Treat Myself (2020) de Meghan Trainor

Treat Myself, o terceiro álbum de estúdio de Meghan Trainor (famosa pelo hit de 2014 “All About That Bass”) foi lançado no dia 31 de janeiro de 2020. Inicialmente, ele foi previsto para ser lançado em 31 de agosto de 2018, mas findou por ser adiado por mais de um ano porque Meghan quis adicionar mais músicas.

Além disso, acredita-se que o adiamento também aconteceu pois alguns singles lançados como prévias do álbum (“Let You Be Right”, “Can’t Dance”, “All The Ways” e a faixa-título “Treat Myself”), não tinham sido bem recebidos pelo público. Isso proporcionou uma remodelada para todo o projeto.

Essa é a capa do álbum

Por isso, os singles anteriores foram excluídos do projeto principal e remanejados para uma versão Target deluxe – um deluxe do deluxe do álbum kkkk, que não é contemplado nesta resenha, ainda mais por não estar disponível nos serviços de streaming. O single “All The Ways” foi colocado no EP “The Love Train” (2019) de Meghan. O único single que se manteve na nova versão do álbum Treat Myself foi “No Excuses” – lançado em março de 2018 -, a primeira música a ser lançada. Essa faixa deve ter sido mantida por ter conseguido entrar na lista dos mais vendidos da Billboard Hot 100, provando que possui aceitação por parte do público.

Considerando as exclusões de faixas, após o lançamento de “No Excuses” em 2018, o processo de promoção antes da estreia do álbum procedeu com a revelação de mais 5 faixas. “Genetics” e “Wave” foram lançadas em setembro de 2019. “Workin’ On It” foi lançada em novembro de 2019, sendo seguida por “Evil Twin” em dezembro de 2019. A última faixa apresentada antes do álbum foi “Blink”, em 17 de janeiro de 2020. Por fim, no dia do lançamento do álbum – 31 de janeiro – a faixa “Nice To Meet Ya”, que conta com a participação de Nicki Minaj, foi escolhida para ser um single.

Treat Myself conta com 15 faixas:

1 – Wave (feat. Mike Sabath)
2 – Nice To Meet Ya (feat. Nicki Minaj)
3 – Funk
4 – Babygirl
5 – Workin’ On It (feat. Lennon Stella & Sasha Sloan)
6 – Ashes
7 – Lie To Me
8 – Here To Stay
9 – Blink
10 – Genetics (feat. Pussycat Dolls)
11 – Evil Twin
12 – After You (feat. AJ Mitchell)
13 – Another Opinion
14 – No Excuses
15 – Have You Now

Neste álbum, Meghan mantém em alguns momentos a vibe engraçadinha e “old school”, pela qual já é conhecida, em faixas como “Funk”, “Evil Twin” e “Another Opinion”.

Em “Funk”, que tem realmente influências no funk americano, Meghan nos oferece uma vibe bem divertida e ainda conta com uma brincadeira na letra:

I miss the way we used to funk
Em português:
Sinto falta de como fazíamos funk

A palavra pode se referir ao estilo musical funk, mas ela fala de uma forma em que “funk” parece soar como “fuck”, que troca o sentido para “Sinto falta de como a gente transava”. O defeito nessa faixa se encontra no refrão, que, apesar de legal no começo, se repete tanto que meio que se destrói.

Em contrapartida, “Evil Twin” é uma ótima faixa, que também possui uma base no funk, com um refrão daqueles que dá vontade de cantar alto. Elogio os vocais dela aqui nessa faixa. O conceito da música também é engraçado: é tudo culpa da minha gêmea má. Meghan tem vergonha ou se arrepende de coisas que já fez, mas lida com isso – na faixa – culpando sua gêmea má kkk. É uma maneira de fugir dos problemas, mas, apesar de tudo, na letra ela afirma ter orgulho de seu próprio lado malvado, pois ele possui uma confiança da qual ela inveja.

Já “Another Opinion” tem uma vibe “cantando na roda de amigos”, o que é ressaltado pelas vozes de outras pessoas cantando junto no decorrer da faixa. Ainda, a música é acompanhada por um ukelele, que Meghan toca. O conceito da música é legal: se você não gosta de mim, a culpa não é minha, é só outra opinião. Contudo, considero a faixa meio infantil, parecendo estar solta no álbum de uma forma em que ela não combina com o todo o resto do projeto.

Em outras faixas, predominantemente, a cantora aposta em uma vibe eletrônica, às vezes misturada com o “old school”, que aparenta ser uma tentativa de Meghan se atualizar sonoramente ou mesmo mudar. Isso eu vejo como um maturamento na sonoridade dela.

A cantora diz que por um bom tempo as pessoas na indústria musical tinham opiniões sobre como era a sonoridade de Meghan – e como ela estava inserida somente nessa sonoridade, sem possibilidade para tentar algo novo. Tudo isso fez com que ela quisesse provar o contrário, lançando, então, o single “Wave”, que trouxe comentários sobre como era diferente de tudo que ela veio lançando no decorrer de sua carreira.

“Wave” é um destaque para o álbum. A faixa conta com um coral no decorrer da música, que traz uma vibe gospel, que em seguida se torna eletrônica. Sim, um gospel eletrônico haha. A letra apresenta um relacionamento que está com muitos problemas – e que parece estar morrendo -, mas ainda assim ambos decidem seguir juntos. Na faixa, a cantora clama para que o seu amado a pegue como uma onda, que pode até se mover em diversas direções e sentidos, mas ainda assim não se separa do oceano.

Ah, e a música demorou três anos para ser finalizada! Meghan afirma nunca ter trabalhado tão duro numa música.

Treat Myself é composta principalmente pela temática do amor-próprio, o que faz sentido, pois o título do álbum significa literalmente “tratar de mim mesma” ou “cuidar de mim mesma”.

Na faixa “Babygirl”, a cantora fala para garotinhas que tudo vai dar certo a partir do momento em que elas amarem a si mesmas. É bem fofo. Tirando a parte em que batidas pesadas explodem na música kkk. A faixa começa parecendo uma baladinha, mas se torna uma eletrônica meio esquisita, que provavelmente não é palatável para o público-alvo: as garotinhas.

Acredito que o objetivo que “Babygirl” falha em realizar é alcançado por “Workin’ On It”, mais uma sobre empoderamento. A letra fala sobre conseguir admitir não se sentir bem consigo mesmo, mas decidir tentar fazer algo a respeito: tentar se amar. É bem animadora e fofa. Provavelmente essa faixa passa a mensagem de amor próprio com mais cuidado e amor, sem assustar as garotinhas com batidas eletrônicas exageradas haha.

Em “Blink”, Meghan está com a auto-estima láááá em cima, dizendo que é melhor não piscar, porque se não você vai perder a chance de vê-la passando e arrasando. Esse show de amor próprio é apresentado numa vibe bem divertida – até porque a letra é engraçadinha também né – com uma sonoridade eletrônica nova para Meghan, mas ainda conseguindo resgatar o estilo antigo da cantora. É outro ótimo exemplo do sucesso dela em desenvolver uma maturação em sua própria sonoridade.

Essa mesma evolução na sonoridade pode ser vista na faixa “Genetics”, que foi desenvolvida quando a gravadora de Meghan pediu por um novo “All About That Bass”. A partir disso a cantora pensou em uma forma de dizer algo semelhante ao que o seu hit de 2014 diz, daí saiu o conceito “Minha genética é incrível”. A faixa mostra mais uma vez a cantora com alta auto-estima, mas dessa vez se gabando por sua genética. No momento da gravação, Meghan afirmou que ficou envergonhada ao cantar, acreditando ser uma música “legal demais” para ela, mas a gravadora amou.

