Depois de mais de 4 anos sem lançar um álbum, Selena Gomez voltou com “Rare”, o terceiro álbum solo de estúdio da cantora, lançado em 10 de janeiro de 2020 através da Interscope Records. Rare vem recebendo críticas positivas e conseguiu a maior nota (até o momento) que a cantora já teve no Metacritic, 76.
Selena afirmou que “Rare” é como um diário dos últimos anos que ela viveu, que contou com acontecimentos como o relacionamento dela com o cantor The Weeknd, as idas e vindas com Justin Bieber, as reabilitações e, até mesmo, uma cirurgia de transplante de rim.
É engraçado notar que a cantora usou o codinome “SG2” para se referir ao “Rare”, que na verdade é o terceiro álbum solo. Isso aconteceu porque o álbum é o seu segundo álbum com a Interscope Records e como produtora executiva com total controle sobre seu material. Inclusive, todas as faixas de “Rare” são compostas ou co-compostas por Selena. Por meio do “SG2”, a cantora ignora o álbum “Stars Dance”. Contudo, caso contemos com os álbuns que a cantora teve no período do grupo “Selena Gomez & The Scene”, o “Rare” é o seu sexto álbum.
As principais temáticas tratadas nas faixas musicais são amor, perda e relacionamento. Selena também comentou que as principais mensagens compartilhadas através das músicas são as de amor próprio, aceitação e empoderamento. A cantora afirma que “Rare” contém as canções mais honestas que ela já fez. O álbum é composto por 13 faixas:
1 – Rare
2 – Dance Again
3 – Look At Her Now
4 – Lose You To Love Me
5 – Ring
6 – Vulnerable
7 – People You Know
8 – Let Me Get Me
9 – Crowded Room (featuring 6LACK)
10 – Kinda Crazy
11 – Fun
12 – Cut You Off
13 – Sweeter Place (featuring Kid Cudi)
“Lose You to Love Me” foi lançado em outubro de 2019 como o primeiro single, alcançando o primeiro lugar na Billboard Hot 100, tornando-se o primeiro single da carreira de Selena a fazer isso. No dia seguinte, “Look at Her Now” foi lançado como um segundo single. O terceiro single escolhido – e o mais atual – foi a faixa-título “Rare”.
Sonoramente, o álbum “Rare” é principalmente pop com dance, mas as faixas também passam por estilos como o R&B, funk americano, disco, reggaeton e latino.
Considerando a superação e o empoderamento temas recorrentes em Rare, adicionamos as faixas “Dance Again” e “Look At Her Now” como mais umas sobre esses temas. “Dance Again” começa calma e meio dark no começo e vai virando uma música animada com influências no disco e no eletrônico. A música utiliza a dança como uma metáfora para a superação e a felicidade.
Já “Look At Her Now” é cantada na terceira pessoa, como se fosse uma narração de uma historinha de uma menina que superou os seus problemas. A faixa também tem uma vibe bem dançante e devo dizer que o refrão dela gruda na cabeça, sério. Passei dias com o “hm hm hm hm hm hm” repetindo na minha mente.
Um destaque do álbum – para mim – é a faixa “Ring”, que possui uma vibe latina bem sensual que inclusive me lembrou da Anitta na música “Pantera” e da Camila Cabello em “Havana”. A música fala sobre a cantora estar pronta para o flerte e novos relacionamentos novamente. Uma coisa massa nela é que a voz de Selena está natural e limpa, parecendo não ter efeitos, o que é impressionante para a cantora, pois ela não é conhecida por seu talento vocal (na verdade ela é mais conhecida pelas falhas em sua voz). Ainda, a faixa tem uma produção bem diferente do resto do álbum, inclusive sonoramente parecida ter sido gravada em outro tempo, como se fosse uma música antiga.
