A série de Charlie Brooker comemora dez anos em 2021. Com cinco temporadas, um episódio especial e um filme interativo, se consagrou com uma das séries mais acalmadas da atualidade (inclusive tem matéria dela aqui no site, confere!). Através de histórias independentes, Black Mirror mostra o impacto da tecnologia nas relações humanas.
A última temporada ocorreu em 2019 e sua sucessora continua sem data de estreia definida. O criador já deu entrevista explicando que uma nova temporada, nas condições de 2020, não seria bem-vinda. “No momento, não sei se haveria estômago para histórias sobre sociedades desmoronando, então não estou trabalhando em nenhuma dessas”, disse Brooker em entrevista ao site Radio Times.
Vale se lembrar que em junho desse ano, viralizou nas redes sociais a imagem de uma ação publicitária que usava um espelho, nas ruas de Madrid, com os dizeres: “Black Mirror, 6º temporada. Ao vivo agora, em todo lugar”. Ao contrário do que todo mundo pensou, a ação foi promovida por estudantes espanhóis e não pela Netflix. De qualquer maneira, 2020 não deixa de parecer um episódio bizarro da antologia.
Por essas e outras, resolvi compilar meus episódios preferidos da série. Lembrando a todos que ordem da postagem segue a ordem de estreia de cada um.
The National Anthem (S01E01)
“O Hino Nacional” abre Black Mirror de uma maneira bem… Black Mirror. Enquanto uma princesa da família real tinha acabado de ser sequestrada, o primeiro-ministro Michael Callow (Rory Kinnear) tem uma difícil escolha a fazer. Para poupar a vida da princesa, o sequestrador exigiu que Michael deveria ter relações sexuais com um porco, em uma transmissão ao vivo.
Tensão poderia definir esse episódio. Ele é imprevisível e criativo do início ao fim. Consegue manter o telespectador atento, em uma trama que questiona os interesses do engajamento popular e o sensacionalismo que move as informações na mídia. A virada no final é magnífica.
Fifteen Million Merits (S01E02)
Bing (Daniel Kaluuya) decide incentivar Abby (Jessica Brown Findlay) a mostrar seu talento num show de calouros, pois a considera a única coisa verdadeira naquele cenário distópico. A inscrição, no entanto, custa 15 milhões de méritos, a moeda local. Viajamos para um lugar onde as pessoas são bombardeadas por entretenimento e propagandas a todo momento. Uma crítica a cruel sociedade do espetáculo cercada por telas.
White Bear (S02E02)
Enquanto é perseguida por desconhecidos na rua, Victoria (Lenora Crichlow) descobre a emissão de um sinal que está controlando o comportamento da população. O único lugar seguro é o “Urso Branco”, onde a frequência pode ser desligada. Chegar lá não vai ser fácil. Existe motivo para o sofrimento alheio virar entretenimento? Com certeza entra no meu Top 3 da série.
White Christmas (Episódio Especial de Natal, após a S02)
Um dos queridinhos da antologia, com a maior nota no IMDB, nos apresenta a três histórias interligadas que relacionam ética e tecnologia. Confesso que o final não me surpreendeu tanto, talvez por já ter assistido outros episódios anteriores que tinham temática parecida.
Mas se você for assistir pela ordem, é certo que a sua mente dê um giro de 360º no final, rs. Coloquei ele na lista, porque é bem feito, atuado. Além disso, as histórias se encaixam bem e contam com o ótimo Jon Hamm (“Mad Men”, 2007-2015).
Nosedive (S03E01)
Lacie (Bryce Dallas Howard de “Jurassic World”) se vê cada vez mais impopular em uma sociedade. A condição de vida no mundo real é determinada por uma média de avaliações de outras pessoas na rede social. Parece familiar? É ótimo acompanhar a “queda livre” da protagonista, pois a postura artificial que ela cria se desfaz ao longo da narrativa, tornando-a cada vez mais vulnerável e verdadeira.
San Junipero (S03E04)
Em uma cidade paradisíaca da década de 1980, Kelly (Gugu Mbatha-Raw) e Yorkie (Mackenzie Davis) se conhecem e, mesmo com personalidades opostas, constroem uma relação muito forte de cumplicidade e amor.
Como se tratava de outro queridinho de Black Mirror, fui assistir com o pé atrás e não me decepcionei. Um capítulo emocionante e, para muitos, um dos poucos finais felizes (há controvérsias) da série.
Men against Fire (S03E05)
Intitulado “Engenharia Reversa” no Brasil, narra a história de um soldado (Malachi Kirby) vivendo em um mundo pós-guerra em que mutantes (baratas) se escondem. Em uma missão, ele acaba chegando perto demais das criaturas. A partir daí, passa a ter a sensação de estar se tornando aquilo que jurou combater.
Esse é outro episódio que, quanto menos se sabe melhor. Ao final dele, eu fiquei uns dez minutos olhando para a tela do celular, refletindo se a realidade mostrada era tão distante assim da nossa. Crítica social? Aqui estamos bem servidos.
Hated in the Nation (S03E06)
Um grupo de detetives investiga mortes em circunstâncias suspeitas na cidade londrina. As vítimas tinham em comum o fato de estarem sofrendo hate na internet por algo que fizeram em público. Odiados pela Nação, trata-se da cultura do cancelamento antes da popularização do termo. O episódio mais longo da série conta com uma trilha sonora incrível e, para quem curte uma trama policial, é perfeito!
Hang the Dj (S04E04)
Amy (Georgina Campbell) e Frank (Joe Cole) resolvem questionar a eficiência de um aplicativo de relacionamentos. O assistente virtual determina com quem devem ser os encontros e quanto tempo eles duram. É o meu favorito! Tem uma premissa simples, um desenvolvimento bom, no ritmo certo, os protagonistas são muito carismáticos, fazendo que a nossa torcida para eles ficarem juntos cresça a cada cena.
O plot twist desse episódio é tão bem pensado, tão engenhoso e, ao mesmo tempo, tão simples. Faz um mapeamento perfeito dos relacionamentos e, assim como San Junipero, integra a cota de episódios leves da série.
Black Museum (S04E06)
Nesse capítulo de autorreferências somos apresentados a Nish (Letitia Wright de “Pantera Negra”) que durante uma viagem se depara com o Black Museum. No lugar, uma espécie de museu do crime, conhecemos alguns artefatos tecnológicos envolvidos em histórias bizarras.
Após a quinta temporada, época em que comecei a maratonar a série, Black Museum foi o primeiro episódio que vi. Mas recomendo que o vejam por último, pois ele traz inúmeras referências de outros episódios. O próprio capítulo funciona como um grande museu da série. Com desfecho surpreendente, trata mais uma vez da ética e de questões sociais, como o racismo, por baixo da camada tecnológica.
Óbvio que aborda uma lista pessoal e muitos bons capítulos não apareceram por aqui. Se você ainda não viu a série, está mais do que recomendada. Por aqui, só resta a ansiedade por uma nova temporada repleta de ousadias e reflexões sobre a sociedade e suas telas.