Manic (2020) da Halsey

Manic é o terceiro álbum de estúdio da cantora Halsey, lançado em 17 de Janeiro de 2020 por meio da Capitol Records. Halsey, cujo nome real é Ashley Nicolette Frangipane, disse que este é o primeiro álbum da Ashley. Em resumo, é o primeiro álbum que não vem somente da sua personagem “Halsey”, mas vem também da sua real identidade, Ashley. É interessante ressaltar que, liricamente, o álbum lida com sentimentos e sensações relacionadas ao transtorno bipolar (resenha de série sobre), o qual Halsey foi diagnosticada. Esse distúrbio foi anteriormente conhecido como depressão maníaca (manic depression em inglês), daí dá pra especular que o nome “Manic” está ligado a esse termo antigo.

O álbum tem 3 artistas convidados (Dominic Fike, Alanis Morissette e Suga do BTS), cada um aparece em um interlúdio na tracklist, que representa uma diferente parte da personalidade de Halsey. A faixa com Dominic representa o amor de irmão, a com Alanis representa o empoderamento sexual (tratando da bissexualidade de Halsey) e profissional e a com Suga representa o embate do amor cru pela música contra as péssimas experiências na indústria da música. Além disso, há samples com partes do filme Garota Infernal (2009) na faixa “killing boys” e do filme Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças (2004) na faixa “Ashley”.

Sobre os estilos músicas, o álbum está centrado no pop, country, rock e R&B, tendo no geral baladinhas, como também, várias outras músicas com instrumentais bem simples e postos em segundo plano, dando o foco para as letras. Que letras, viu? Halsey chega a ser muito honesta sobre diversas coisas na sua vida real, algo que a cantora não investia antes na carreira. Inclusive, a cantora fala que esse álbum é “menos fantasia de um mundo distópico”, além de ser mais a sua visão real e atual do mundo com muita pessoalidade.

Ainda nos estilos, existem faixas como “Still Learning”, que possui influência no reggaeton, e “Ashley”, que tem influência no trap music.

A música “Nightmare”, lançada em maio de 2019, foi feita originalmente com a intenção de ser o single principal do álbum, mas foi descartada por representar uma raiva que a cantora acreditava não ser mais adequada com o que ela de fato sentia. Então, daí a faixa de outubro de 2018, “Without Me”, que tinha lançada na época para ser somente um single sem álbum, foi escolhida para ser o primeiro single do “Manic”.

“Graveyard” foi lançada como segundo single em setembro de 2019. Duas semanas depois, para celebrar o seu próprio aniversário, Halsey lançou “Clementine” como o terceiro single como uma surpresa. Em dezembro de 2019 foram lançadas duas faixas, “Finally // Beautiful Stranger” e “Suga’s Interlude”. Por fim, uma semana antes do lançamento do álbum, em janeiro de 2020, foi lançado o sexto single: “You Should Be Sad”.

Halsey diz que o álbum deve ser escutado, ao menos na primeira vez, na ordem da tracklist. Isso porque várias músicas são feitas para o encerramento combinar ou se linkar com o começo da seguinte, sendo todas partes do álbum que no final dão uma completude. Como se fosse uma história a ser contada. Vamos comentar sobre isso mais a frente!

Manic conta com 16 faixas:

1 – Ashley
2 – Clementine
3 – Graveyard
4 – You Should Be Sad
5 – Forever … (is a long time)
6 – Dominic’s Interlude
7 – I Hate Everybody
8 – 3am
9 – Without Me
10 – Finally // Beautiful Stranger
11 – Alanis’ Interlude
12 – Killing Boys
13 – Suga’s Interlude
14 – More
15 – Still Learning
16 – 929

A faixa “Ashley” é uma introdução para o álbum, mas também pode ser vista como um pequeno adeus. Como podemos ver, ela tem o nome real de Halsey e introduz os fãs a uma nova Era, em que é possível ouvir as vivências e também mergulhar nos sentimentos de Ashley. O “pequeno adeus” é relativo ao fim da Era Halsey que já conhecíamos pelos trabalhos anteriores.

