Shaft (2000) VS Shaft (2019) da Netflix

Tiroteio, policiais, bandidos, drogas, racismo, justiça com as próprias mãos, deturpação do ético, “realidade” dos guetos. Parece que listei o roteiro do programa Balanço Geral, mas estamos falando de Shaft, dois filmes (com o mesmo nome) estrelados por Nick Fur… digo, Samuel L. Jackson.
Antes de falarmos de Shaft, produzido pela Netflix, devemos falar de um “Shaft anterior”, um filme distribuído pela Paramount, o qual foi baseado num livro de mesmo nome escrito por Ernest Tidyman.
O primeiro filme nos apresenta o protagonista, John Shaft, um detetive que chega no local em que ocorreu o assassinato de um homem negro. Poucos minutos de investigação e os fatos apresentam Walter Wade Jr. (interpretado por Christian Bale, na minha opinião o melhor Batman até a data de hoje), um homem branco, rico e racista que matou a vítima por motivos preconceituosos.

Walter é preso e levado ao tribunal, mas acaba saindo por pagar sua fiança. Os meses passam, acabam prendendo o mesmo homem. Novamente somos jogados de cara com o “poder do dinheiro”: Walter paga a finança, logo, sai da prisão. Desse ponto em diante, Shaft se sente jogado para trás e pede demissão do emprego para trabalhar por conta própria, um detetive de aluguel.

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Seus planos na realidade incluíam achar uma testemunha, desaparecida, que poderia ser a chave para a prisão do criminoso. Por outro lado, Wade possui reforços ao se aliar com o traficante local Peoples Hernandez (Jeffrey Wright, “Noite de Lobos”), pretendendo, assim, dar fim a essa última prova.
Então, 19 anos depois, a Netflix resolveu fazer uma continuação para esse filme. Voltamos a ter Samuel L Jackson como o “detetive particular” Shaft, dessa vez também pai do, ainda bebê, John Junior Shaft (Jessie T. Usher, “The Boys”), ou só J.J.
Pai, filho e a mãe, Maya Babanikos (Regina Hall, “O ódio que você semeia”) se envolvem em um tiroteio durante a tentativa de aniquilar Shaft. Todos os 3 saem vivos, porém o pai acaba se distanciando do filho e vemos o pequeno J.J crescer ao longo dos anos, como também, se tornar um jovem analista de dados do FBI. Até aqui, o segundo filme apresenta uma ponte narrativa que une o primeiro ao segundo. O plot da versão do canal de streaming, começa quando Karim Hassan, amigo de J.J é encontrado morto.
J.J vai atrás de pistas e se da de frente com o nome Gordito, um mafioso que ironicamente também é alvo do seu pai. Assim, pai e filho se encontram novamente para resolverem um caso juntos, entretanto se torna uma tarefa difícil quando as filosofias de épocas separadas são colocadas de frente. De um lado a violência dos anos 2000 nos guetos, do outro um jovem que cresceu em uma sociedade um pouco mais harmônica
Assim como o primeiro filme que apresenta o racismo como motor de muitos acontecimentos, o segundo apresenta problemas sociais como o preconceito com religiões, opiniões contrarias sobre “o que é certo fazer”… Ou pelo menos essa pareceu ser a ideia.
Na minha visão, o segundo filme apresenta momentos em que as temáticas sociais são postas de maneira bem clara para o espectador, mas eles não fazem uma curva de crescimento sobre o mesmo. Por exemplo, o “Shaft pai” usa xingamentos homofóbicos na tentativa de ofender seus inimigos, o que para seu filho soa como desrespeitoso. Ou o mesmo pai apresenta alguns comentários machistas, mas de forma natural para ele, mostrando claramente que na época dele as coisas eram ensinadas diferente. Mas para nisso, geralmente é para fazer algum momento cômico. Nada como um diálogo bem estruturado que mostre como o discurso do pai é errado.
Shaft de 2000 e Shaft de 2019 podem possuir o mesmo nome, mas são filmes totalmente diferentes. Enquanto o mais antigo tem uma pegada um pouco mais firme, séria, encorpada com o ambiente, o segundo filme, mesmo sendo continuação, apresenta-se como um filme “mais comercial”, mais fácil de digerir.
O segundo filme tem personagens mais caricatos, como o filho certinho, a favor dos direitos humanos, mas tem o pai linha dura, machão, que sabe que o filho tem que ser machão também. Por outro lado, os dois filmes tem pontos (ruins) bem parecidos. Os vilões do filme são mal estruturados, mal apresentados e mal desenvolvidos. Principalmente no segundo filme em que a imagem do “vilão” não deve aparecer por 30 minutos de filme (seu único “grande feito” foi
matar o amigo do J.J). Ambos os filmes não falham apenas nos vilões, mas também com os coadjuvantes. Fica uma salada de personagens genéricos aparecendo, com pouco desenvolvimento.

Minhas considerações finais consistem em recomendar que você assista ou o primeiro Shaft ou o segundo Shaft. Por serem filmes diferentes pode ser que você goste mais de um do que do outro, logo um dos dois fique com um certo gosto amargo. É permitido escolher um dos dois filmes, uma vez que os roteiros não possuírem ligação direta nenhuma. O segundo, mais fácil de digerir, se apresenta como uma produção mais engraçada, mais divertida, mais leve. O primeiro é encorpado, é escuro, talvez mais violento.

Eu diria que são filmes não só em tempos diferentes. São filmes com produções diferentes, para públicos diferentes. Por isso, cabe a cada um escolher onde arriscar, conforme encontre seus estilo nas observações acima.

Eu sou o valente Asan, e a mim foi dada essa missão. Liberte-se!!

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