Peitos

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Na próxima tela, um pequeno vídeo surge na minha frente. Era de uma amiga minha, na sua rede social. O rosto branco coberto por um batom colorido. Meus olhos desceram e encontraram, presos sob tiras pretas parecidas com couro, peitos. Eram brancos, grandes.

Mirei neles, analisei seus detalhes. O cenário todo se movia, menos eles. Sentia como se a boca quisesse soltar algo, liberar um pequeno pedaço de seu desejo. Já nas calças, o corpo se manifestava com vigor e festejo.

Meu dedo curioso refez o mesmo trajeto. Colocou o vídeo de novo. E passam, os mesmos olhos, a mesma boca colorida e aqueles morros brancos, onde todos os olhos se acidentam e morrem. Ficam ali, observando e caçando os restos que deixaram lá.

Minha consciência parou, bateu-me e sacudiu. Gritou para eu despertar. Tentei a partir dali fazer outra coisa. Saí da rede social. Fui procurar um livro para ler, assim me dispersava daquele sentimento e vontade. Separara um que contava a história de um pequeno vilarejo, este ficava isolado lá no interior do Rio de Janeiro.

A história seguia seu rumo, mas logo fui traído por uma cena. O narrado comenta sobre como os moradores da vila ficavam apaixonados por uma estranha recém-chegada. A maior característica dela eram os seios fartos, cálidos e alvos como neve que nunca caíram nos morros do Corcovado.

Como um vulcão, sem hora marcada para sair em erupção, todo o desejo volta. Correu feito um cavalo branco pela boca, nuca e pau. Tudo dilatava. Possuído pelo espírito do equino, voltei para o celular, abri a tela, revi o vídeo. A mente com um movimento rápido, puxa as rédeas do desejo e atira na minha cabeça, usando sua munição letrada de festim. E diz:

“Pare já com isso! Você não consegue lidar com seus desejos? Você é um homem ou um lobo?”

Fiquei assustado ao pensar na resposta e imitar um lobo.

Propus comigo mesmo voltar àquele vídeo. Olhei os olhos, a boca pintada, a pele, a luz que banhava a cena. Então, vi o dito cujo, a dupla destruidora, os peitos brancos. Quando pensei que uivaria, descendo toda a cadeia evolutiva, nada senti. O desejo sumiu na névoa dos pensamentos, caminhava sem rumo pela mente. Ao dar por mim, surgiu na minha frente uma memória.

Lembrei-me que, naquela mesma rede social em que desfilava um corpo juvenil, trocara mensagens. Ela falara sobre nunca ser vista como uma pessoa, mas sim um objeto. Como garotos, desejavam subir aqueles morros e deitar a boca no cume. Sentia que só puxavam assunto com ela com interesse de ver o segredo guardado dentro do sutiã.

Era ela e os peitos, que sempre chegavam na frente, recebiam os aplausos e os comentários. Às vezes havia até apertos de mão enquanto ela ficara entre olhares e poucas consultas. Não eu seguiria esse caminho, resolvi desligar o celular.

— Por hoje, já chega. Hora de dormir — disse a mim mesmo.

Com a consciência tranquila, ajeitei a cabeça no travesseiro e fiquei feliz com o meu fim.

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