Circe (2019) de Madeline Miller

Circe é uma releitura corajosa e atual da trajetória de Circe, a poderosa – e incompreendida – feiticeira da Odisseia de Homero. Considerada a melhor fantasia do Goodreads de 2018, o livro de Madeline Miller é um presente para os fãs de mitologias e abre as portas para um universo novo e rico.

Filha de uma mãe fútil e um pai cruel, Circe não nasceu amada. Seu valor foi logo definido a partir de sua aparência e de seu futuro marido, profetizado por seu pai. Era uma ninfa, que significa tanto deusa quanto noiva em sua língua. Cresceu em meio a futilidade, egoísmo e crueldade dos titãs, das ninfas e dos deuses menores, zombada por seus irmãos e tios — por todos. Circe nunca se encaixou, nunca viu nada de si mesma nessas divindades vazias. E é aí que se constrói um dos pontos mais fortes do livro.

Acho que essa também é uma das características que difere essa Circe de todas as das outras versões de sua história, porque lhe é dada profundidade, complexidade e empatia. Ela é mais que apenas a bruxa que transforma homens em porcos. Entendemos enfim porque ela fez o que fez e como. Seu conflito com a solidão e com a passagem do tempo — que achei representado de forma agoniante, um infinito de tédio, tristeza e isolamento — é decisivo para o encaminhamento da história, assim como a descoberta de seu poder como feiticeira e, acima de tudo, da sua força como mulher.

“Eu não serei como um pássaro criado em uma gaiola, pensei, entorpecido demais para voar mesmo quando a porta está aberta.”

Como amante de mitologia grega (um pouco desatualizada, mas tio Rick Riordan me ensinou algumas coisas) conhecer Circe foi uma coisa muito boa, acompanhar o surgimento do Minotauro, ver personagens tão marcantes como Prometeu, foi uma coisa muito legal, e adorei como a autora inseriu eles na história, mostrando a importância de mortais, semi-deuses e até mesmo os monstros para a criação de todo o mundo.

Acho que a única coisa que não me deixou tão empolgada na leitura foi a parte do romance, não que eu não tenha gostado de como aconteceu e do que ele gerou, mas acho que ele se prolongou um pouco demais, e Circe se apagou um pouco até achar seu caminho novamente no final da história, mostrando novamente sua inteligencia, sua determinação e o controle sob a sua vida.

“Humilhar mulheres para ser um dos passatempos preferidos dos poetas. Como se não pudesse haver uma história se não rastejarmos e choramingarmos.”

Agora quero ler também Canção de Aquiles (Editora Jangarda), da mesma autora, que trás a história da épica Guerra de Troia. E também foi correndo ler Mythos, livro da Planeta Minotauro que conta mais sobre a mitologia grega, afinal preciso me atualizar!

“Então aprendi que podia curvar o mundo à minha vontade, como um arco é curvado para uma seta. Eu teria praticado toda aquela labuta mil vezes para manter esse poder em minhas mãos.”

No fim, só me resta recomendar bastante essa leitura, foi com certeza um dos melhores livros com a temática de mitologia que já li, e se vocês estão procurando algo com uma personagem forte, que tem uma grande evolução durante a narrativa, esse livro é O LIVRO! Há romance, aventura, drama e é claro muitos personagens que vão atiçar sua curiosidade sobre a mitologia grega.

8 thoughts on “Circe (2019) de Madeline Miller”

  1. Adoro personagens com profundidade, complexidade e empatia. Tio Rick Riordan s2 Acho que sobre mitologia grega só li os livros dele mesmo. A obra resenhada parece ser muito boa <3 E o mais legal é que é a história de uma mulher, né?

    1. Carolina Rozeira

      menina e a referência na parte que percy se torna um porquinho por causa de CIRCE ! Amei, minha paixão por mitologia foi criada por Rick mesmo (e finalmente fomos prestigiadas com uma série, amem)

  2. Estampado Nos Livros

    Não gosto muito de livros de mitologia grega e nem de bruxaria. Acho que vou passar a chance de ler esse livro mesmo parecendo ser bem legal.

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