A cantora comenta que a faixa se utiliza de trap music e possui um refrão inspirado em emo music (que foi um estilo que moldou a identidade dela quando mais jovem). A junção desses estilos dá uma sonoridade a faixa que relembra o primeiro álbum de Halsey, “Badlands”, o que deixa os fãs anteriores da cantora confortáveis, já que não é nada diferente demais para eles. Contudo, essa sonoridade antiga de Halsey é explorada somente nesta primeira faixa.

No final da música, há um áudio de uma cena do filme “Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças” (2004), onde podemos ouvir Clementine (performada por Kate Winslet), personagem que Halsey diz se identificar bastante, que inclusive está relacionada com a faixa seguinte no álbum: “Clementine”. A faixa possui um instrumental simples e tem seu foco na letra.

Esta música, para Halsey, é um ápice para Manic, representando o momento em que ela vê ela mesma atualmente e ela quando criança através da letra e da voz. No refrão, podemos ouvir duas vozes: Halsey (calma e que performa a música) e Ashley (que grita ao fundo). A dualidade e contradição da faixa podem ser vistas nos versos seguintes, que inclusive podem ter relação com os altos e baixos vivenciados pela cantora devido a bipolaridade:

Because in my world, I’m constantly having a breakthrough
Or a breakdown, or a blackout
Would you make out with me underneath the shelter of the balcony?
‘Cause I don’t need anyone
I just need everyone and then some

Em português:

Porque em meu mundo, eu estou constantemente evoluindo
Ou entrando em colapso, ou num blecaute
Você gostaria de se pegar comigo embaixo do abrigo da varanda?
Porque eu não preciso de ninguém
Eu só preciso de todo mundo e um pouco mais

A faixa “Forever … (is a long time)” é a primeira de um trio que está conectado. Ou seja, são 3 faixas que foram feitas para serem ouvidas em sequência: “Forever … (is a long time)”, “Dominic’s Interlude” e “I Hate Everybody”. As letras possuem conexão, assim como os instrumentais.

Em “Forever … (is a long time)”, Halsey inicia se apaixonando, e o instrumental acompanha essa paixão por meio de uma sonoridade doce, representada pelo uso da escala musical Maior e de sons cintilantes. Até que o piano entra no instrumental, a música modula de uma escala Maior para uma Menor e o humor da faixa sai do doce para o ansioso. Essa faixa, em resumo, representa a jornada de se apaixonar e, então, se sabotar com sua própria paranoia e insegurança.

“I Hate Everybody” tem um estilo semelhante ao de “Clementine”, com um instrumental simples, dando o foco aos vocais e a letra. Além disso, há o uso de contradições também e um otimismo bem confuso, como podemos ver nos versos a seguir:

I don’t even remember anything but thinkin’ you’re the one
And I can force a future like it’s nothing
So I just hate everybody
Well, then why can’t I go home without somebody?
And really, I could fall in love with anybody who don’t want me
So I just keep sayin’ I hate everybody
But maybe I, maybe I don’t

Em português:

Eu não me lembro de qualquer coisa exceto que você é a pessoa certa para mim
E eu posso forçar um futuro como se fosse nada
Por isso, eu odeio todo mundo
Bem, então porque eu não consigo ir para casa sem alguém?
E realmente, eu poderia me apaixonar por qualquer um que não me queira
Por isso, eu continuo a dizer que odeio todo mundo
Mas talvez eu não odeie

Um ponto alto para o álbum é a faixa “3am”, que vem logo após a “I Hate Everybody” na tracklist, abordando também a busca de Halsey pelo afeto de qualquer um. A cantora falou que escreveu a faixa depois de uma noite em que ela chegou em casa e começou a ligar para todos os contatos que ela tinha. Isso porque ela queria muito a companhia de qualquer um para que ela não pudesse ficar consigo mesma e os seus próprios pensamentos. A faixa fala exatamente sobre querer ligar para qualquer um para não ficar sozinha. Ah, e antes que eu esqueça, “3am” foi escrita às 3 da manhã kkkkk.

