MAP OF THE SOUL: 7 (2020) de BTS

O famoso grupo masculino sul-coreano, BTS, está de volta com o seu quarto álbum de estúdio em coreano – “MAP OF THE SOUL: 7” (MOTS7). Somando aos EPs, esse foi o décimo quarto projeto deles. O novo álbum foi lançado em 21 de fevereiro de 2020 através da Big Hit Entertainment, sendo o segundo lançamento do projeto “MAP OF THE SOUL”, que iniciou com o lançamento do “MAP OF THE SOUL: PERSONA” em 2019.

Desde “PERSONA”, o projeto MAP OF THE SOUL explora as teorias sobre o “mapa da alma” do psiquiatra Carl Jung. Além disso, a produção aborda todo o processo de desenvolvimento dos integrantes, como indivíduos e como grupo. Enquanto “PERSONA” trouxe apenas o conceito de mesmo nome, formulado por Jung, o álbum “7” explora o conceito de sombra – “Shadow” – que o autor usa para falar sobre o lado negativo escondido das pessoas, além do conceito de “Ego”. Bem nerd, né? haha

Essa é a capa do álbum

Em uma mistura de falar sobre passado, presente, futuro, sonhos, medos e o próprio crescimento do grupo nos últimos 7 anos. “MOTS7” tem como um grande objetivo nos apresentar com mais profundidade cada um dos 7 integrantes do grupo e suas vulnerabilidades enquanto buscam pela construção do seu próprio eu e pelo entendimento e aceitação de quem são e querem ser – abraçando tanto os lados positivos quanto os negativos.

Percebemos que o número 7 é muito simbólico se tratando de BTS, uma coisa bem autobiográfica. Ao ouvir esse álbum, você vai estar mergulhando na história do grupo, o que é ressaltado pelo fato de várias músicas do projeto terem sido preparadas a partir de samples e referências de várias músicas anteriores do grupo.

As promoções do trabalho iniciaram com o lançamento do trailer do álbum, que continha a faixa “Interlude: Shadow”. Na semana seguinte, vem o single “Black Swan” juntamente de uma versão exclusiva da música, no Youtube, com uma orquestração de instrumentos de cordas e uma performance de dança contemporânea do grupo esloveno MN Dance Company. Além disso, teve trailer do álbum com a faixa “Outro: Ego”.

Simultaneamente ao lançamento do álbum, foi lançada a faixa “ON” como single principal, a partir de um vídeo chamado “ON Kinetic Manifesto Film”, que mostra o BTS realizando a complexa coreografia para a canção ao lado de dançarinos e uma banda marcial.

Nas plataformas digitais do “7”, está incluído um remix de “ON” com a participação de Sia. Além da cantora, o álbum conta com participações e composições de artistas como Ed Sheeran, Halsey e Troye Sivan.

Todos os membros do grupo participaram do processo criativo do álbum – tanto composição como produção. Inclusive, o líder do grupo, RM, participou da composição de 17 das 20 faixas da tracklist, que é a seguinte:

1 – Intro: Persona
2 – 작은 것들을 위한 시 (Boy With Luv) (feat. Halsey)
3 – Make It Right
4 – Jamais Vu
5 – Dionysus
6 – Interlude: Shadow
7 – Black Swan
8 – Filter
9 – 시차 (My Time)
10 – Louder Than Bombs
11 – ON
12 – 욱 (UGH!)
13 – 00:00 (Zero O’Clock)
14 – Inner Child
15 – 친구 (Friend)
16 – Moon
17 – Respect
18 – We are bulletproof: the Eternal
19 – Outro: Ego
20 – ON (feat. Sia)

Gigante, né? Esse é um ponto negativo do álbum pra mim, demora mais de uma hora pra ouvir todo o projeto, mas isso só aconteceu porque as 5 primeiras faixas são do MAP OF THE SOUL: PERSONA de 2019, servindo como uma introdução para as 14 faixas inéditas que vem em sequência. Ainda assim, “7” já é um álbum aclamado pela crítica especializada: nota 83 (até o momento desta resenha) no Metacritic, o que, de acordo com o site, configura o álbum como aclamado universalmente.

