NFR (2019) da Lana Del Rey

Norman Fucking Rockwell! (NFR) é o quinto álbum de estúdio (ou sexto, caso considerem as duas versões do Born To Die separadamente) de Lana Del Rey, lançado em 30 de agosto de 2019 por meio das gravadoras Polydor e Interscope. O álbum foi primordialmente produzido por Lana Del Rey e Jack Antonoff. NFR foi indicado a duas categorias do Grammy de 2020: Álbum do Ano e Música do Ano (pela faixa título).

Em relação a singles, NFR já possui vários. O primeiro foi “Mariners Apartment Complex”, lançado em setembro de 2018. Na semana seguinte, foi lançado o segundo single: “Venice Bitch”. “Hope Is a Dangerous Thing For A Woman Like Me To Have – but I Have It” foi lançado como o terceiro single em janeiro de 2019. Em seguida, “Doin’ Time” foi lançado em maio de 2019. As músicas “Fuck It, I Love You” e “The Greatest” foram lançadas como singles promocionais, ganhando um videoclipe duplo em agosto de 2019, uma semana antes do lançamento do álbum. Por fim, o último single (até o momento) é a faixa-título “Norman fucking Rockwell”, que ganhou uma indicação ao Grammy.

No total, o álbum conta com 14 faixas:

1 – Norman Fucking Rockwell
2 – Mariners Apartament Complex
3 – Venice Bitch
4 – Fuck It, I Love You
5 – Doin’ Time
6 – Love Song
7 – Cinnamon Girl
8 – How to Disappear
9 – California
10 – The Next Best American Record
11 – The Greatest
12 – Bartender
13 – Happiness Is A Butterfly
14 – Hope Is A Dangerous Thing For A Woman Like Me To Have – but I Have It

Em relação a sonoridade do NFR, podemos citar como principais as baladas em piano e o soft rock, que é um estilo que se utiliza de técnicas do rock para produzir músicas leves ou suaves. Além disso, o álbum conta com influências no folk-rock e na música psicodélica, sério mesmo: tem música que você viaja sem precisar usar nada haha. Outro estilo que também pode ser utilizado para caracterizar o NFR é o pop barroco, que se mistura a sonoridade do pop com música clássica, isso faz com que algumas músicas do álbum pareçam ter sido feitas em outra década ou geração.

Freedom From Want (1943) – Norman Rockwell

Uma coisa que notei ao ouvir do álbum (e fazendo umas pesquisas) é que ele tem muuuuitas referências. Começando pelo título: Quem é Norman Rockwell? Bem, ele foi o artista que basicamente criou nos anos de 1950 a imagem do “American Way Of Life” por meio de retratos com aquela perfeita família norte-americana branca e capitalista.

Além do título, a gente pode encontrar nas músicas diversas referências a artistas do rock clássico dos anos de 1970, incluindo a música “Cinnamon Girl” de Neil Young, ao grupo “Crosby, Stills, Nash & Young”, ao álbum “Houses of the Holy” de Led Zeppelin e ao soft rock de Laurel Canyon, uma vizinhança de Los Angeles.

A faixa-título do álbum, “Norman Fucking Rockwell”, é a primeira e, de fato, dá um tom de qual é a sonoridade do álbum inteiro. Ela já começa com uma orquestrinha que em lembrou logo começo de filme antigo. É uma baladinha predominada pelo piano (lindo) que mostra uma voz leve e suave de Lana bem angelical em diversos momentos. A artista compara a fama de Norman com o cara que ela está apaixonada.

“Bartender” foi a primeira música feita para o álbum, em 2018 ainda, ela tem a predominância do piano também e conta com muitas referências ao álbum “Ladies of the Canyon” (1970) de Joni Mitchell, que faz menção às mulheres que viveram em Laurel Canyon, área famosa pela criatividade. A música “Bartender” mistura essa “mitologia” do passado de Los Angeles com a situação atual da região.

Norman Fucking Rockwell / Bartender / Hapiness is a Buttefly

“Happiness is a butterfly” é um ponto alto do álbum, ao meu ver. A música possui uma vibe dark que pode ser notada pela letra: “If he’s a serial killer, then what’s the worst that could happen to a girl who’s already hurt? I’m already hurt”. Em tradução “Se ele é um serial killer, então o que seria o pior que poderia acontecer com uma garota que já está machucada? Eu já estou machucada”. Na letra a gente pode notar o fundo do poço: a pessoa tá tão machucada que nem liga se está namorando um assassino, que pode a matar a qualquer momento. No fim, pode se concluir que Lana Del Rey diz que o amor/felicidade é algo fugaz e, assim como uma borboleta, difícil de ser capturado.

Em dezembro de 2019, Lana lançou um curta de 14 minutos que conta com essas exatas três músicas mencionadas: “Norman Fucking Rockwell”, “Bartender” e “Happiness is a butterfly”.

Uma das minhas favoritas do álbum é “Mariners Apartament Complex”, que é uma baladinha de piano e de violino com uma vibe folk. Na letra, Lana fala sobre um relacionamento em que a pessoa acredita que tudo só funcionava entre os dois porque eles eram tristes e tinham uma vida bagunçada. O título faz menção a um complexo de apartamentos de Califórnia.