Além disso, a faixa também é sobre como a bebida alcoólica pode afetar o seu estado mental e fazer com que você duvide de si mesmo.

Para os amantes das músicas dos anos 2000, “3am” é uma surpresa. Ela tem como sonoridade um pop rock bem “gostosim” que lembra muuuito as primeiras músicas de Avril Lavigne.

No final, a música tem uma gravação de voz de John Mayer, em que ele basicamente fala sobre a música seguinte na tracklist do álbum (“Without Me”) e como ele sabe que vai ser um hit, o que combina muito com a faixa “3am”, pois Halsey estava duvidando de seu próprio trabalho (quem sabe às 3 da manhã) e ligou para o amigo buscando apoio. Olha que John Mayer previu mesmo: “Without Me” foi primeiro lugar na Billboard Hot 100. A única faixa de Halsey é conseguir tal feito.

 

“Without Me” é um R&B gostosinho e suave com uma letra crua e direta, sendo a primeira faixa em que Halsey começou a mergulhar nos seus sentimentos pessoais. Uma curiosidade sobre a música é que ela possui um sample de “Cry Me a River” de Justin Timberlake. “Without Me” fala sobre traição e outros sentimentos negativos experienciados por meio da relação que Halsey teve com G-Easy. A cantora comenta que chorou muito enquanto gravou a música, mas que agora ela se sente orgulhosa e empoderada.

Outra faixa que aborda o relacionamento de Halsey com G-Easy é “You Should Be Sad”. A cantora comenta que a maioria das músicas de quebrar o coração vêm do estilo Country. Esse foi o estilo que Halsey escolheu para compor a faixa, que inclusive foi composta com um violão na sala de estar dela.

Halsey ainda diz que vários ícones fodas da música (que ela ama) já utilizaram o country para mostrar emoções neste estilo. Dentre esses ícones, ela menciona: Christina Aguilera, Lady Gaga, Carrie Underwood e Shania Twain.

 

 

A letra da música é forte e crua, como podemos ver nos versos:

No, you’re not half the man you think that you are

And you can’t fill the hole inside of you with money, drugs, and cars

I’m so glad I never ever had a baby with you

‘Cause you can’t love nothing unless there’s something in it for you

Em Português:

Não, você não é metade do homem que você pensa que é
E você não pode encher o buraco dentro de você com dinheiro, drogas e carros
Eu estou feliz que eu nunca tive um bebê com você
Porque você não consegue amar nada, ao menos que tenha algo em troca.

Um outro ponto alto é a faixa “More”, uma baladinha que Halsey diz ter sido a música mais pessoal que ela já escreveu. É uma canção de amor, mas não para um par romântico. É para o seu futuro filho ou filha, que não existe e nem foi gerado ainda.

Halsey tem endometriose, uma doença que dificulta a mulher de poder gerir um bebê em seu útero. Por causa dessa doença, a cantora sofreu 3 abortos espontâneos. Para piorar, a doença pode trazer problemas para a fertilidade em si da pessoa, o que fez com que Halsey quase congelasse os seus óvulos. Contudo, recentemente a cantora falou que ela não precisou chegar ao ponto do congelamento pois, após umas mudanças em seus hábitos de vida, havia uma esperança para que ela pudesse gerar uma criança.

Ainda assim, endometriose não é algo muito fácil de ser resolvido, mas isso não afeta a vontade que ela tem de ter filhos. Isso pode ser visto no verso:

They told me it’s useless, there’s no hope in store
But somehow I just want you more

Em português:

Eles me dizem que não tem jeito, não há esperança a se guardar
Mas de algum jeito eu só quero você mais

A faixa é endereçada ao bebê que não nasceu. Em alguns momentos, é cantada como se fosse uma canção de ninar, com um pianinho que lembra música para criança. Alguns versos são de quebrar o coração, inclusive chorei.

