com seu trabalho, por outro, Isora, sua esposa, e seu filho, Javí, o veem se afastando cada dia mais.


Durante o período que ele passa no hospital, notamos que muitos aspectos de sua vida, que antes eram considerados importantes, deram lugar à crise existencial que o afeta. Ademais, percebemos a dor e o sofrimento de mães e pais ao verem seus filhos em um leito hospitalar, quase sempre, sem a esperança de cura; seus atos, instintivos ou não, são justificados pela condição a qual foram expostos, estas que, vão muito além da radiação emitida por Chernobyl, embora fossem causadas por ela. Ali, podemos ver a beleza da arte na sua forma mais pura e simples de se expressar.

Além disso, “O Tradutor” evidencia bem a época retratada: os anos abundantes de Cuba antes do rompimento da União Soviética e a escassez a qual sua população foi exposta após sua dissolução. Fato é, que além do caráter humano e dramático da película, questões políticas também estão presentes para completar o plano de fundo.

Baseado em fatos reais, a carga emocional do filme é densa o suficiente para nos fazer refletir sobre a fragilidade humana e o valor que damos ao que temos, mas também muita fluida, ao ponto de não nos deixar desgrudar os olhos da tela. As atuações são perfeitas:  Rodrigo Santoro consegue transmitir toda angústia e sentimento com maestria. Maricel Álvarez, como Gladys, transpassa toda a seriedade e profissionalismo esperados de uma enfermeira e, ao mesmo tempo, uma humanidade fora do comum. Quanto às crianças que compõem o elenco, devo apenas dizer que simplesmente são a alma do filme.

A fotografia, o cenário e a trilha sonora fecham com chave de ouro o que eu poderia facilmente falar de um dos melhores filmes estrangeiros (aqueles que não são produção norte-americana) ou não, que já vi. Para compôr o enredo, imagens reais da visita do presidente russo a Cuba foram usadas, dando maior crédito à obra.

Caso os argumentos acima não forem o suficiente para lhe convencer a assistir, “O Tradutor” foi indicado por Cuba ao Oscar de 2020, na categoria “Melhor filme estrangeiro”. Exibido pela primeira vez no Festival de Sundance, o filme têm recebido excelentes críticas quanto à sua produção.

É uma obra encantadora, humana, profunda e real. Se eu fosse você, não deixava de conferir. Eu fico por aqui, nos vemos em breve!

Que a força esteja com você.

Por Agnes Rufino.

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