A capa do álbum de NFR parece ser inspirada em uma parte da letra dessa música:

You lose your way, just take my hand.
You’re lost at sea, then I’ll command your boat to me again.

Em tradução:

Se você se perder, só segure minha mão.
Você está perdido no mar, então eu irei levar o seu barco para mim novamente.

Na capa do álbum, podemos ver Lana e um homem (Duke Nicholson) posando em um barco, o que parece ser uma representação desta letra da música. A foto foi tirada pela irmã de Lana, a fotógrafa Chuck Grant.

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Venice Bitch

Um outro destaque do álbum é “Venice Bitch”, acompanhada por piano e guitarra, depois de 2 minutos a música vai para algo bem psicodélico e experimental. Ao apresentar a faixa para a gravadora, Lana não recebeu o apoio esperado pois ela queria que “Venice Bitch” fosse single, mas a música tem um palavrão do título, o “bitch” (que significa vadia), e tem quase 10 fucking minutos de duração.

Ainda assim, a cantora apostou na faixa e a transformou em single pois acredita que as pessoas gostariam de ouvir 10 minutos de guitarra em uma vibe psicodélica enquanto dirigem curtindo as férias.

As músicas “Fuck it I love you” e “The Greatest” foram lançadas juntas e ganharam um clipe duplo. A primeira música tem uma sonoridade bem comercial com um refrão cantado com uma leve voz de cabeça, o que traz sensualidade para a faixa. Acredito que a única coisa que atrapalha a comercialidade da música é ter um “Fuck” no título. O clipe tem uma estética que se utiliza do surf, mas mantém um visual clássico dos comerciais durante o pós-guerra, o mesmo período do “American Way Of Life”.

A segunda parte do clipe tem a música “The Greatest”, que é uma baladinha que parece ter sido feita no século passado, mas fala sobre situações atuais do planeta. Em um verso, Lana fala sobre sentir falta de Nova Iorque e o antigo rock ‘n roll. A cantora também faz menção ao susto com mísseis no Havaí em 2018, às mudanças climáticas em Los Angeles, ao apuros do planeta e ao fato de que viver em Marte já não parece ser só uma brincadeira ou um conto infantil. Ainda, há uma linha na música que fala sobre a controvérsia Kanye West apoiando Trump.

Um outro destaque do álbum é a faixa “Doin’ Time”, que é uma regravação da banda Sublime. A música é um reggae misturado com hip hop e é a mais animada do álbum, a única que não é uma baladinha haha. A cantora gravou a faixa por causa de um pedido da gravadora, que estava fazendo um documentário sobre a banda Sublime. Lana pensou em não gravar por acreditar que não conseguiria fazer algo bom a altura, mas no fim acabou sendo convencida a fazer. O clipe gerou muuuitos memes da Lana gigante pela cidade, fazendo referências ao filme “O Ataque da Mulher Gigante” (1993).

“California” é outra música que me chamou a atenção. A balada menciona o Estado da California (obviamente, como notamos pelo título haha), mas quero ressaltar que é possível notar que California é uma temática bem comum para a cantora. É como se o Estado fosse uma terra prometida para ela alcançar os sonhos dela e também é o lugar onde ela, de fato, conseguiu alcançar o que queria. Outras músicas do NFR que dão menção ao Estado americano são: Norman Fucking Rockwell, Bartender, Venice Bitch, Mariners Apartment Complex, Doin’ Time, The Greatest, The Next Best American Record e Happiness is a Butterfly. Caso queiram ver os momentos onde essas menções acontecem, fiquem com esse link.

Por fim, dou destaque a faixa “Hope is a dangerous thing for a woman like me to have – but I have it” (meu Deus, que título gigantesco). É a faixa que finaliza o álbum, e de uma forma bem íntima e introspectiva. Lana fala que escrevê-la foi terapêutico. A cantora afirma que cada linha tem elementos e segredos que somente ela sabe o significado. Inclusive, ela foge de algumas perguntas em entrevistas para não ter que explicar a música. Porém, podemos tirar da faixa que Lana sofreu muito no decorrer da vida, mas a artista mantém a esperança por dias melhores. E considero isso uma maneira positiva de terminar o álbum.

Composto por baladas, piano e violino, o NFR é, provavelmente, a produção mais intimista de Lana Del Rey. As faixas dão muito destaque a voz da cantora e ainda, vez ou outra, arriscam uma pegada experimental e psicodélica. A cantora fala sobre várias coisas de sua vida e do mundo de maneira crua e sincera, comprovando uma ótima habilidade na composição musical. Isso foi notado pela Pitchfork, que citou Lana como “The Next Best American Songwritter” ou “A próxima melhor compositora americana”.

As faixas que mais gostei e recomendo são: “Norman Fucking Rockwell”, “Mariners Apartament Complex”, “Fuck it I love you”, “Cinnamon Girl”, “California”, “The Greatest” e “Happiness is a Butterfly”.

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