O projeto inicia com “Persona”, um rap acompanhado por uma guitarrinha top, cantado somente por RM, o líder do BTS. Na faixa, o rapper confronta as suas próprias hesitações, falhas e pontos fracos, acreditando que toda essa negatividade não conseguirá dominar quem ele é ou quem ele quer ser. Vou mostrar aqui pra vocês uma parte traduzida da faixa:

O “eu” que eu me lembro e que as pessoas conhecem
O “eu” que eu criei para extravazar
Sim talvez eu venha me enganando
Talvez eu venha mentindo
Mas não estou mais envergonhado porque este é o mapa da minha alma

Em resumo, essa música é sobre se reconhecer, se amar e se aceitar por inteiro, sem renegar a sombra que há em você – mesmo que essa faixa não fale exatamente sobre sombra. Isso é assunto de outra faixa do projeto hahaha. De qualquer forma, a busca pelo autoconhecimento é notada aqui, ouso dizer que essa busca permeia o álbum por completo.

Uma outra coisa interessante, nesse álbum o BTS colaborou com artistas bem famosos do mundo pop ocidental. Em “Make It Right”, Ed Sheeran participou da composição. A faixa pode ser simples e meio repetitiva, mas tem uma vibe legal de hip-hop com umas batidas de trap music, além de contar com vocais em falsete, que são a cara do que Ed faria mesmo haha.

“Louder than Bombs” há participação de Troye Sivan na composição. Contudo, o que mais rendeu visualizações e performances foi a de “Boy With Luv” com Halsey, que disse ser fã do BTS desde 2017. “Boy With Luv” foi a faixa principal do “MAP OF THE SOUL: PERSONA” e é um pop chiclete que nos lembra como o amor é uma das forças mais poderosas que alguém pode ter.

Por meio de batidas pesadas – e com um pé no rock e outro no rap -, a faixa Dionysus fala sobre beber e festejar até o amanhecer: curtir como o deus grego, Dionísio, curte. Uma coisa interessante sobre a referência a Dionísio é o fato do deus grego ter sido considerado pelos outros deuses um mero semi-deus devido a sua mãe mortal. Ele subiu para o nível de deus do Olimpo. Tendo isso como base, BTS se comparam a Dionísio, falando que eles nasceram como ídolos do K-pop, mas agora eles são considerados artistas.

Um destaque para o álbum é a faixa “Jamais Vu”, uma baladinha com uns raps nos versos. O conceito para o nome “jamais vu” vem de um fenômeno psicológico que é o oposto do famoso “dejà vu”, um indivíduo faz algo que ele é familiarizado, mas se sente estrangeiro nisso. Explicando de outra forma, seria a sensação de ver pessoas que você conhece bem, mas por um momento não as reconhecer.

Ainda na vibe psicológica, temos a faixa “Interlude: Shadow”, que trata do conceito de sombra de Carl Jung. A faixa é um hip-hop com influência no trap que conta somente com os vocais de Suga, um dos rappers do BTS. A música começa com narrações sobre as aspirações e paixões de Suga, mas logo em seguida revela o medo de coisas como solidão ou se esgotar ainda na juventude. A sonoridade da música se torna negativa e bem dark depois, o que faz com que seja possível dividir a música em duas partes.

Por fim, a faixa encerra com o sentimento de que a sombra nos habita é uma realidade da qual não podemos escapar. É melhor racionalizar e aceitar, a persona e a sombra devem aprender a coexistir. Jung fala que um ser que aceita os seus próprios lados positivos e negativos é um ser que conseguirá ser completo.

