Sapiens: Uma breve história da humanidade (2011) de Yuval Noah Harari

Num período de negacionismo científico, terraplanismo e design inteligente, dialogar sobre as descobertas científicas é importantíssimo. “Sapiens: Uma breve história da humanidade” cumpre muito bem esse papel, misturando conhecimentos biológico-evolutivos com questões sociais e históricas. É um prato cheio para quem deseja conhecer e dialogar sobre as questões filosóficas de “quem somos?” e “para onde vamos?”.

(Nada impessoal, antes de começar esta humilde resenha, devo admitir que o livro é um dos meus favoritos. Então, já deixo a minha sugestão de leitura para vocês.)

O autor e professor de história, Yuval Noah Harari, é responsável por outros best sellers, como ‘Homo deus: Uma breve história do amanhã”, continuação de Sapiens e outro livro incrível – resenhas para um futuro próximo haha. Apesar da formação voltada para as ciências humanas, como estudante de biologia, devo admitir que as questões biológicas são apresentadas de forma incrível pelo autor, sempre explicadas da forma mais simples possível – está tudo bem se você dormiu nas aulas de ciências, dá para entender.

Quanto à estrutura, o livro é dividido em três partes, batizadas pelo autor de revoluções: cognitiva, agrícola e científica. Essas revoluções obedecem a uma ordem cronológica, seguindo os acontecimentos que nos fizeram deixar de ser uma população distribuída pela África para estarmos aqui, lendo esta resenha pela tela do celular.

Antes das revoluções propriamente ditas. Somos levados a uma tour pela história evolutiva dos hominídeos, nos permitindo chegar à reflexão que, por definição, os neandertais que vemos na escola são tão “seres humanos” como nós – daí a ideia do autor de nos representar pelo nome que de fato nos define (do ponto de vista de nomenclatura biológica): Sapiens.

Com uma linguagem acessível, “Sapiens” vem puxar nossa orelhinha para mostrar que não somos os deuses da evolução.

Definir nossa espécie apenas com variáveis biológicas, todavia, se torna algo impossível após a revolução cognitiva. Elementos culturais começam a contar tanto quanto nossos genes. Religiões primitivas começam a surgir, aglomerados maiores de pessoas passam a existir, arte e questões filosóficas começam a se tornar parte do cotidiano dos nossos antepassados caçadores-coletores, que sem stories do Instagram, deixaram apenas alguns rastros, e muitas suposições por aí – e os antropólogos que lutem.

A primeira revolução termina, e já existem aglomerados muito maiores de sapiens, povoando quase toda a Terra e fazendo um monte de coisas, boas e ruins, para os companheiros, planeta e demais espécies.

Fruto das mudanças cognitivas surge a Revolução Agrícola, responsável pela formação das primeiras cidades, da legislação, dos bancos e de todas as coisas corriqueiras que nem nos questionamos como surgiram – e que o livro, mais uma vez, explica muito bem.

Assim se inicia a segunda parte da obra, que se propõe a explicar o porquê de estarmos reunidos aqui, em cidades, bem como os pensamentos e conceitos que mantém essa estrutura estável. Começamos a discutir nacionalismo, e religião, e o porquê do seu cãozinho de estimação ter deixado de ser um lobo. Também discute o surgimento e perpetuação do capitalismo e do comunismo, e as semelhanças dessas “crenças” ao próprio pensamento religioso – e talvez Karl Marx e o Papa não sejam tãããããão diferentes assim.

Já organizados em cidades e com um monte de problemas sociais ainda não estudados, estamos no momento propício para começar a terceira revolução, e a última parte do livro.

A Revolução Científica se propõe a definir os processos que levaram às mudanças de pensamento e permitiram que o método científico se estruturasse e permitisse as inúmeras conquistas possibilitadas pela pesquisa. O interessante é que esta revolução ainda não chegou ao fim, e é só olhar com cuidado para perceber os avanços ainda em curso.

Vivemos o ápice das “n” revoluções científicas. Isso nos torna superiores às outras espécies?

O livro termina com reflexão sobre o quanto as mudanças científicas podem nos modificar a nível de espécie, instigando questões debatidas em Homo deus, citado nesta resenha.

Para muito além do aprendizado que proporciona, Sapiens se consagrou como best seller – e como meu xodó – pela visão crítica de Harari em relação à nossa própria história, muitas vezes romantizada demais. Além disso, o autor basicamente distribui bofetadas àqueles que se apoderam erroneamente de conceitos biológicos simplesmente com a intenção de defender preconceitos (que estão mais ligados à filosofia opressora defendida por algumas crenças religiosas e políticas).

Vale, mais uma vez, ressaltar que o autor ganha infinitos pontos pela linguagem suuuuuper acessível, pelos capítulos muitas vezes curtos – que não permitem confusão na hora de entender os conceitos apresentados – e pela junção sem defeitos das centenas de informações interessantíssimas.

Sapiens, sem dúvidas, mereceu o título de fenômeno em vendas. Só posso terminar esta humilde resenha – que apesar de grande, não explicou 1% do livro – indicando esta obra literária para todos vocês. Mas sintam-se confortáveis também em me chamar para tomar um café e passar um tempão refletindo sobre quem somos nós nessa fila do pão chamado Planeta Terra (e o quanto estamos próximos de destruir a padaria todinha).

Até a próxima resenha,

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