Não sei vocês, mas eu sou FASCINADO por produções de terror – e se tiver ficção científica misturado, melhor ainda. O gênero, todavia, merece uma atenção maior por parte de quem escreve, visto que qualquer deslize pode tornar a história extremamente clichê e sem graça.
Stephen King não é qualquer autor. Não é a toa que o norte americano se consagrou com seus livros, que já ganharam inúmeras adaptações para o cinema. A resenha de hoje é de “O Iluminado”. Sim, o mesmo que Joey colocou no congelador, em “Friends”. Mas calma, não precisa colocar o celular na geladeira, fica comigo e vamos começar.
Expulso da universidade em que dava aula, e com a carreira de escritor estagnada, Jack Torrance tem milhares de preocupações e uma considerável tendência à depressão. O escritor, que já teve problemas com a bebida, que o fizeram quebrar o braço do próprio filho, Danny, tem se mantido sóbrio por um longo – e difícil – período. Jack não teve uma infância agradável, principalmente devido ao pai agressivo e à mãe submissa e violentada.
Diferente do pai, Jack ama o filho, Danny, incondicionalmente. O amor, apesar dos ataques de fúria sofridos, é recíproco. Wendy, uma mãe e esposa dedicada, sente-se um pouco enciumada com isso. Vinda de uma família também não saudável, a mãe de Danny tem sérios problemas na relação à própria mãe. De certo modo, a família consegue ser isolada de todo e qualquer relacionamento externo – exceto pelo antigo amigo de Jack, responsável pelo emprego que fará a trama se desenrolar.
Danny, nosso iluminado, é um garoto de cinco anos. Extremamente inteligente para a idade, guarda a pureza que se espera encontrar nos baixinhos. O garoto, todavia, não é uma criança qualquer, sendo capaz de ler os pensamentos dos pais, de sentir suas emoções e até de perceber coisas nunca ditas. Também conta com um “amigo imaginário”, Tony, que aparece em seus momentos de premonição, quase sempre terminam com convulsões e preocupação dos pais.
Apresentada a família, vamos ao desenrolar da história.
Graças ao dinheiro de seus proprietários, o Hotel Overlook ainda se mantém de pé, apesar das incontáveis tragédias que o prédio presenciou. No inverno anterior à chegada da família Torrance, cujo pai conseguiu o emprego de Zelador, uma outra família viu o próprio fim.
Delbert Grady, antigo zelador do Hotel, matou de forma cruel a esposa e a filha, cometendo suicídio logo depois. O caso não foi o único presenciado pelas luxuosas paredes do lugar, no topo do Colorado. Incontáveis mortes com direito à crueldades desumanas assolaram o lugar.
As histórias não desmotivaram a mudança da família, que teria que passar o inverno sozinhos ali. Além de estar com a carreira destruída demais para exigir qualquer coisa, Jack viu no isolamento a possibilidade de escrever o seu sonhado livro, além de possibilitar a união da família, que passava por problemas.
Antes do longo inverno, os três fazem um tour para conhecer o Overlook, onde são apresentados ao cozinheiro do hotel, Dick Hallorann, também iluminado. O funcionário logo percebe o dom de Danny, que tem proporções gigantescas, e o presenteia com alguns conselhos em relação ao hotel.
Dick viaja a trabalho para a Flórida, mas ainda tem um papel importante no desfecho do livro, e vocês precisam ler para saber haha. Finalmente sozinhos, a família percebe o que levou ao crime na estação passada. Talvez o Overlook não tenha apenas presenciado às atrocidades, mas tenha uma participação mais sólida neles.
Entre fantasmas, festas à fantasia e até arbustos capazes de se moverem, o livro caminha para a carnificina que a família está destinada a passar no luxuoso prédio. O hotel tem uma presença maligna que está interessada na iluminação da criança.
Não é a toa que esta obra foi uma das responsáveis pelo reconhecimento de Stephen King. Semelhante à temática de clássicos como “A Volta do Parafuso” de Henry James, o livro também aborda locais “assombrados”. Diferente da maioria das obras nessa vibe, o prédio não é somente um ambiente passivo à vontade das aparições. O Overlook é dono do próprio desejo por sangue.
Como uma boa produção de terror, a história que começa feliz – a seu modo, é claro – vai sendo guiada para os acontecimentos sobrenaturais, que vão se fortalecendo junto à nevasca. Como grande parte dos trabalhos de King, o livro também aborda um pouco do pós-terror, relatando as marcas deixadas pelos personagens que sobreviveram ao trauma.
A obra ganhou um filme de mesmo nome, lançado em 1980 e dirigido por Stanley Kubrick. O longa, entretanto, parece relatar mais a problemática do isolamento, isentando um pouco o hotel da culpa. O outro filme da franquia, “Doutor Sono” (resenha aqui), baseado no livro de mesmo nome, também de King, apresenta melhor a ideia do Overlook.
Apesar de eu, particularmente, não considerar a obra tão assustadora quanto “Pet Sematary” (“O Cemitério”, em português), também do escritor, não é surpresa que “O Iluminado” tenha ocupado o imaginário e trazido medos a tanta gente, inclusive ao Joey, lá em cima.
Quanto à escrita simplesmente P-E-R-F-E-I-T-A, nem uma novidade. Poucos conseguem envolver o leitor da forma que Stephen King, consegue. Até parece que estamos ali, correndo o mesmo risco de virar comida de Overlook.
Se você não escondeu o celular no freezer, e chegou até aqui, agradeço. Deixo aqui a minha sugestão de leitura. Nada melhor que um medo fictício para desviar um pouco do terror da quarentena.
No mais, fiquem em casa – a menos que estejam no Overlook – e até a próxima resenha.