O casal que mora ao lado (2017) de Shari Lapena

A sinopse é chamativa, mas não tanto quanto a hora que você começa a conferir as primeiras páginas. Anne e Marco estão em um jantar na casa dos vizinhos. A filhinha de seis meses, Carol, ficou em casa com a babá eletrônica, a qual eles conseguem monitorar de longe, para um possível choro da bebê. Também, eles combinaram de vigiá-la pessoalmente a cada meia hora, alternadamente. No entanto, ao resolverem ir embora, por volta de uma da manhã, percebem que a pequena desapareceu de forma misteriosa.

Anne sente o grito ecoar na cabeça e reverberar pelas paredes: está em toda parte. Ela permanece diante do berço vazio, imóvel, mão cobrindo a boca. Marco tateia a parede em busca do interceptador. Ambos fitam o lugar onde a bebê deveria estar. É impossível que ela não esteja ali. Cora não conseguiria sair do berço sozinha. Acabou de completar seis meses.

Eu queria contar mais coisas nessa sinopse, mas o narrativa é tão ágil que qualquer informação a mais pode ser encarada como spoiler. Este livro é uma fórmula praticamente perfeita do “menos é mais”, isto é, apela-se para menos detalhes no enredo para proporcionar um clima mais eletrizante.
Preciso elogiar a narrativa de Shari Lapena. Ela recorre a uma objetividade e a uma escrita tão fácil que fica difícil largar o livro. Mesmo que a história seja naturalmente dividida em capítulos, eles são quase todos completamente interligados, quero dizer, do ponto que um termina o outro começa, no mesmo segundo. Pouco tempo se passa na obra. De verdade, se não fossem os compromissos eu teria lido em um dia, fácil. Ele não fica cansativo e a todo momento acontece algo pra intrigar o leitor.
A autora adiciona uma informação a cada grupo de páginas e você começa a teorizar o que aconteceu com a bebê. Eu poderia jurar que havia descoberto o que tinha acontecido, mas quando é revelada uma surpresa já na página 130 (mais ou menos), percebo que existem mais informações ocultas. E depois disso vem uma sucessão de revelações que te fazem querer chegar até o último capítulo para desvendar todo o enredo. “Não há tempo para detalhes, vamos direto ao que interessa para deixar o leitor preso”, é este o pensamento de Shari.

Eles serão julgados pelos policiais e por todas as outras pessoas. É bem feito por terem deixado a filha sozinha. Ela pensaria a mesma coisa se acontecesse com outra pessoa. Sabe como as mães adoram julgar, como é bom julgar os outros.

Penso que para alguns existem pontos da história que parecem inverossímeis de acontecer. Não para mim. As pessoas são capazes de tudo, até por muito menos. Quando existem loucura, distúrbios, ganância e/ou algo do tipo envolvidos, o ser humano se transforma. Isso é a realidade. Apesar de ser um suspense policial, identifiquei muitos traços de thriller psicológico. Uma informação adicionada em um momento da narrativa me fez questionar quando ela iria ser usada. Eu teorizei uma coisa e fui surpreendida positivamente.
Para aqueles leitores que gostam de livros mais detalhistas, provavelmente não irá gostar tanto quanto eu, pois reconheço que o livro carece de informações sobre os cenários, os personagens, etc. Porém, a ausência dessas caracterizações trouxe justamente aquela adrenalina boa de sentir ao conferir um livro. Por mais que para alguns essa objetividade seja um defeito, dificilmente não irá desfrutar. Personagens como o detetive Rasbach nem precisam de maiores detalhes, basta estar em cena para prender a atenção, talvez a melhor figura na obra.
Posso afirmar que foi uma leitura que só continuei justamente por aguçar a curiosidade. A escrita da autora causa essa necessidade de saber o que acontece depois, apesar de não me fazer concordar com algumas soluções e caminhos que ela sugere para que aceitemos.
Apesar das ressalvas, não é um livro ruim. Foi uma boa leitura, porém se não fosse esse ritmo, não sei bem se me atrairia pelo enredo da história em si. Recomendo para quem ainda não teve muita experiência com esse gênero e quer começar com um livro que o suspense vai da primeira até a última linha, literalmente. Eu queria comentar mais sobre o final, mas eu detesto spoilers, meu intuito é aguçar o leitor. Espero que aproveite como eu.
 

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *