O Livro do Cemitério (2010) de Neil Gaiman

Para quem curte livro de fantasia com crianças e personagens extraordinários, a obra de Neil Gaiman com toda certeza é para você. Desde o início quero que saibam, foi uma obra cinco estrelas para mim.

Em “O livro do cemitério”, conhecemos a história de Ninguém Owens, que foi criado desde bebê por criaturas de um cemitério. Logo após seus pais terem sido assassinados e ele conseguir chegar ao cemitério engatinhando sem o assassino vê-lo, chega até um cemitério e os membros de lá fazem uma audiência sobre o futuro da criança. Ficando com o casal Owens e sendo “apadrinhado” por Silas, o responsável pelo cemitério, que o autor não deixa bem claro que criatura é, ficaria responsável pelo seu alimento e bem estar.

O homem chamado Jack era alto. Este homem era mais alto. O homem chamado Jack usava roupas escuras. As roupas deste homem eram mais escuras. As pessoas que viam o homem chamado Jack quando ele estava cuidando de sua vida — e ele não gostava de ser visto — ficaram perturbadas, ou pouco à vontade, ou se achavam inexplicavelmente assustadas. O homem chamado Jack olhou o estranho e foi o homem chamado Jack que ficou perturbado.

Apenas tinha lido de Neil Gaiman “Coraline” e meus contatos anteriores com a obra dele foi quando assisti as adaptações para o cinema de Coraline (2009) e Stardust – O mistério da Estrela (2007) – que são muito bons, por sinal.

O livro começa de uma maneira sombria que pode desagradar algumas pessoas. No entanto, ao lê-lo o que nos salta aos olhos é seu tom melancólico e inocente de criança, cuja sobriedade não consegue alcançar. Pode-se dizer que a grande ironia dessa obra é o fato da vida geralmente terminar num cemitério, mas aqui, ele é o ponto de partida, o lugar onde de fato a vida de Nin começa.

Na medida em que Nin vai crescendo ele vai se questionando sobre o “ir além” das portas do cemitério. Os membros do cemitério, durante a sua vida sempre foram responsáveis pelos ensinamentos. Porém manuais de “atravessar paredes” já não são suficientes para a sua curiosidade. Assim que coloca os pés para fora, acaba percebendo que o mundo dos vivos é muito mais aterrorizante do que o mundo dos mortos. As pessoas são gananciosas, cruéis, enganadoras e querer tirar vantagem de você. Ou que nem todos os colegas da escola querem aprender. Alguns querem apenas fazer o mal.

 

 

 

Você é um ignorante, neném — disse a srta. Lupescu. — Isso é péssimo. E você está satisfeito em ser ignorante, o que é pior ainda. Repita comigo, existem os vivos e os mortos, existem as criaturas do dia e as da noite, existem ghouls e andarilhos da névoa, existem os caçadores das alturas e os sabujos de Deus. E também os tipos solitários.

 

 
Uma coisa que acho muito legal na história é o fato dela enfatizar que nós somos tudo aquilo que aprendemos, as pessoas que conhecemos e as que ainda vamos conhecer. Um lugar não diz respeito a nós, mas que nós mesmos. Não existe para onde correr a não ser encarar as coisas que precisam ser encaradas.

Você está vivo, Nin. Isso quer dizer que tem potencial infinito. Pode fazer qualquer coisa, construir qualquer coisa, sonhar qualquer coisa. Se muda o mundo, o mundo mudará. Potencial. Depois que estiver morto, acabou-se. Foi-se. Você fez o que fez, sonhou seus sonhos, escreveu seu nome. Pode ser enterrado aqui, pode até andar. Mas o potencial foi encerrado.

 

O livro deixa claro que as pessoas mais perigosas são as que estão vivas, não os mortos, e é um livro que mexe com a nossa imaginação, que te faz realmente viajar e imaginar as cenas [como sempre, os livros do Gaiman são assim…]. Fácil de ler, de se identificar, de ficar torcendo pelos personagens e ao mesmo tempo em que se quer saber logo o final. Dá vontade de demorar uma eternidade pra terminar.

Não chega a ser colocado como meu preferido dele, mas com certeza é mais um livro que me deixou com gostinho de “quero mais”. Recomendo para todos que tem curiosidade de como seria ser criado por mortos.

 

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