Quando lançada em setembro de 2019, “Genetics” era um solo de Meghan, mas no álbum contém a participação de Pussycat Dolls – somente a voz de Nicole Scherzinger. A vibe da música lembra realmente o estilo do grupo, por isso faz sentido a participação de Nicole, que inclusive acrescenta muuuuito para a música, principalmente nos vocais maravilhosos.

Na faixa “Nice To Meet Ya”, a cantora explora um pouco de hip hop e uma sonoridade meio anos 1990, com uma produção que me lembrou K-Pop, misturando um estilo mais antigo com batidas mais modernas. O objetivo da sonoridade foi fazer algo bem diferente de tudo que Meghan já havia feito. A letra da faixa foi criada com a intenção de empoderar, mas tendo um público-alvo geral, não se restringindo somente ao público feminino, como normalmente ela faz.

Dentre tanto empoderamento e amor-próprio, o disco conta com uma faixa que mostra Meghan implorando por um amor: pedindo para que ele minta que a ama. “Lie To Me” se mostra como uma composição lírica destoante em relação à organização do álbum Treat Myself.

De qualquer forma, mesmo vendo Meghan implorar por amor em uma faixa, é importante ressaltar que a cantora está casada e dedica várias músicas para o seu amor no decorrer do álbum. “Here To Stay” é sobre achar alguém que está aqui para ficar, criando segurança no relacionamento. É uma baladinha R&B lindíssima bem anos 2000.

Outro destaque é a faixa “After You”, que também está no EP “The Love Train” (2019) – mas em uma versão solo -, é uma balada poderosa com uma vibe gospel, seguindo uma pegada semelhante a de “Wave”, mas sem se tornar uma música animada. A letra fala sobre não querer mais ninguém depois de conhecer o amor de sua vida. Real, parece uma música para casamento haha.

“Have You Now” é outra pro boyzinho dela, sobre estar feliz por ter ele por perto dela. Parece uma baladinha, mas vira uma música eletrônica com um pouco de batida de trap em uns momentos. Amo o pré-refrão – que é bem melódico – e a batida do refrão. O único lado negativo está na dependência no amor relatado na faixa: na letra Meghan fala sobre não ser ninguém quando está sem ele.

Por fim, apresento “No Excuses”, primeiro single do álbum desde a versão antiga de 2018. A letra da faixa surgiu de experiências pessoais da cantora no decorrer de sua carreira musical, lidando com o desrespeito e a grosseria por parte de machos escrotos que estão no mundo da música há eras e se acham os donos da verdade por causa disso.

A cantora conclui que as pessoas deveriam tratar os outros da forma que gostariam de ser tratadas. Por isso, exige gentileza e respeito, como também, afirma que não há desculpas para tratar o próximo de forma rude. Apesar da temática séria, o objetivo foi de desenvolver uma música divertida e animada, que possa ser um hino para todos tocarem em casa. Dessa forma, “No Excuses” surge com uma sonoridade pop e meio country e com uma pegada “old school”, que é a cara da Meghan mesmo.

Bem, ao ouvir esse álbum, pude notar que Meghan mudou mesmo, saindo do foco nas músicas engraçadas – que eu inclusive gosto, mas tenho vergonha alheia ao ouvir kkk – e desenvolvendo músicas com produções mais fortes e maduras. Ainda consegue manter a leveza e a comédia em diversas delas. O fato de ela conseguir produzir músicas mais maduras e diferentes do que já havia lançado, sem perder a sua própria imagem já desenvolvida no cenário pop, é algo para se orgulhar.

O lado negativo está na presença de faixas que não se destacam nem como ruins nem como boas – faixas simplesmente “ok”. Com a retirada de algumas músicas, Treat Myself seria menos longo, mais coeso e, provavelmente, melhor. Inclusive, focando em retirar faixas que não combinam sonoramente – e nem liricamente – com o álbum seria algo legal a ser feito.

Ainda assim, há canções maravilhosas, que estão no meu repeat, e aqui já as destaco: “Wave”, “Here To Stay”, “Blink”, “Genetics”, “Evil Twin”, “After You”, “No Excuses” e “Have You Now”.

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