Os Testamentos (2019) de Margaret Atwood

 

Bendito seja o fruto! 
Caro leitor,
A obra de hoje é a continuação do best-seller “O Conto da Aia”, “Os Testamentos” é sem dúvida o livro mais aguardado de 2019. Ele chegou ao Brasil em meados de novembro, dois meses após seu lançamento nos Estados Unidos, e esse curto espaço de tempo deve-se não só a expectativa que o cerca, como também a ocasião bastante oportuna, isto é, o final de ano marcado pelas boas vendas.
Por sinal, uma expectativa embasada, à medida que o romance venceu o prestigiado Booker Prize de 2019 e tem merecido elogiosas críticas. De acordo com Margaret Atwood, a autora, sua proposta foi criar uma narrativa que respondesse a uma série de questionamentos levantados pelos leitores durante quase 35 anos, período que reporta à primeira edição de “O Conto de Aia”. Entretanto, oficiosamente, há de se considerar que o grande sucesso da série homônima (adaptada para TV) também deve ter pesado em sua decisão.

– as coisas importantes que os homens faziam, importantes demais para mulheres se meterem porque possuíam cérebros menores, incapazes de formar pensamentos mais amplos, segundo a Tia Vidala, que nos ensinava Religião.

Nesse novo livro, a protagonista é a República de Glilead. Situada na Nova Inglaterra num futuro próximo, trata-se de uma teonomia totalitária fundamentalista cristã que derrubou os Estados Unidos. Apresentada por intermédio de três testemunhos, o resultado é uma história aterradora sobre sua ascensão e queda.
Quanto sua estrutura, tal qual em “O Conto da Aia”, a voz narrativa é a primeira pessoa, realizada a partir de antigos registros que foram encontrados séculos depois dos acontecimentos relatados. Todavia, dessa vez não são transcrições de gravações mas um diário e dois depoimentos. O resultado são relatos independentes cujos trechos vão se revezando, até convergirem para 15 ou 16 anos depois da fuga incerta de June ou Offred.
O diário pertence a maquiavélica Lydia, a líder das Tias e a única personagem que faz parte dos dois livros. Seu principal enfoque é o passado, isto é, de que maneira uma competente juíza tornou-se um instrumento da tirania de um patriarcado. Indubitavelmente, é o testemunho mais complexo e, se suas ações podem ser explicadas, jamais podem ser justificadas.

Eu sempre fazia hominhos de massa, nunca mulherzinhas, porque depois de assados eu os comia, e isso me dava a sensação de que eu tinha um poder secreto sobre os homens.

Já os depoimentos se referem a duas jovens envolvidas numa audaciosa conspiração que centraliza a ação no último terço do romance. A primeira chama-se Agnes Jemina e é a filha de um importante Comandante. Nascida e criada em Gilead, ela desconhece outra realidade e não se dá conta que, privada de liberdade, não passa de uma prisioneira com regalias que não estão disponíveis para a maioria da população. A outra testemunha é Daisy, uma adolescente rebelde que vive no Canadá e é superprotegida pelos pais. Ela tem noção do que ocorre do outro lado da fronteira, como também, seu testemunho exibe questões típicas de sua idade, o que traz certa leveza a história, mas indiscutivelmente é tão crucial quanto os demais.

O mais alarmante eram meus seios crescendo, e pelos começando a nascer em áreas do meu corpo em que nos aconselhavam a não prestar atenção: pernas, axilas, e a parte pudenda que merece tantos nomes evasivos. Uma vez que a menina entrasse nessa fase, ela não era mais uma or valiosa: era uma criatura perigosa.

Reunindo uma boa dose de suspense, “Os Testamentos” atendeu minhas expectativas. Difícil de largar antes do final, ele tem entre seus méritos escapar da obviedade, que seria prosseguir com a saga de Offred. Outro ponto positivo é o combate a qualquer forma de opressão e a defesa valores primordiais, como liberdade e igualdade, em especial, das mulheres. Enfim, Atwood soluciona muitos pontos em aberto, porém ainda há material a ser explorado, inclusive, surgem novas perguntas e onde se faz necessário um terceiro livro!
Para amantes de distopias esta continuação sem dúvidas vai fazer vocês desejarem logo uma continuação, assim como eu estou louca para tal, de tão rápido que vão acabar esta obra.
Ps: vale ressaltar que ele traz também muito da série televisiva, incorporando personagens que até então não havia na primeira obra.

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