Em “7” também tem faixa para haters. Em “UGH!”, BTS fala sobre o ódio que rodeia o grupo, principalmente por meio de comentários pela internet. Inclusive, a faixa crítica o ódio que eles recebem por pessoas que se escondem por trás de máscaras, pessoas que xingam de forma anônima. Ou seja, a faixa mostra a raiva deles contra o ódio por meio de rap e trap music.

Além do ódio, vemos o amor na amizade entre os integrantes V e Jimin na faixa “Friends”. Essa canção nos mostra a amizade que surgiu em vivências na escola e segue até hoje dentro do grupo com uma promessa de manter esse vínculo, bem como as doces memórias, eternamente, não importando para onde a vida os levar.

É uma faixa super fofa com várias referências da amizade dos dois, bem como piadas internas. Ela começa de forma meio infantil – parecendo uma música para cantar em uma roda de amigos num luau na praia -, mas vai mudando o instrumental para algo mais grandioso, se tornando uma espécie de hino da amizade. Tem um coral e tudo no final. Muito fofo mesmo, oh!

Um destaque do álbum é “Black Swan”, uma faixa com influências no emo, trap e R&B que teve inspiração na citação de Martha Graham: “Um dançarino morre duas vezes – uma vez quando eles param de dançar, e essa primeira morte é a mais dolorosa”.

A canção fala sobre a dor de crescer distante de sua paixão, a música, tangenciando o medo de a música um dia deixar de fazer sentido para eles mesmos, o que seria a primeira morte deles. Contudo, a faixa também revela o amor pela música – considerando o grande medo de perdê-la.

Os cisnes eram tidos como brancos em sua totalidade na natureza, até que um cientista viu um cisne negro – black swan. Ao falar “cisne negro” podemos nos referir a um evento que acontece de forma diferente do esperado. Tendo todo esse conceitinho como base, em “Black Swan” o BTS inspira seus fãs a serem eles mesmos, por mais diferentes que sejam, mesmo que tenham vergonha ou medo.

Todos já tivemos um dia ruim bem ruim, né? Onde tudo parece estar dando errado. Na faixa “00:00 (Zero O’Clock)”, BTS fala que você pode estar no fundo do poço, mas isso vai passar. Em algum momento vai dar meia noite e o dia vai recomeçar – coisas boas podem acontecer. A música entrega conforto e esperança por meio de uma baladinha R&B com influência no trap music (meu Deus, eles usaram e abusaram do trap, sério mesmo kkk). É uma faixa muito linda e com vocais lindos, é um destaque para mim.

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ON

Agora, vamos para “ON”. Essa faixa é um hino que é preenchido por letras bem empoderadoras acompanhadas por um coral e a percussão de uma banda marcial. A mensagem principal da música aborda a resiliência do grupo no decorrer dos 7 anos de carreira, que, mesmo passando por diversas experiências – nem sempre positivas –, se mantem de pé, firme e forte.

O nome da faixa teve inspiração na música “N.O”, que foi lançada no começo da carreira do grupo. É uma maneira massa de referenciar a própria carreira, né? E olha, pra mim, essa faixa é realmente um hino. Junta as batidas de hip-hop e harmonias vocais, com um coral e uma banda marcial e, ainda, com com os incríveis vocais do integrante Jungkook na ponte da música… um hino. Recomendo ouvir essa música acompanhada da coreografia – que é do c*ralho.

Já chegando perto do final do projeto, chegamos à faixa “We are Bulletproof: the Eternal”. Essa canção é a última da série de músicas do BTS com o título “We are Bulletproof”, que se relaciona com a antiga marca oficial do grupo a qual definia seus membros como “garotos à prova de bala”:

A faixa é um EDM – música eletrônica – beeeem melódico com um arzinho de balada emotiva. É uma música que também me chamou atenção, tanto por causa do instrumental como também pelo conteúdo lírico. O conceito da canção é a vontade de interagir com os fãs e se tornar um só com todos eles. A letra nos mostra como “apenas 7 pessoas”, que se tornaram mais fortes com o tempo, mas ela termina com “não somos apenas 7 pessoas quando estamos com vocês”.