And when you decide it’s your time to arrive
I’ve loved you for all of my life

Em Português:

E quando você decidir que é a sua hora de chegar
Eu te amei por toda a minha vida

No final, o refrão da música é ouvido como se estivéssemos debaixo d’água, representando algo semelhante ao que o bebê ouviria de dentro do útero, o que é um detalhe na produção muito sensível e muito criativo. Serião, Halsey tá de parabéns nas letras e na produção.

Mais um ponto alto para o álbum, provavelmente minha música favorita (chorei também kkk), é “Finally // Beautiful Stranger”, uma baladinha de pop-rock com um pézinho no country que lembra a vibe da icônica “What’s Up?” de 4 Non Blondes e “Yoü and I” de Lady Gaga.

Halsey escreveu a faixa em casa, na sala de estar, às duas da manhã, relembrando da noite em que conhecer um boyzinho aí. A cantora diz ser a primeira música de amor que ela já escreveu.

Outra faixa com um instrumental bem simples, com o foco na letra, é a faixa final da tracklist: “929”. É quase um freestyle. Vários versos e sem refrão. Halsey comenta não ter quase escrito nada para essa faixa, mas ter somente falado, falado e falado tudo o que pensa sobre ela mesma, os fãs e sua família. Além disso, ela admite vários erros e falhas. Sim, nessa faixa vislumbramos muitas coisas ruins que aconteceram com ela, mas a faixa finaliza com o reconhecimento de que estamos sempre aprendendo e crescendo, minuto por minuto.

A cantora comenta na faixa que nasceu às 9:29 no dia 29 de setembro (que nos EUA se escreve “9/29”). Daí tiramos o motivo da faixa se chamar “929”. Contudo, no fim da música ela pega a certidão de nascimento e descobre que nasceu às 9:26 hahaha. É uma faixa divertida em alguns momentos, apesar de alguns pontos tristes. De qualquer forma, é uma ótima maneira de fechar o álbum. Isso porque vemos a Halsey reconhecendo a sua própria evolução, mesmo depois de diversos pontos baixos na vida.

No twitter, a cantora comentou que escrever esse álbum foi como uma lição sobre perdão a si mesma. Ela fala ter tido a intenção de escrever um álbum dark, mas que acabou encontrando calmaria, introspecção e aceitação em seu próprio coração. Halsey sentiu que sentar para escrever as suas angústias fez com que a raiva dela tivesse saído de seu peito. Foi como uma terapia, o que foi um dos motivos para a retirada de “Nightmare” da tracklist do Manic.

Em resumo, Manic é um álbum que consegue ser cru, direto, sensível, agressivo e introspectivo ao mesmo tempo. São características que podem se opor, mas ao ouvir o álbum é possível notar que tudo isso faz sentido. Além disso, muitas músicas possuem uma produção minimalista, dando o foco para a composição lírica, por isso, recomendo que prestem atenção nas letras, viu?

Também é legal ressaltar que a tracklist de Manic conta uma história, que começa com a introdução de Ashley na carreira de Halsey. No decorrer das faixas, notamos problemas com o amor próprio, a situação da ansiedade, desilusões amorosas, doenças, etc… Enfim, depois de tantas situações, a inserção da faixa “Still Learning” como penúltima mostra que Halsey está aprendendo a se amar, mas reconhece todos os problemas que ela lida. O álbum nos leva numa jornada de superação e de auto-conhecimento.

Por fim, Halsey pode ter mudado e se aberto mais em relação a sua vida pessoal, mas o álbum ainda é a cara dela. Não foi uma mudança que deixa a artista irreconhecível, pelo menos ao meu ver, mas é uma mudança que soa mais como evolução e maturação. Minhas faixas favoritas são: “Ashley”, “Graveyard”, “You Should Be Sad”, “I Hate Everybody”, “3am”, “Without Me”, “Finally // Beautiful Stranger” e “More”.

2 thoughts on “Manic (2020) da Halsey”

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