E o que acontece quando Selena pega a vibe latina e mistura com o dance/disco? É a música “Let Me Get Me”. É como se as influências de “Ring” e “Dance Again” tivessem se misturado, mas não bateu muito bem nos meus ouvidos, pois a faixa possui um refrão meio fraco. A cantora conseguiu juntar esses estilos com mais sucesso no seu álbum anterior “Revival” (2015) por meio de faixas como “Me & My Girls” e “Body Heat”. A letra de “Let Me Get Me” é sobre a liberdade adquirida após ganhar uma batalha com si mesmo, algo como a vitória após adquirir o amor próprio.
Outro destaque é a faixa “Vulnerable”, que pelo título imaginei que era uma baladinha, mas estava enganado. A música fala sobre se vale a pena se expor de novo para alguém novo, depois do fim de um relacionamento. No fim, a cantora acredita que vale a pena sim, pois não devemos pensar que os relacionamentos são iguais. Sonoramente, a canção é eletrônica flertando com o reggaeton e o disco. Apesar de não ser uma balada, é uma faixa calma e relaxante. Vocalmente, ela conta com camadas de harmonias vocais da Selena, o que acho angelical. Além disso, podemos ouvir pelo fim da música uns vocais mais fortes da Selena, o que é raro.
Em “Fun”, Selena fala sobre a sua saúde mental de forma humorada por meio de uma música com inspiração no funk americano.
But my kind of trouble likes your trouble too […]
You get me higher than my medication
Traduzindo de forma livre:
Mas o meu tipo de problema gosta dos seus problemas também […]
Você me deixa mais alto que minha medicação
Como a gente pode ver, a cantora menciona a sua condição mental e a relaciona com um relacionamento. Não é uma faixa vulnerável, mas engraçada (o que também pode ser ouvido na produção), assim como o título sugere.
Uma das minhas favoritas do álbum é “Cut You Off”, uma música R&B bem gostosinha e sexy com um solo de guitarra maravilhoso e, ainda, tem Selena cantando com um timbre lindo. A faixa fala sobre cortar alguém da sua vida, indicando a superação de um relacionamento. No final da música, a sua última frase é cortada, o que combina com o título da faixa.
Ela tem uma letra com informações bem específicas:
Gotta chop-chop all the extra weight I’ve been carrying for fourteen-hundred-sixty days
Traduzindo:
Tenho que cortar-cortar todo o peso extra que venho carregando por mil quatrocentos e sessenta dias
Caraca, 1460 dias? Abri uma calculadora e vi que isso são exatos 4 anos. Selena fala sobre seu relacionamento com Bieber, provavelmente, que durou por anos com términos e recomeços. Ainda na letra, a cantora fala “How could I confuse that shit for love?”, “Como pude confundir essa merda com amor?”, pesado né?
Em resumo, “Rare” é um álbum muito bem produzido e coeso, que pega as vivências de Selena nos últimos anos e as apresenta não somente de forma vulnerável, mas também (na maioria das vezes) de forma divertida e descontraída. De fato, pode ser o álbum mais pessoal e vulnerável de Selena Gomez, mas não mostra o nível de vulnerabilidade esperado ao se relacionar com o que a cantora veio experienciando (pelo menos ao meu ver). Afinal de contas, ela quase morreu em 2018 por causa da doença lúpus.
O ponto negativo para esse álbum, em minha opinião, é o fato de ele não apresentar uma maior maturidade sonora ou um trabalho mais minucioso assim como foi entregue por “Revival”, o álbum anterior da cantora. “Revival” parece ter tido um maior trabalho na criação do conceito e na construção das faixas. Diferentemente, “Rare” parece ser um tipo de álbum que daqui a uns meses vai ser esquecido, mas posso me surpreender.
Não estou falando que é um álbum ruim, só não foi tão bom como eu esperei. Vamos ver se ele envelhece bem. Ainda assim, escutei faixas que vou jogar nas minhas playlists. As minhas favoritas são: “Dance Again”, “Look At Her Now”, “Lose You To Love Me”, “Ring”, “Vulnerable”, “Crowded Room” e “Cut You Off”.
Foi uma ótima visita, gostei muito, voltarei assim que
puder..!