Dessa forma, o grupo fala que não é composto somente por seus 7 integrantes, mas também por todos as A.R.M.Ys (nome dado para os fãs de BTS). Todos são à prova de balas, eternamente. É bem meloso – e pode até ser meio brega –, mas é uma afirmação bem fofa e poderosa, oh! E provavelmente numa performance da turnê deles, essa música vai fazer os fãs chorarem.

Por fim, temos a faixa “Outro: Ego”, que encerra a história que esse projeto traz. A letra descreve o processo de encontrar e confiar no próprio “Ego”, que é um famoso conceito de Carl Jung – que já falamos aqui outras vezes. Para Jung, “Ego” é a parte central da consciência humana, o que significa que ele é a parte mais reconhecida de (e por) nós mesmos – ou seja, o ego é a identidade de alguém. “Outro: Ego”, solo do integrante J-Hope, trata de relembrar as próprias experiências a fim de aceitar e acreditar na pessoa que se tornou, enquanto almeja continuar melhorando.

Mapa da alma, mapa de tudo
Esse é o meu ego, esse é o meu ego

Nessas linhas da música, a frase “esse é o meu ego” tem dois significados: foneticamente, “ego”, em coreano significa “essa coisa”. Por isso, na música, o rapper afirma que o mapa em sua alma é o próprio ego, mas também é a coisa dele – sem piadas maldosas, gente kkk.

É interessante falar isso porque a palavra “coisa” aparece em outra canção do álbum, “Black Swan”:

What’s my thing?
What’s my thing? Tell me now

Em português:

Qual é a minha coisa?
Qual é a minha coisa? Me diga agora.

Na faixa acima, essa “coisa” se refere a uma paixão da vida, que nos faz ser quem somos – seja ela cantar, dançar, desenhar ou fazer qualquer coisa que te faça se sentir muito feliz ou te defina. Dessa forma, a pergunta “What’s my thing?” é semelhante a “Quem eu sou?”.
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Ego

“Outro: Ego” responde à pergunta de “Black Swan”: quem eu sou? Eu sou o mapa da minha alma, eu sou minha sombra, eu sou o meu ego e eu sou também o que eu mais amo fazer. Assim, a faixa nos dá uma resposta nesse processo de autoconhecimento que permeia o álbum inteiro, dizendo que somos o que amamos e o que tememos, e continuar a busca pelo autoconhecimento é para a vida toda, porque estamos sempre mudando.

MAP OF THE SOUL: 7 é um álbum gigante, mas o conceito que o liga é super trabalhado. Aplaudo de pé toda a pesquisa e o esforço do BTS de ligar as ideias de Carl Jung para falar sobre autoconhecimento e amor próprio.

O ponto negativo do álbum está no fato de ser grande demais, podendo ser facilmente reduzido com a retirada de algumas faixas que sonoramente são repetitivas. Além disso, eles usaram muito o trap music – até faixa calma tinha essa batida hahaha.

Em meio a vocais fantásticos, letras fortes e às vezes fofas, estilos musicais diversos e danças incríveis, o BTS vêm abrindo portas para o sucesso de outras produções da música pop coreana: a grupo colocou 3 músicas simultaneamente na Billboard Hot 100, algo que nenhum outro grupo coreano fez ainda.

A partir desse álbum, sinto que a imagem do grupo, bem como de cada um de seus integrantes, foi fortalecida. De fato, é a produção mais vulnerável e com mais conteúdo lírico do BTS. É realmente um bom álbum, apesar de tudo. Acredito que qualquer fã está, no momento, morrendo de orgulho – considerando que as faixas usam de citações e de samples de faixas antigas do grupo, mostrando todo o desenvolvimento deles.

As minhas favoritas são: “Persona”, “Jamais Vu”, “Dionysus”, “Shadow”, “Black Swan”, “My Time”, “ON”, “00:00 (Zero O’Clock)”, “We are Bulletproof: the Eternal” e “Ego”.

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